“Trump pretende revelar plano para o fim da guerra de Gaza, e vai ordenar que Netanyahu o cumpra” — é a manchete do jornal israelense Haaretz desta terça-feira. O dia do anúncio do presidente Donald Trump será amanhã, em Doha, no Catar, a segunda escala de sua visita ao Oriente Médio iniciada na Arábia Saudita, na segunda-feira. Ao lado de Trump estará o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdul Rahman al-Thani, os principais negociadores da Casa Branca, Steve Witkoff e Adam Boehler, e um grupo de familiares dos 58 reféns que ainda estão em Gaza.
O que permitiu a reviravolta no longo impasse das negociações entre Israel e Hamas foi a libertação do soldado americano-israelense Edan Alexander, depois de 584 dias cativo em Gaza, graças a encontros secretos entre americanos e a liderança palestina no Catar, sem o conhecimento do governo israelense, só informado no domingo, com o acordo concluído.
O Hamas libertou Alexander, 21, sem cobrar a soltura de prisioneiros palestinos, ou um parcial cessar-fogo. Foi “um gesto de boa vontade”. Mas houve um preço, ao que tudo indica: a garantia dos EUA do fim da guerra, que Netanyahu recusava. Fontes do Hamas vazaram à imprensa, ontem, que o grupo terrorista decidiu abandonar as armas, que ficarão guardadas no Egito. A contrapartida israelense será a retirada de suas tropas de Gaza, quando os planos do governo, pressionado pela extrema-direita, era de ampliação da guerra e ocupação de território.
O soldado libertado Edan Alexander falou ao telefone com Netanyahu, a quem disse: “loucura, loucura, é inacreditável”; e depois com Donald Trump, a quem agradeceu estar livre. O Canal 14 da TV de Israel, favorável ao governo, revelou-se confuso com a reviravolta. O âncora Shimon Riklin admitiu: “Não entendo o que está acontecendo aqui…” Depois, acrescentou: “Este não é o plano de Witkoff (o negociador dos EUA entre Hamas e Israel e entre Rússia e Ucrânia). Este é o plano de Trump. E o estado de Israel não está envolvido. O que é que aconteceu?”
Foram três meses de infrutíferas negociações, até o desfecho agora, que denota o fim da paciência de Trump. Resta a Netanyahu dizer que ele está envolvido na iniciativa dos EUA, ou reconhecer que foi surpreendido pelos EUA e que não tem escolha senão se submeter. Mas ele encontrou um meio de coparticipar, dizendo que o soldado Alexander foi solto por causa da pressão militar. É o que também disse o até agora emudecido ministro das Finanças da extrema-direita, Bezalel Smotrich.
O negociador Witkoff fez um agrado a Netanyahu ao lhe dizer, publicamente, que contou à família do refém libertado “tudo o que você fez nos últimos dias para tornar este momento possível”. Mas o Catar não o poupou, lembrando que Israel violou o acordo (o inicial, de três fases, rompido antes do início da segunda fase) e falhou em negociar o final da guerra.
O Hamas rejeitou as insinuações israelenses de que atua sob pressão militar. “O retorno de Edan Alexander é o resultado de comunicações sérias com a administração dos EUA e os esforços dos mediadores (Egito e Catar), e não consequência da agressão israelense, ou a ilusão de pressão militar”. E mais: “Netanyahu está enganando seu povo e fracassou em libertar seus prisioneiros através de agressão”.
O que está sendo esperado para amanhã, no Catar, é a libertação imediata de todos os reféns, vinculada ao plano dos Estados Unidos para o fim da guerra. O jornal Haaretz reporta de Doha que “todos sabem que o tempo para negociações é muito curto (só hoje) e que o governo americano vai aplicar pressão para obter um acordo. Nenhuma das partes quer ser acusada de o ter violado”.