O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sinalizou nesta sexta-feira (9) que pode reduzir de 145% para 80% as tarifas aplicadas a produtos chineses. A declaração foi feita às vésperas de um encontro em Genebra entre autoridades comerciais dos EUA e da China, que marca a primeira grande tentativa de negociação desde a escalada da guerra tarifária entre os dois países.
O vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng, deve se reunir com o chefe do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, e com o Representante Comercial, Jamieson Greer, durante o fim de semana. O objetivo da conversa é buscar um caminho para aliviar as tensões que vêm pressionando cadeias produtivas e mercados globais.
A proposta de redução tarifária foi mencionada por Trump em sua rede social truth social , onde escreveu que “uma tarifa de 80% parece certa”, atribuindo a decisão a Bessent. Na mesma publicação, o republicano pediu que a China amplie o acesso ao seu mercado interno: “Mercados fechados não funcionam mais”, escreveu.
As tarifas impostas pelos EUA desde o início do conflito comercial, intensificado em abril, incluem sobretaxas relacionadas ao combate ao fentanil, substância que, segundo Washington, a China não tem conseguido controlar. Essas taxas adicionais devem permanecer em vigor, mesmo com uma possível revisão geral.
O encontro em Genebra acontece após semanas de trocas públicas de acusações, embates diplomáticos e pressões internas dos dois lados. Empresários chineses têm alertado o governo Xi Jinping sobre o impacto da perda do mercado americano, e analistas ocidentais apontam dificuldades de Pequim em manter a produção diante de retração nas exportações e fechamento de fábricas.
Mesmo com a redução sugerida por Trump, a tarifa de 80% ainda superaria os 74% anunciados por ele no chamado “Dia da Libertação”, em abril. A equipe do presidente reconhece que a taxa atual, de 145%, representa na prática uma barreira comercial e pode danificar o consumo interno, afetando a economia americana em um ano eleitoral.
Fontes próximas ao governo chinês disseram à Reuters que, apesar do tom duro nas declarações oficiais, Pequim decidiu enviar He Lifeng após perceber sinais de flexibilização na postura americana e diante do risco de isolamento diplomático. Parceiros estratégicos como Vietnã, Índia e Japão já iniciaram conversas com os EUA.
Ainda assim, a confiança mútua continua baixa. Um dos pontos de atrito recentes foi uma carta enviada por Washington sobre o tráfico de fentanil, classificada como “arrogante” por autoridades chinesas. Também houve divergência sobre quais figuras participariam das reuniões, o que atrasou a definição do encontro.
Além da pauta tarifária, outros temas sensíveis estão em jogo, como o fim da isenção fiscal para pacotes chineses de até US$ 800, e a pressão do Congresso americano para banir o TikTok. Em resposta, Pequim estuda aumentar as importações de gás natural liquefeito e produtos agrícolas dos EUA, como ocorreu no acordo de “Fase Um”, firmado em 2019.
Segundo diplomatas e especialistas consultados pela Reuters, a reunião em Genebra deve funcionar como uma etapa preliminar para restabelecer canais formais de negociação. Para a China, participar já é uma forma de evitar ficar fora das conversas em andamento entre os EUA e outros países asiáticos.
Laura Basílio sob supervisão de Denise Bonfim.