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Terapias avançadas para TCE e AVC: desafios e esperanças no tratamento cerebral

Técnicas endovasculares possibilitam a desobstrução mecânica da artéria via cateterismo
Reprodução: BandNews TV

Avanços na neuroproteção e tecnologia mostram caminhos promissores para minimizar sequelas e salvar vidas em casos de lesão cerebral aguda.

Ao redor do mundo, os levantamentos mostram perfis de doenças que causam mortalidade distintos em diferentes faixas etárias. Em pacientes jovens, as lesões relacionadas a traumas e acidentes estão sempre entre as principais causas, enquanto na população de adultos e idosos, especialmente acima dos 45 anos, as doenças oncológicas e cardiovasculares predominam.

Em cada um desses grupos, as condições que envolvem direta ou indiretamente o sistema nervoso central estão entre as que oferecem maior risco aos pacientes, como no caso do Traumatismo Cranioencefálico (TCE) em pacientes jovens, e dos Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC) e Tumores Cerebrais em adultos e idosos.

A hipertensão intracraniana como denominador comum

A condição que une essas diferentes doenças e que causa a maior mortalidade é algo chamado hipertensão intracraniana, um evento que, se não tratado adequadamente, pode evoluir de forma rápida e letal.

Como o crânio é uma caixa fechada e rígida, a ocorrência de um sangramento, inchaço ou massa tumoral dentro do cérebro não tem para onde se expandir e começa a gerar um efeito de compressão semelhante ao de uma panela de pressão. Em eventos agudos como no TCE e no AVC, a velocidade com que essa compressão ocorre sobre o cérebro pode levar o paciente a sequelas graves, ao coma ou até mesmo à morte encefálica.

Esse aumento da pressão dentro do crânio é a chamada hipertensão intracraniana e exige tratamento especializado e rápido. Ao longo do último século, a compreensão sobre esse fenômeno vem evoluindo de forma impressionante e, em grandes centros de referência, é possível reverter quadros que antes seriam considerados irreversíveis.

O uso de medidas de neuroproteção inclui medicações como sedativos, anti-inflamatórios, antioxidantes, bloqueadores de canais de cálcio e corticoides. Novas drogas vêm sendo pesquisadas com resultados promissores, mas ainda hoje o maior efeito do tratamento está em proteger o cérebro que ainda está intacto da progressão do dano causado pelo trauma ou AVC.

Algumas medidas, como a hipotermia — em que o paciente é mantido resfriado a cerca de 35 ºC por alguns dias — também têm efeito benéfico na recuperação de pacientes com lesões graves. Medidas mais agressivas, como o tratamento cirúrgico que remove a causa da compressão cerebral, costumam ser as mais eficazes. No entanto, há casos em que não é possível remover a lesão sem agravar ainda mais o dano ao cérebro.

Para gerenciar o tratamento desses pacientes, idealmente já em uma UTI especializada, a monitorização da pressão intracraniana é de grande valor. Mas, diferentemente da pressão arterial, que pode ser

medida com uma cinta no braço, a pressão intracraniana é avaliada por meio da colocação de um cateter no cérebro, em uma cirurgia de pequeno porte que exige a abertura do crânio.

Avanços tecnológicos e prevenção como chave de futuro

Em um esforço para reduzir a necessidade dessa cirurgia, o desenvolvimento de dispositivos minimamente invasivos — ou até não invasivos — tem avançado de forma admirável nos últimos anos. Entre as técnicas mais promissoras estão o uso do ultrassom de bainha de nervo óptico, em que, por meio de um ultrassom do olho, é possível estimar se há aumento da pressão intracraniana; o uso do ultrassom através de uma porção fina dos ossos do crânio para medir a velocidade do sangue nos vasos cerebrais; e um dispositivo desenvolvido por pesquisadores brasileiros, em que uma cinta com sensor de alta precisão é colocada sobre a cabeça do paciente e, com uso de inteligência artificial, estima-se a curva da pressão intracraniana. Apesar do avanço, nenhuma dessas técnicas substitui, por enquanto, a monitorização cirúrgica.

No caso específico do AVC, quando detectado e tratado a tempo, o uso de medicações trombolíticas já é uma abordagem consagrada para desobstruir o vaso cujo entupimento causou a lesão. Mais recentemente, técnicas endovasculares possibilitam a desobstrução mecânica da artéria via cateterismo. Inicialmente indicadas apenas para curtos períodos após os sintomas, diversos estudos têm demonstrado benefícios mesmo em janelas de 12, 16 e até 24 horas, com possibilidade de reverter sequelas.

Mesmo com todos os avanços mencionados, uma lesão cerebral aguda, como um TCE ou AVC, ainda causa grande impacto na vida dos sobreviventes e está associada a muitas sequelas e óbitos. É extremamente importante a conscientização da população para a prevenção, seja com o uso de capacetes, cinto de segurança e a prevenção de acidentes domésticos (no caso do TCE), ou com o controle adequado da hipertensão arterial, diabetes, distúrbios do colesterol, além da eliminação do tabagismo, do consumo excessivo de álcool e do sedentarismo (no caso do AVC).

Cesar Cimonari de Almeida – CRM 150620-SP / RQE 66640

Neurocirurgião

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