Israel reforçou hoje o ultimato do presidente Donald Trump ao Hamas, feito ontem: o cessar-fogo em Gaza vai ser substituído pelo reinício da guerra, no sábado, se não houver a libertação de reféns prevista no acordo em vigor há três semanas. A diferença entre os dois ultimatos está em que o governo israelense não exige que “todos os reféns” sejam liberados, nem fixa o meio-dia e meia como prazo final.
Na Casa Branca, o rei Abdullah, da Jordânia, ofereceu ao plano de Trump de deslocar dois milhões de palestinos de Gaza a acolhida a duas mil crianças doentes. O presidente anfitrião elogiou o “lindo gesto”, mas insistiu em que vai limpar as ruínas de Gaza para criar a Riviera do Oriente Médio. O presidente egípcio será o próximo visitante da Casa Branca.
Até o final da primeira fase do acordo de cessar-fogo deveriam ser libertados 17 reféns – nove vivos e oito mortos. E Israel, 1.904 prisioneiros palestinos, incluindo 737 condenados à prisão perpétua. Para a segunda fase, a ser ainda negociada, restariam 59 reféns e a obrigação de retirada total de Gaza das forças israelenses.
Um time de Israel partiu para iniciar uma rodada de negociações com os mediadores do Catar, Egito e EUA, em Doha. Foi mais para ouvir, sem autonomia para tomar decisões. O frágil cessar-fogo está ameaçado, desde que o Hamas anunciou, na segunda-feira, que adiaria novas trocas de reféns por prisioneiros por causa de violações por parte das tropas israelenses, que teriam matado 92 palestinos, segundo o Ministério da Saúde do Hamas, desde que o acordo entrou em vigor, há três semanas, e bloquearam a entrada de tendas. As acusações foram rejeitadas pelo governo israelense.
A reunião do gabinete de segurança, em Jerusalém, apoiou, por unanimidade, o ultimato de Trump para que todos os reféns israelenses sejam libertados no sábado. Os ministros também apoiaram a “visão revolucionária” para o futuro de Gaza. Cada palavra do comunicado foi cuidadosamente escolhida pelo porta-voz israelense. Além deles, todos os ministros foram proibidos de dar declarações à imprensa.
O Hamas reagiu ao ultimato de Trump dizendo que “só complica a situação”. E acrescentou que “Trump deve se lembrar de que há um acordo que deve ser respeitado por ambas as partes” – a única maneira de libertar os reféns. “A linguagem de ameaças não tem valor”, concluiu. O secretário da ONU, António Guterres, apelou ao Hamas e a Israel que cumpram o acordo, “evitando a retomada de hostilidades que pode levar a uma imensa tragédia”.
Dizia-se que o rei Abdullah teria que se desviar de uma bala disparada contra ele – a bala seria o pedido de Trump para a Jordânia receber parte dos dois milhões de palestinos de Gaza. Uma bala mortal porque o reino já viveu uma sangrenta experiência em acolher e depois expulsar palestinos em 6 de setembro de 1970, o “Setembro Negro”, com 3 a 5 mil mortos. Em jogo estaria a ajuda militar dos EUA de 1,5 bilhão de dólares por ano. Metade dos 12 milhões jordanianos é de palestinos, com 700 mil refugiados da Síria.
O rei escapou com a oferta de receber duas mil crianças doentes. Mas ele não convenceu o presidente Trump que, sentado ao lado dele e do príncipe Hussein, o filho herdeiro, repetiu à imprensa que vai assumir Gaza e que encontrará espaços na Jordânia e no Egito para reassentar os palestinos. Quando perguntado o que achava do plano da Riviera do Oriente Médio, o rei foi diplomático: “Acho que a questão é como fazer isso funcionar de uma forma que seja boa para todos. Obviamente, temos que olhar para os melhores interesses dos Estados Unidos, das pessoas da região, especialmente para o meu povo da Jordânia.”
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da BandNews TV