A tentativa de golpe na Coreia do Sul, via Lei Marcial, ontem, virou contra o golpista, o presidente Yoon Suk Yeol: ou ele renuncia ou será impichado. Os sul-coreanos nas ruas, e a oposição majoritária na Assembleia Nacional, estão exigindo uma das duas alternativas.
O presidente Yoon, de repente, na terça-feira, chocou a Coreia do Sul, anunciando pela TV a entrada em vigor da Lei Marcial, só usada no final da década de 80, numa ditadura militar. Ele a justificou como proteção contra “os comunistas” da vizinha Coreia do Norte, mas seu objetivo, na verdade, seriam os jornais, jornalistas e a oposição na Assembleia Nacional, acusada de não deixá-lo governar. Os deputados reagiram e aprovaram, pouco tempo depois, uma resolução anulando a Lei Marcial.
Manifestações nas ruas, soldados confrontando parlamentares diante da Assembleia Nacional, o presidente Yoon, pela Constituição, seria obrigado a aceitar a decisão do Parlamento. Ao amanhecer, ele anunciou a extinção da Lei Marcial. Durou seis horas apenas, mas suas consequências continuam e já o deixaram mais isolado que sempre em seu mandato iniciado em 2022.
Os protestos desta noite, no horário de Seul, não se limitam mais a opositores políticos. Estudantes saíram às ruas, médicos e vários sindicatos estão marcando greves. A oposição na Assembleia Nacional retomou os preparativos para investigar a primeira-dama por corrupção e demitir ministros por abuso de poder. Cerca de 10 mil pessoas, segundo os organizadores, ou dois mil, pelo número da polícia, cantam bordões contra Yoon nas ruas. O ministro da Defesa, Kim Yong-hyun, ofereceu a sua renúncia.
Para derrubar o presidente o parlamento precisa de 200 de seus 300 votos. O partido do presidente tem 108 deputados, e assim alguns teriam que votar com a oposição, como aconteceu para anular a Lei Marcial, que contou com o total de 190 votos. A Corte Constitucional sul-coreana tem que aprovar o impeachment, depois, em julgamento, para que ele seja cumprido.
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Trump ameaça um “inferno” na Terra Santa
Depois que o presidente eleito Donald Trump prometeu o “inferno” na Terra Santa, caso os reféns israelenses do Hamas não sejam libertados até sua posse, em 20 de janeiro, uma delegação de Israel deverá partir para o Egito, nesta quinta-feira, e retomar as negociações de cessar-fogo em Gaza e troca de reféns por prisioneiros palestinos.
O envio da delegação israelense é um sinal importante, porque Israel dizia que só iria ao Egito se houvesse algum progresso nas preliminares entre negociadores egípcios e palestinos do Hamas. À mesa está o rascunho de um novo acordo preparado pelo Egito.
Os israelenses serão chefiados pelo chefe do serviço de inteligência doméstico, o Shin Bet, Ronen Bar, e incluirá “um enviado especial”, segundo o jornal al-Araby al-Jadeed. Depois do fracasso das últimas rodadas de negociações, o Catar expulsou os líderes políticos do Hamas que viviam no país, e avisou que não participaria mais se não houvesse progressos substanciais para levar adiante um acordo.
A Turquia entrou no lugar do Catar, hospedando os membros expulsos do Hamas. O presidente turco Recep Erdogan e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, têm se insultado publicamente, inimigos de longa data. Já não se esperava mais o reinício de negociações até a posse de Donald Trump. Mas com o cessar-fogo no Líbano, o Hamas ficou mais isolado, sem o Hezbollah e o Irã. Em conversas com o Fatah, a base da Autoridade Palestina em Ramallah, os dois grupos, separados pelo líder Yahya Sinwar, morto recentemente, decidiram que podem se unir para governar Gaza, quando Israel se retirar, se realmente Netanyahu se retirar.
A assessoria de Trump entrou em contato com o ex-ministro da Defesa Yoav Gallant para obter informações sobre o estado das negociações para a libertação dos reféns. Foi quando o presidente eleito declarou que haverá “um inferno” se os reféns não forem libertados, antes ainda que assuma a presidência.
O refém israelense-americano Omer Neutra, que se contava entre os vivos no cativeiro de Gaza, foi dado como morto durante a invasão do Hamas, em 7/10/2023, nesta semana. A comunidade judaica de Long Island, nos EUA, organizou um memorial em que o tratou como heroi, um soldado solitário que comandava um batalhão de tanques. O presidente Biden deplorou a morte anunciada, quando se esforçava para libertá-lo, com outros americanos reféns. E ele não perdeu a esperança de concluir um acordo até o último minuto de seu mandato, como o fez com o acordo de cessar-fogo no Líbano.
O ministro da Defesa, Israel Katz, confirmou que “há uma chance de que possamos realmente avançar em um acordo de reféns com o Hamas”, ao visitar nesta quarta-feira a Base Aérea de Tel Nov. “A coisa mais importante hoje na guerra é trazer os reféns para casa. Este é o objetivo supremo que está diante de nós e estamos trabalhando de todas as maneiras para que isso aconteça”. O presidente israelense Isaac Herzog surpreendeu Donald Trump ao lhe dizer que metade dos 97 reféns em Gaza está viva, quando ele pensava que todos estivessem mortos.
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Cai o mais curto governo francês
Com os votos de 331 deputados, mais que a maioria exigida, o parlamento francês derrubou o governo do primeiro-ministro Michel Barnier, empossado há três meses. Foi o primeiro voto de desconfiança na França em mais de 60 anos. E o mais curto.
O presidente Emmanuel Macron desembarcava na Árabia Saudita no momento do voto em Paris. Ele terá que nomear um novo primeiro-ministro. A França está sem orçamento, instável, a dívida elevada e um déficit cada vez maior, o que contagia os mercados financeiros da zona do euro.
Barnier usou uma ferramenta constitucional para forçar a aprovação de uma proposta orçamentária sem submetê-la à câmara baixa do Parlamento. Ela não está valendo mais, com o voto que o derrubou.
A maioria de 331 votos foi obtida depois que o Reagrupamento Nacional, de extrema direita, liderado por Marine Le Pen, aderiu à moção de esquerda.
É provável que Barnier seja mantido como primeiro-ministro interino até ser eleito o seu substituto. Quando Macron o escolheu, depois da vitória de uma coligação de esquerda no segundo turno das eleições legislativas, em 7 de julho, ele foi recebido como uma provocação, sendo de centro-direita. O partido socialista “nunca o viu em ação, uma vez que nunca procurou o menor compromisso com a esquerda”, disse o líder dos deputados socialistas, Boris Vallaud.
Barnier achou que ia prevalecer e continuaria como primeiro-ministro. Ofereceu concessões. Descartou impostos sobre eletricidade. O orçamento, que previa 60 bilhões de dólares (ou 362,4 bilhões de reais) em cortes de despesas e aumentos de impostos, foi considerado “profundamente injusto para com os franceses”, segundo Le Pen.
O sucessor de Barnier mais cotado, por enquanto, é o ministro da Defesa, Sébastien Lecornu. O presidente Macron marcou um discurso à nação nesta quinta-feira, às 20h, horário de Paris.