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Irã e Estados Unidos iniciam a busca de um acordo

Primeiro contato direto entre Irã e Estados Unidos é breve e simbólico após rodada de negociações indiretas “positivas”.

Foram duas horas e meia de conversas indiretas, “positivas”, que continuarão no próximo sábado — e, no final, alguns minutos de encontro direto entre o chanceler iraniano, Abbas Araghchi, e o negociador estadunidense, Steve Witkoff, diante de câmeras, para não desmentir o presidente Donald Trump, que anunciara, na segunda-feira, na Casa Branca, a primeira “grande reunião direta” entre o Irã e os EUA.

Em Teerã, manifestantes protestaram contra o início das negociações com cartazes que diziam: “Assinaremos um acordo nuclear e eles (os EUA) novamente o rasgarão”; “Morte a Israel”; “Não fomos beneficiados pelo acordo nuclear — as pessoas não são estúpidas”; e “é proibido falar com o assassino do querido Hajj Qassem (Soleimani)!”, assassinado por um drone dos Estados Unidos, em janeiro de 2020, quando deixava o aeroporto de Bagdá.

No Air Force One, na sexta-feira à noite, o presidente Trump disse aos passageiros da imprensa: “Quero que o Irã seja um país maravilhoso, ótimo e feliz, mas ele não pode ter arma nuclear”. Se tiver, será a guerra, a qual ele prometeu que Israel teria o papel de líder. O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu estava ao lado dele, no Salão Oval, no papel-surpresa de avalista das intenções americanas de assinar um acordo do qual ele se retirou em 2018, depois de anos de negociações envolvendo a Rússia, China e vários países europeus. Para mostrar seus músculos, os EUA despacharam dois porta-aviões para o Mediterrâneo, e pousaram aviões bombardeiros estratégicos na ilha de Diego Garcia.

O Irã tem estoque de urânio enriquecido em até 60%, o que dá para produzir até seis bombas nucleares. No acordo de 2015, ele concordou em manter um pequeno estoque de urânio enriquecido em até 3,67%. Agora, porém, os negociadores iranianos estão querendo manter um estoque de urânio de até 20%, alegando que seu desenvolvimento nuclear tem fins civis. O líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, sabe que não tem muito poder de negociação. A economia vai muito mal, mais sanções foram impostas pelos EUA na semana passada, e sua força militar perdeu o Hezbollah, o Hamas, a Síria e está perdendo os Houthis iemenitas. Seu aliado, o czar russo Vladimir Putin, está conversando com o “grande satã”, EUA, sobre a Ucrânia, e manteve as bases naval e aérea na Síria, depois da queda do ditador Bashar al-Assad.

Especialistas israelenses em Irã preveem que o principal objetivo iraniano nos encontros que continuarão indiretos, no sábado que vem, será prolongar ao máximo as negociações. Enquanto elas durarem, Israel estará preso ao compromisso de não atacar. E se os EUA e Irã, sob o imprevisível Trump, concluírem um acordo que não agrade Israel, o primeiro-ministro Netanyahu terá que dar os parabéns e cruzar os braços. Ele sabe o que significa contrariar seu amigo Trump. Ao tempo em que o ex-presidente Obama fechava o acordo nuclear iraniano, Netanyahu o desafiou em discurso no Congresso, em Washington.

Essa primeira reunião indireta, com minutos de um encontro direto, em Mascate, no sultanato de Oman, serviu para estabelecer a confiança entre as partes. A delegação iraniana falou em “desescalada” e que não quer negociações infrutíferas e perda de tempo, ecoando o desejo dos EUA de chegar a um acordo nuclear “o mais rápido possível”. O chanceler omaniano, Badr Albusaidi, foi quem ficou entre os dois times, americano e iraniano, em um corredor entre duas salas.

O porta-voz da delegação do Irã, Esmail Baghaei, postou na plataforma X: “O objetivo da República Islâmica do Irã é muito claro — temos apenas um objetivo, que é salvaguardar os interesses nacionais do Irã. Estamos dando uma oportunidade genuína e honesta à diplomacia para que, por meio do diálogo, possamos avançar na questão nuclear, por um lado, e o mais importante para nós, suspender as sanções”.

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