Agora é a vez do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ocupar o palco mundial que pertenceu a Bashar al-Assad nos últimos dias: ele começará a ser julgado, nesta terça-feira, por três casos de corrupção e suborno, no subterrâneo de um Tribunal Distrital de Tel Aviv. Contra ele já foi expedido um mandado de prisão pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), acusado de crimes de guerra em Gaza.
Netanyahu fez todo o possível para não comparecer ou adiar o seu julgamento no processo que já corre há oito anos. Propôs que ele recomeçasse em fevereiro de 2025. Alegou estar impedido pela guerra que enfrenta Israel. Acenou para um atentado contra ele, se comparecer em lugar predeterminado, e em hora certa. Lembrou que o Hezbollah enviou um drone explosivo para sua casa em Cesárea. Exerceu pressão com seu poder político de primeiro-ministro. E vingou-se, via Ministério da Justiça, de quem o acusou e “humilhou”.
Negados todos os subterfúgios, seus advogados tentaram ainda alterar a agenda prevista, evitando que Netanyahu compareça ao tribunal todos os dias, mas só duas vezes por semana. Os juízes determinaram três audiências semanais. A procuradora-geral Gali Baharav-Miara tem resistido às ameaças da coligação governamental, que a tenta derrubar.
Protegido por agentes do Shin Bet, o serviço de espionagem interno israelense, Netanyahu vai comparecer nesta terça-feira ao mesmo local blindado em que foi julgado o chefe de uma gangue assassina em Israel, Yitzhak Abergil, em Tel-Aviv. E poderá acabar na ala 10 da prisão de Maasiyahu, a mesma em que ficou seu antecessor, Ehud Olmert. São previsões do jornalista Gidi Weitz num longo artigo publicado, na semana passada, pelo jornal Haaretz.
São três os casos em que Netanyahu é réu, denominados Caso 1.000, Caso 2.000 e Caso 4.000. Acusação no caso 1.000: ele teria recebido presentes de alto valor, como champanhe e charutos, avaliados em 200 mil dólares (cerca de 1,3 milhão de reais), oferecidos por empresários e pelo produtor de cinema Arnon Milchan. Em troca, foram concedidos benefícios fiscais de milhões de shekalim (shekel, a moeda de Israel). O Caso 2.000: Netanyahu é acusado de ter negociado com o editor do jornal Yediot Ahronot a troca de cobertura favorável por uma legislação que prejudicaria o jornal concorrente. O caso 4.000 é considerado o mais grave: Netanyahu teria favorecido a empresa de telecomunicações Bezeq em decisões regulatórias em troca de uma cobertura positiva no site Walla (que pertence a acionistas da Bezeq).
O primeiro-ministro Netanyahu nega todas as acusações, atribuindo-as à “caça às bruxas”. Na parte inicial do julgamento, ele será convidado a desempenhar o papel de que mais gosta: falar de si mesmo, aproveitando para lamentar a perseguição que tem sofrido com sua família. Em seu artigo no Haaretz, Weitz escreve que “Netanyahu terá de fazer um esforço mental supremo para mostrar credibilidade, uma tarefa difícil, considerando suas mentiras durante o interrogatório policial.”
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O artista Eric Drooker contou à editora de Arte da New Yorker, Françoise Mouly, que pensa como uma criança que vive num apartamento do sétimo andar em Nova York, sem chaminé: “Espero que papai noel saiba qual botão do elevador apertar”. É dele a capa de Natal da revista desta semana.
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