Os impactos negativos da solidão

Reflexões sobre um mal silencioso que atinge todas as idades

Os diferentes estudos apontam para uma preocupação que passou a fazer parte das inquietações governamentais: a questão da solidão. Embora esse tema sempre tenha sido tratado pela psicologia e psiquiatria, ligado às questões emocionais, comportamentais e psicológicas, estudos e exames mais aprofundados nos revelam dados que merecem maior investigação, pois parecem bastante preocupantes.

A solidão passou a ser vista como uma condição grave, em que a pessoa se afasta social, física e emocionalmente, o que pode levar a diversos quadros clínicos sérios. O indivíduo vai deixando de manter contato e vínculos com as pessoas que faziam parte do seu entorno familiar e social. Muitas vezes, esse sintoma é causado por uma forte depressão, que leva a pessoa a se afastar cada vez mais de todos os vínculos.

Alguns estudos mostram que a solidão não ocorre apenas em adultos. Nas crianças, o isolamento pode levar a dificuldades de aprendizagem, além da ausência de amizades escolares. São inúmeros os fatores que impedem as crianças de desenvolverem uma socialização mais ampla, e que merecem ser cuidadosamente observados por profissionais da área de saúde mental.

Na adolescência, é natural que o jovem busque momentos de isolamento como parte do processo de transformação dessa fase, conquistando aos poucos sua autonomia e seu espaço na família e no mundo. No entanto, há uma linha tênue entre um afastamento saudável e um mergulho excessivo no universo virtual. Muitos adolescentes, mesmo cercados de amigos, vivenciam um profundo sentimento de solidão, especialmente quando enfrentam períodos de vulnerabilidade que exigem a atenção e o cuidado dos pais. Essas mudanças abruptas podem estar relacionadas a fatores de risco, como o uso de drogas e outras substâncias, tornando essencial a observação atenta de pais e cuidadores. Além dos adolescentes, as crianças também necessitam de acompanhamento psicoterapêutico, que as auxilie a construir uma percepção mais saudável de si mesmas e do mundo ao seu redor.

Nos adultos, são inúmeros os fatores que podem levar a estados de isolamento. Muitas vezes, existe uma autocobrança enorme entre o que gostaríamos de ser e aquilo que realmente conseguimos ser. Quadros anteriores de depressão e outras síndromes (angústias, fobias, medos) podem se acentuar devido a situações pontuais, como a perda do trabalho, que leva muitas pessoas ao afastamento social. O término de um relacionamento ou a entrada na velhice também podem ser fatores desencadeantes para que o indivíduo não se sinta com forças para enfrentar seu entorno social. A aposentadoria, o medo da morte, o medo da perda de bens financeiros e a saída dos filhos de casa são alguns dos fatores que podem levar ao desenvolvimento de mecanismos de afastamento.

As autoridades de vários países se deram conta de quão difícil e perigosa é a solidão, principalmente nos idosos, que acabam cometendo um número altíssimo de suicídios. A sociedade precisa refletir sobre a necessidade de um olhar mais próximo e cuidadoso para aqueles que já não estão mais aptos a conviver em grupos e acabam por buscar o isolamento.

Podemos pensar que essa solidão também é um sintoma de uma sociedade adoecida, que exige altos padrões de desempenho e sucesso para todos. Países que criaram o “Ministério da Solidão”, como o Japão, que possui uma grande população longeva, buscam conscientizar a população sobre a importância da integração comunitária, alertando para os problemas do isolamento e promovendo práticas que envolvam a sociedade como forma de reintegração e promoção de saúde coletiva.

Aqui no Brasil já existe uma grande preocupação com o isolamento e o impacto desse “adoecer social”. É necessário um olhar abrangente que envolva a família, a sociedade, os recursos terapêuticos e psiquiátricos, bem como todas as formas integrativas nessa luta. Afinal, solidão é diferente de solitude — que representa momentos em que escolhemos ficar na própria companhia, desfrutando de silêncio, introspecção e música.

Dorli Kamkhagi CRP 15511
Doutora em Psicologia Clínica
Mestre em Gerontologia