Os freios intraorais são estruturas normais da cavidade bucal. Consistem em pregas de tecido conjuntivo localizadas na linha média, que ligam os lábios e a língua à mucosa gengival. Quando são hipertróficos e provocam dificuldades estéticas ou funcionais, podem ser tratados por meio de diferentes procedimentos:
- Frenectomia – remoção cirúrgica do freio
- Frenulotomia (ou frenotomia) – incisão do freio
- Frenuloplastia – rearranjo do freio
Este tema é polêmico. Nos últimos anos, houve um aumento nos encaminhamentos para frenectomia. No entanto, em muitos casos, o procedimento tem sido realizado desnecessariamente.
O paradigma atual para resolver controvérsias na área da saúde é a Prática Clínica Baseada em Evidências. Nessa abordagem, as pesquisas científicas mais robustas são analisadas por clínicos experientes para determinar a melhor solução individualizada para cada paciente.
O objetivo deste artigo é utilizar essa metodologia para esclarecer as indicações da frenectomia de freios intraorais.
1. Frenectomia do Freio Lingual Hipertrófico (Anquiloglossia)
A Academia Americana de Otorrinolaringologia (AAO-HNSF) patrocinou uma pesquisa na qual especialistas realizaram uma revisão sistemática sobre a anquiloglossia, a fim de estabelecer consensos. Os principais achados foram:
- A anquiloglossia é uma condição em que o freio restringe a mobilidade da língua.
- Mesmo quando a anquiloglossia dificulta a amamentação, o problema pode se resolver sem necessidade de frenectomia.
- Em crianças mais velhas, com preocupações sobre dicção e fala, a avaliação fonoaudiológica deve ser realizada antes de se considerar a frenectomia.
- Não há idade máxima para a realização da frenectomia, tampouco um procedimento padrão recomendado.
- A frenectomia é geralmente segura, mas pode apresentar contraindicações, como:
- Retrognatia (recuo da mandíbula)
- Desordens neuromusculares
- Hipotonia
- Coagulopatias
- Possíveis complicações incluem hemorragia, obstrução das vias aéreas e lesões em estruturas salivares.
- Não há consenso sobre a realização do procedimento em consultório ou centro cirúrgico.
- Apesar do uso crescente do laser, ainda não há evidências de que essa técnica seja superior às outras, nem existe um protocolo padronizado de pós-operatório.
2. Frenectomia do Freio Labial Superior
A mesma pesquisa patrocinada pela AAO-HNSF abordou o tema da frenectomia do freio labial superior, com os seguintes achados:
- O freio labial superior é uma estrutura normal na infância, e não há evidências de que esteja relacionado a dificuldades na amamentação.
- Realizar frenectomia em crianças com dentição decídua (de leite) não previne o surgimento de diastema (espaço entre os incisivos superiores).
Um estudo adicional analisou a visão dos ortodontistas sobre o tema e trouxe outros pontos importantes:
- O diastema entre os incisivos centrais superiores geralmente diminui espontaneamente com a erupção dos caninos superiores.
- Para diagnosticar uma inserção atípica ou hipertrófica do freio labial superior, deve-se tracionar o lábio superior e verificar se o freio fica isquemiado (branqueado pela pressão).
- Não se deve realizar frenectomia sem estar associada ao tratamento ortodôntico para fechamento do diastema.
- O momento ideal para a frenectomia é após o fechamento ou um pouco antes do fechamento do diastema.
- Para evitar que o diastema reabra após o procedimento, recomenda-se o uso de contenção fixa.
Considerações Finais
As pesquisas com melhor nível de evidência ainda não fornecem respostas definitivas sobre as indicações da frenectomia.
Isso significa que pacientes com freios intraorais hipertróficos devem ser avaliados por uma equipe multidisciplinar, incluindo médico, cirurgião-dentista e fonoaudiólogo, para determinar se suas condições individuais justificam a realização do procedimento.
A partir de um diagnóstico aprofundado, será possível definir:
- Se a frenectomia é realmente necessária
- Qual técnica cirúrgica é mais apropriada
- Quais cuidados devem ser tomados antes e depois do procedimento
A decisão pela frenectomia deve ser pautada na Prática Clínica Baseada em Evidências, garantindo um tratamento individualizado e seguro para cada paciente.
Dr. Hiroshi Maruo – CRO/PR 1.627
Odontólogo
Dr. Ivan Toshio Maruo – CRO/PR 15458
Cirurgião Dentista