Moisés Rabinovici: Acordo de Gaza em perigo

Hamas anuncia suspensão de troca de reféns prevista para o sábado (15), acusando Israel de violações do cessar-fogo
Reprodução

Israel entrou “no mais alto nível de alerta” depois que o Hamas anunciou a suspensão da troca de reféns por prisioneiros palestinos prevista para o sábado, alegando violações do cessar-fogo por parte dos israelenses.

O porta-voz do braço armado do Hamas, as Brigadas Al Qassam, Hudhaifa Kahlout, deu dois exemplos de violação do acordo de cessar-fogo: Israel não só atrasou o retorno dos palestinos deslocados para o norte, como atirou neles, e está obstruindo a entrada de ajuda humanitária em Gaza. O Hamas quer uma “compensação retroativa”, ou não vai mais libertar os 76 reféns que ainda mantém em cativeiro.

O Fórum das Famílias dos Reféns e Desaparecidos apelou ao Egito, Catar e EUA para que salvem o acordo que mediaram, enfatizando que “as condições chocantes dos reféns do libertados no último sábado não deixam espaço para dúvida – o tempo é essencial”. Os médicos que examinaram Eli Sharabi, 52, Or Levy, 34, e Ohad Ben Ami, 56, diagnosticaram “severa desnutrição” e “distúrbios cardíacos e infecções”.

Um líder da extrema direita israelense, o ex-ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, está pedindo que o governo ordene “um massivo ataque em Gaza, por ar e terra”, e que “bloqueie a entrada de ajuda humanitária, corte a eletricidade, combustível e água”. No X, ele escreveu: “Precisamos voltar à guerra”.

O primeiro-ministro Netanyahu iniciou consultas com a área militar e deve convocar uma reunião do gabinete de segurança ainda hoje. Ele voltou no domingo do encontro com o presidente Trump, que anunciou um plano de retirar todos os palestinos de Gaza para transformá-la na Riviera do Oriente Médio. Nesta segunda-feira, ele acrescentou um novo dado ao seu plano considerado inexequível: os palestinos não poderão voltar à Gaza reformada. Esta semana ele deverá receber o rei Abdullah, da Jordânia.

O anúncio de Trump embaralhou as negociações para uma segunda-fase de cessar-fogo de mais 42 dias, em que Israel deveria se retirar totalmente de Gaza e todos os reféns, libertados. A equipe de negociadores israelenses foi ao Catar e voltou sem novidades.

_______________________________________________________________________________________________________

TRUMP DÁ ULTIMATO AO HAMAS

Todos os 76 reféns em Gaza devem ser libertados até sábado ao meio-dia. Se o Hamas não obedecer, vai sofrer “o inferno”, avisou o presidente Donald Trump a repórteres, no Salão Oval da Casa Branca, nesta segunda-feira à noite.

Trump reagiu à decisão do Hamas de adiar a entrega de três reféns, no sábado, sob a alegação de que Israel violou o acordo de cessar-fogo, atirando em palestinos deslocados que voltavam para o norte, quando o caminho não estava ainda liberado, e bloqueando a entrada de ajuda humanitária.

Israel entrou em alerta máximo ao ser comunicado do adiamento de três reféns, seguindo o cronograma do acordo da primeira fase do cessar-fogo. Um plantio de árvores nesta terça-feira de manhã, na fronteira com Gaza, foi cancelado pelas Forças de Defesa de Israel. Seria o início de uma floresta em homenagem aos 1.200 mortos do massacre de 7 de outubro de 2023.

Trump foi mais além do ultimato ao Hamas. Ele falou em reter a ajuda à Jordânia e ao Egito se ambos não aceitarem receber os palestinos que devem deixar Gaza para o seu projeto de Riviera do Oriente Médio. O congelamento da ajuda colocaria em perigo os acordos de paz com Israel.

O Hamas decidiu adiar a libertação de reféns num momento delicado. As negociações para a segunda fase do acordo que está em vigor não começaram porque Trump prometeu assumir Gaza ao final da guerra, embaralhando o que estava na mesa de negociação. O primeiro-ministro Netanyahu parece mais inclinado a recomeçar a guerra do que deixar o Hamas governando os palestinos.

A extrema-direita na coligação governamental vota pela retomada dos combates ou veta o seu primeiro-ministro, que pode cair sem maioria no Parlamento. Trump e o Hamas deram de presente o que pode ser sobrevida de Netanyahu. Os israelenses ficaram chocados com os três reféns devolvidos no sábado passado. Pareciam três sobreviventes de campos de concentração, muito magros, um deles mal caminhando, outro “cego” pelo tempo que ficou dentro de túneis, 15 meses, sem ver a luz do dia.

O Fórum dos Reféns e Desaparecidos quer a manutenção do acordo, recebendo os reféns a conta-gotas, e promoveu manifestações nas ruas de cidades israelenses, na segunda-feira à noite. O temor é de que os que estão em cativeiro possam morrer com a saúde deteriorada, ou serem assassinados pelo Hamas. Dos 76 reféns restantes 56 estariam vivos, segundo serviços de inteligência de Israel.