Moisés Rabinovici: Adeus aos sobreviventes de Auschwitz

80 anos da libertação de Auschwitz; Evento marca o fim de uma era com menos de 50 sobreviventes presentes

A cerimônia dos 80 anos da libertação do campo de extermínio de Auschwitz, símbolo do holocausto nazista em que 6 milhões de judeus foram mortos, contou com dezenas de líderes mundiais e menos de 50 sobreviventes — últimas testemunhas que estão desaparecendo, com a idade média de 86 anos.

Não houve discursos políticos. Os sobreviventes acenderam velas amparados por jovens, perto de uma câmara de gás e crematório em Auschwitz, o nome que os alemães deram para a cidade polonesa de Oswiecim, na Polônia ocupada de 1939-45.

A casa em que o comandante de Auschwitz, Rudolf Höss, levava uma vida à parte dos gritos das câmaras de gás e da fumaça dos fornos crematórios, separada apenas por um muro, exibida no filme “Zona de Interesse”, foi aberta ao público. Agora, ela é um centro de pesquisa sobre extremismo e radicalização, num mundo assustado com políticos radicais, saudações nazistas, grupos neonazistas e crescente nacionalismo.

As tropas ucranianas do Exército Vermelho encontraram sete mil prisioneiros moribundos quando entraram no campo de Auschwitz-Birkenau, em 27 de janeiro de 1945. Montanhas de cabelos, sapatos, bengalas, óculos, cadeiras de roda e próteses, câmaras de gás, fornos crematórios e centenas de corpos não puderam ser eliminados a tempo pelos nazistas em fuga, como Adolf Hitler havia ordenado, para que seus crimes de guerra não fossem descobertos.

Hoje, Auschwitz-Birkenau é um museu de horrores do nazismo. Aqui foram mortos 1 milhão de judeus e 300 mil outras pessoas, entre elas crianças, homossexuais, ciganos, testemunhas de Jeová e quem tivesse alguma deficiência.

A cerimônia deste ano deve ser a última com a presença de sobreviventes do nazismo, calculados em 270 mil no mundo, dos quais 300 no Brasil. No aniversário dos 70 anos, 300 estiverem presentes. Agora, nos 80 anos, apenas 50. As testemunhas vivas do holocausto nazista estão desaparecendo.

(Eu estive em Auschwitz há dois anos. Como sou filho de refugiados do nazismo, fiquei muito abalado. Entendi o trauma que assombrou minha mãe até morrer. Mesmo tendo escapado, ela não conseguiu se libertar do trauma nazista, como a maioria dos sobreviventes).