Tratamento moderno da obesidade avança, porém traz novo desafio: preservar a densidade óssea

Remédios injetáveis podem ajudar no controle do peso, mas exigem orientação médica, alimentação adequada e exercícios para proteger a saúde dos ossos durante o tratamento

Muito se tem falado sobre o uso de medicações no tratamento da obesidade e sobre as consequências dessas terapias no organismo. Com a proximidade do verão e das festas de fim de ano, períodos em que aumentam as buscas por métodos rápidos de emagrecimento e definição corporal, esse tema ganha ainda mais destaque. Atualmente, um em cada três brasileiros vive com obesidade, segundo dados do Atlas Mundial da Obesidade 2025 (World Obesity Atlas 2024), da Federação Mundial da Obesidade. Trata-se de uma doença crônica e recidivante, na qual diversos fatores genéticos e ambientais estão envolvidos. Por isso, o tratamento precisa ser contínuo. A base desse cuidado envolve mudanças no estilo de vida, com foco em hábitos saudáveis, como a melhoria da alimentação e o aumento da atividade física; porém, na prática, essas medidas nem sempre são suficientes para promover uma perda de peso duradoura.

Uma nova geração de remédios

Ao longo da história da medicina, diferentes estratégias foram propostas para tratar a obesidade. Chega a ser surpreendente lembrar que, em determinado momento, amarrar a mandíbula para limitar a abertura da boca foi apresentado em publicações científicas como alternativa terapêutica. Diversas medicações também já entraram e saíram do mercado. Mais recentemente, observamos o surgimento de uma nova geração de fármacos destinados ao tratamento da obesidade: os análogos do GLP-1, que, segundo relatório do BTG Pactual baseado em dados da consultoria IQVIA, devem movimentar mais de R$ 5 bilhões no varejo brasileiro apenas neste ano.

Não são “canetas para emagrecer”

Antes de qualquer coisa, é fundamental reforçar que essas medicações se destinam ao tratamento de uma doença crônica: a obesidade. Portanto, não devem ser chamadas de “medicações para emagrecer” ou “canetas emagrecedoras”. A perda de peso pode ter, para muitas pessoas, um objetivo estético associado a padrões de beleza, mas usar essas expressões transmite a ideia equivocada de que tais remédios são indicados apenas para quem deseja emagrecer. Isso distorce a finalidade do tratamento, reforça estigmas e contribui para a disseminação de desinformação.

Nos últimos meses, a possível repercussão dessas medicações sobre a saúde óssea ganhou grande destaque e passou a ser motivo de preocupação para muitos pacientes que precisam utilizá-las. Diversos estudos, realizados tanto em modelos animais quanto em humanos, já analisaram esse desfecho. Até o momento, as evidências mostram que o efeito dessas moléculas nas células ósseas é de aumento da formação óssea e redução da reabsorção. Ou seja, os estudos não demonstram um efeito direto prejudicial dessas medicações sobre a saúde dos ossos.

Por outro lado, é importante lembrar que a perda de peso, por diferentes mecanismos, pode reduzir a densidade mineral óssea. Essa nova geração de medicações promove redução do apetite e perda de peso mais rápida. Além disso, muitos pacientes acabam restringindo o consumo de leite e derivados, o que diminui a ingestão de cálcio. A combinação desses fatores, como perda de peso acentuada e restrição alimentar, incluindo menor consumo de cálcio e outros micronutrientes, pode contribuir para a redução da densidade mineral óssea.

Acompanhamento é essencial

Dessa forma, é essencial que pacientes em tratamento da obesidade sejam acompanhados por uma equipe multidisciplinar, formada por médico, nutricionista e educador físico. Estudos mostram que a prática de exercícios durante o tratamento ajuda a reduzir tanto a perda óssea quanto a perda de massa muscular associadas ao emagrecimento. No Brasil, porém, cerca de 40% a 50% da população adulta não pratica atividade física na frequência e intensidade recomendadas, conforme a mesma pesquisa da Federação Mundial da Obesidade. Com acompanhamento adequado, o paciente consegue aproveitar plenamente os benefícios da perda de peso, reduzindo o risco de perda de densidade mineral óssea.

Mayra Macena – CRM: 172672-SP | RQE: 796051

Endocrinologista e membro da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (ABRASSO).

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