Diálogos e Conexões

Seres humanos líderes em um mundo cada vez mais artificial

É o perfil de um ser humano que o mundo corporativo busca como líder?

Modelo

Rodrigo Maia

18/04/2023 18:04

lideres

Fonte: Foto: Freepik

Diálogos e Conexões

Quando o tema é liderança, diversos conceitos usados pelo mundo corporativo aparecem em nosso imaginário. É um assunto levado à exaustão por eventuais gurus que prometem transformar qualquer pessoa em uma máquina de desenvolver pessoas e empresas.


O líder do mercado atual precisa ser apaixonado pelo que faz, automotivado, estratégico, comunicativo, habilidoso, adaptável, disciplinado, empático, além de ser um exemplo de conduta pessoal. O líder precisa conhecer todas os fluxos e processos da empresa e, ainda, ter a capacidade de unir pessoas por meio da busca constante por excelência. No fim do mês, o mais importante: por meio de seu trabalho, ele deve aumentar os resultados da empresa.


E ainda pode ser que eu tenha esquecido de falar alguma coisa. Vale a reflexão: é o perfil de um ser humano que o mundo corporativo busca como líder? As respostas serão polêmicas. Alguns vão dizer que o líder precisa mesmo ser assim, que precisamos buscar nosso máximo sempre. Outros vão dizer que esse cenário vai gerar problemas emocionais, ansiedade e Burnout.


A realidade artificial criada pelas máquinas inteligentes está gerando um caos avaliativo nas pessoas. Buscamos utopias para justificar a eterna insatisfação com a vida. E, muitas vezes, essas realidades paralelas estão presentes no mundo digital. A busca abrupta pelo metaverso é um bom exemplo disso. Queremos o perfeito, o sem falhas, aquilo que vai nos dar uma felicidade plena, absoluta e inabalável. E isso é impossível no mundo natural. Quanto mais inteligente as máquinas são, mais queremos que elas nos entreguem as respostas que nós, humanos, não temos condições de conseguir.


Esses dias, alguém me perguntou se sou a favor ou contra o uso das inteligências artificiais na escola. E a resposta foi rápida. Primeiro, precisamos saber qual o ser humano que queremos preparar para a sociedade. Depois, qual modelo de escola terá condições de preparar esse ser humano. Agora, antes de tudo, é fundamental que a gente discuta qual a sociedade estamos vivendo e quais rumos ela está tomando.


As novas gerações indicam que desejam essa vida das aparências por meio de filtros, dos conselhos e frases prontas que motivam de forma paliativa, do descartável ou do líquido, como disse Zygmunt Bauman. As novas gerações podem fazer tudo com mais facilidade, em menos tempo e com pouco esforço. O empresário Bruno Brito, CEO da Empreender, que faz um trabalho de formação na área de negócios com o público adolescente, afirma: “Se as pessoas quiserem montar uma empresa, a IA vai mostrar como fazer isso com cada vez mais qualidade e informações precisas. O empreendedorismo digital faz com que as pessoas possam criar soluções com extrema facilidade em menos tempo e com menos recursos financeiros. E as pessoas nem precisam saber programação avançada. A IA também vai fazer isso pra eles.” Ora, se esse é o novo mundo, o tão falado “novo normal”, o modelo de ser humano também precisa ser outro, e a escola deve acompanhar esse ritmo para preparar os alunos para a realidade.


Se voltarmos à história da liderança, o exemplo ainda se mantém. Que tipo de líderes estamos formando e quais liderados ele irá comandar? Estes seres humanos vão trabalhar em quais empresas que vendem quais produtos e serviços a essa mesma sociedade? São tempos de construção de novos padrões. O filósofo francês, Michel Foucault, falou sobre isso em sua obra “Genealogia do Saber”. Thomas Khun, físico americano, abordou tema similar no livro “A Estrutura das Revoluções Científicas”.


A sociedade vive um momento de transição. Por isso, sobram-nos perguntas e faltam-nos respostas. Quebramos paradigmas. Agora, resta-nos esperar a construção dos próximos padrões, naturais ou artificiais.


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