Moisés Rabinovici: Miragens de Trump no Oriente Médio

Proposta de deslocamento para Egito e Jordânia é rejeitada; chanceler iraniano ironiza e sugere transferência de israelenses para a Groenlândia
Reprodução: BandNews TV

Em vez de transferir os palestinos de Gaza para o Egito e a Jordânia, por que não levar os israelenses para a Groenlândia? A sugestão foi feita pelo chanceler iraniano Abbas Araghchi, indiretamente, ao presidente Donald Trump.

A sugestão de “limpar” Gaza, feita por Trump no sábado, foi rejeitada pelo Egito e Jordânia, mas agradou a extrema-direita israelense, favorável à “migração voluntária” dos palestinos. Trump não desistiu: disse que falará de novo com o presidente egípcio Abdel-Fatah El Sissi e o rei Abdullah, da Cisjordânia.

“Gostaria que os palestinos morassem onde possam viver sem interrupção, revolução e violência”, disse Trump, para quem Gaza, “um inferno há tantos anos”, não passa hoje de um “local de demolição”.

É provável que o presidente Trump receba o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu neste domingo. Os Estados Unidos não o prenderão porque não fazem parte do Tribunal Penal Internacional, da ONU, que expediu um mandado de prisão contra ele, acusado de genocídio. O encontro previsto entre os dois líderes aliados gerou a especulação de que a remoção dos palestinos de Gaza era uma ideia conjunta dos EUA e Israel.

Mesmo a transferência provisória de civis palestinos para fora de Gaza, no deserto do Sinai, durante a guerra agora em cessar-fogo, já havia sido rejeitada por várias nações árabes, por temor de que se tornasse permanente. A mudança definitiva para o Egito e Jordânia “não é viável”, diz o senador Lindsey Graham, próximo a Trump, a quem sugere: “Vá falar com Mohammed Bin Salman, da Arábia Saudita, e líderes dos Emirados Árabes Unidos e do Egito. Qual o plano deles para os palestinos? Eles querem que todos saíam de Gaza? ”

O ministro das Finanças israelense, Bezalel Smotrich, que promete renunciar se Netanyahu não recomeçar a guerra em Gaza ao final das seis semanas de cessar-fogo, aprovou a ideia: “Após 76 anos em que a maior parte da população de Gaza foi mantida à força, em duras condições, para cumprir a ambição de destruir o estado de Israel, a ideia de ajudá-los a encontrar outros lugares para começar uma vida nova e boa é uma ótima ideia”.

A mudança dos palestinos de Gaza para o Egito e Jordânia, o resgate do Canal do Panamá e a conquista da Groenlândia e do Canadá são as principais ambições de Trump em sua política externa. Mesmo que todas já tenham virado até piada, ele insiste em persegui-las.

Na realidade, há problemas mais urgentes no Oriente Médio: haverá uma segunda fase de cessar-fogo em Gaza? Israel terá luz verde para atacar as usinas nucleares do Irã? Os acordos de Abraão serão estendidos à Arábia Saudita? A solução de dois estados, um palestino e outro israelense, continuará sendo a base para um acordo de paz permanente? E os reféns de Israel que continuarão com o Hamas se as negociações mediadas pelo Egito, Catar e Estados Unidos não forem renovadas? As respostas dependem de Trump parar de ver miragens.