Ou Israel faz um acordo com o Hamas até a terça-feira, 13, quando o presidente Donald Trump parte para o Oriente Médio, ou não contará mais com os Estados Unidos nas negociações para libertar os 21 reféns ainda vivos em Gaza, segundo o jornal Haaretz.
O embaixador dos EUA em Israel, Mike Huckabee, declarou em Jerusalém, hoje pela manhã, que o presidente Trump ordenou que seja dada ajuda humanitária a Gaza “o mais rápido possível”, para evitar “o grande perigo” de que pessoas famintas comecem a morrer, na décima semana de bloqueio israelense à entrada de comida, água e medicamentos para 2,2 milhões de palestinos.
Os Emirados Árabes Unidos rejeitaram um pedido de Israel para financiar a construção de quatro entrepostos para entrega de ajuda humanitária em Gaza, que será fornecida por uma fundação privada. O motivo: o plano atende a 60% da população e foi rejeitado também pela ONU.
O primeiro-ministro Netanyahu está cada dia mais isolado pelo presidente Donald Trump, que não o ouve mais sobre as negociações para um acordo nuclear com o Irã, tirou a normalização com Israel como condição para um acordo de trilhões de dólares a ser concluído com a Arábia Saudita, na semana que vem, e alcançou um cessar-fogo com os Houthis do Iêmen que excluiu o aliado israelense, que hoje voltou à ser alvo de um míssil balístico, abatido no ar, mas que mandou milhares de pessoas para abrigos antiaéreos.
O veterano correspondente do New York Times no Líbano e em Israel, Thomas Friedman, publicou nesta sexta um artigo em que diz que “o governo israelense não é nosso aliado”. Ele cumprimenta Donald Trump, de quem é um crítico feroz, por não visitar Israel na viagem que fará a Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos, de 13 a 16 de maio. Ele se diz impressionado com as negociações independentes dos EUA com o Hamas, Irã e Houthis. E acrescenta que Netanyahu “deve estar em pânico”.
Pânico? Ainda não é visível. O governo de Netanyahu está se preparando para reiniciar uma guerra de conquista e ocupação em Gaza, tão logo Trump entre no Air Force One de volta à Washington. A guerra só será ampliada, porque ela continua diariamente, agora em seu 581º dia e mais de 52.787 mortos, segundo o Ministério da Saúde do Hamas. As cenas de mortos civis, hoje 27, inclusive crianças, e de gazenses famintos, em uma cidade já totalmente arrasada, não impede que os bombardeios continuem. A justificativa de que uma bomba matou um terrorista caçado desde o massacre do Hamas em Israel, em 7 de outubro, com 1.200 mortos, não é aceita diante do número de civis inocentes que também morreram.
Ao final de sua entrevista sobre ajuda humanitária, o embaixador Mike Huckabee comentou que, embora as relações entre Israel e EUA sejam muito boas, “os Estados Unidos não devem dizer aos israelenses tudo que vai fazer”. É exatamente essa falta de compartilhamento sobre decisões estratégicas no Oriente Médio que marca a nova relação atual entre os governos Trump e Netanyahu.
A coligação governamental está sofrendo forte influência de extremistas de direita e de religiosos ultranacionalistas, que querem anexar a Cisjordânia e reocupar Gaza. Eles têm o poder de manter ou não Netanyahu no poder – um poder necessário para o primeiro-ministro diante dos processos de corrupção de que é réu e das investigações do escândalo chamado Catargate. A única arma de que dispõe Netanyahu contra os aliados que o ameaçam é que, se o derrubarem, eles não serão eleitos numa nova eleição geral.
Numa pesquisa publicada nesta sexta-feira pelo jornal Times of Israel, 54% dos israelenses disseram que a decisão de ampliar a guerra é motivada por considerações políticas, e não por preocupações de segurança genuínas. Só 25% concordaram com o governo. E 10% não souberam responder.