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Falta de acessibilidade é o principal problema das ruas nas cidades brasileiras, aponta Censo

Pesquisa do IBGE analisou 86% da população nacional, o que equivale a 174 milhões de pessoas.
Foto: Agencia Brasil

A estrutura das ruas em áreas urbanas no Brasil continua longe de garantir condições básicas de acessibilidade, conforto e segurança para a população. É o que mostra o levantamento “Características Urbanísticas do Entorno dos Domicílios”, divulgado nesta quinta-feira (17) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base nos dados do Censo Demográfico de 2022. A pesquisa analisou a realidade de mais de 63 milhões de domicílios em regiões com características urbanas, abrangendo 86% da população nacional, o que equivale a 174 milhões de pessoas.

Os dados revelam que, embora a maioria da população viva em ruas pavimentadas e com iluminação pública, o cenário muda quando se trata de acessibilidade e mobilidade. Apenas 15% das pessoas moram em vias com rampas de acesso para cadeirantes, enquanto 19% estão em ruas com calçadas livres de obstáculos. A presença de árvores também é limitada, um terço dos brasileiros vivem em trechos sem nenhuma arborização. Já a estrutura voltada para bicicletas está praticamente ausente na maioria do país, mais da metade dos municípios não possuem nenhum tipo de sinalização para ciclofaixas.

Acessibilidade ainda é exceção

Apesar de avanços em relação ao Censo de 2010, o acesso universal continua sendo uma meta distante. O número de pessoas com acesso a rampas nas vias públicas quadruplicou nos últimos 12 anos — passou de 6 milhões para 26,5 milhões —, mas ainda representa uma parcela pequena da população. Isso significa que quase 120 milhões de brasileiros vivem em locais sem nenhuma estrutura voltada para a circulação de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida.

Um terço das cidades brasileiras, menos de 5% da população tem acesso a ruas com rampas. Em 157 municípios, não há nenhum trecho com essa estrutura. As exceções ficam por conta de algumas cidades do Paraná, como Maringá e Cascavel, que apresentaram dados acima da média nacional.

Calçadas com desafios

O percentual de brasileiros que vivem em ruas com calçadas aumentou — de 66% em 2010 para 84% em 2022. Porém, a qualidade dessas calçadas é questionável. Apenas 18,8% da população mora em vias onde o trajeto a pé pode ser feito sem obstáculos. Elementos como postes, desníveis e buracos são frequentes e comprometem a segurança dos pedestres.

Na maioria dos municípios, a presença de obstáculos nas calçadas é a regra. Apenas 238 cidades do país têm mais da metade da população vivendo em ruas com calçadas livres. Estados como Rio Grande do Sul e São Paulo se destacam positivamente, enquanto regiões como Piauí, Maranhão e Acre registram os piores índices.

É raridade caminhar entre árvores

O levantamento também mostra desigualdade na distribuição de áreas verdes. Cerca de 59 milhões de pessoas — 34% da população analisada — vivem em ruas sem nenhuma árvore. A arborização, além de tornar o ambiente mais agradável, tem papel importante na regulação térmica e na saúde urbana.

A região Centro-Oeste lidera os índices de arborização. No Mato Grosso do Sul, 92,5% dos moradores vivem em ruas com árvores. Já no Distrito Federal e no Paraná, esse índice também supera os 80%. Por outro lado, estados como Sergipe, Acre e Amazonas estão entre os que têm menor cobertura vegetal nas vias públicas.

Ciclofaixa praticamente não existe 

Se para pedestres a situação já é complicada, para os ciclistas ela é pior ainda. Apenas 1,9% da população mora em locais com algum tipo de sinalização específica para o uso de bicicletas. O número revela que o planejamento urbano dá preferencia aos veículos motorizados e negligência meios de transporte mais sustentáveis.

Mais da metade das cidades do país não possui qualquer estrutura voltada para ciclistas. Estados como Santa Catarina e o Distrito Federal apresentam os melhores indicadores, enquanto Maranhão, Amazonas e Goiás estão entre os piores. Entre as capitais, Florianópolis, Fortaleza e Belém lideram na proporção de moradores com acesso a trechos de vias sinalizadas para bicicletas.

Infraestrutura básica apresenta os melhores dados

Em contraste com a falta de acessibilidade e sinalização cicloviária, o acesso à pavimentação e iluminação pública está mais presente. Cerca de 88,5% dos moradores vivem em ruas asfaltadas, e 97,5% têm acesso à iluminação nas vias próximas às suas residências. Ainda assim, há exceções, o Amapá, por exemplo, é o único estado onde menos de 90% da população tem ruas iluminadas.

Laura Basílio sob supervisão de Denise Bonfim.
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