O primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, afirmou nesta terça-feira (6) que o país “nunca estará à venda” durante sua primeira reunião com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na Casa Branca. A declaração ocorre em meio a tensões comerciais e a declarações anteriores de Trump sobre uma possível anexação do território canadense.
Carney foi eleito no fim de abril com um discurso de enfrentamento ao governo norte-americano, que retomou a aplicação de tarifas sobre aço, alumínio e automóveis canadenses. Apesar das divergências, o encontro teve tom cordial diante das câmeras, com trocas de elogios entre os dois líderes durante a recepção no Salão Oval.
Trump afirmou que não discutiria a integração do Canadá aos Estados Unidos, mas voltou a sugerir que uma união seria “um bom casamento”. Carney respondeu com firmeza que o país é soberano e continuará sendo. “Não está à venda. Nunca estará”, disse o primeiro-ministro.
A reunião foi seguida de um almoço privado. De acordo com um alto funcionário do governo canadense, Carney reforçou a oposição às tarifas impostas pelos EUA, mas evitou um confronto direto. A postura foi elogiada por analistas políticos por evitar os embates públicos que marcaram visitas anteriores de líderes estrangeiros a Washington.
Durante o encontro, Trump afirmou que discutiria “pontos difíceis” com Carney e voltou a alegar que os Estados Unidos não precisam das exportações canadenses. Em uma publicação nas redes sociais, ele criticou o antigo governo de Justin Trudeau e a forma como o Acordo EUA-México-Canadá (USMCA) foi negociado. A revisão do tratado está prevista para 2026.
Carney defendeu alterações pontuais no pacto, sem sugerir uma reformulação ampla. O primeiro-ministro afirmou que pretende diversificar a economia canadense e reduzir a dependência das exportações para os Estados Unidos, que movimentaram mais de US$ 760 bilhões em 2024.
Dados divulgados horas antes do encontro mostram que o superávit comercial do Canadá com os EUA caiu para o menor nível em cinco meses, refletindo os impactos das tarifas. As exportações canadenses recuaram US$ 3,7 bilhões em março, a segunda maior queda da série histórica.
Trump também anunciou a intenção de impor uma tarifa de 100% sobre filmes produzidos fora dos Estados Unidos, medida que pode afetar diretamente a indústria cultural canadense. O governo de Ottawa ainda não se pronunciou sobre essa proposta.
Carney, de 60 anos, ex-presidente do Banco Central do Canadá e do Banco da Inglaterra, assumiu a liderança do Partido Liberal em março e chegou ao poder sem experiência política anterior. Seu primeiro encontro com Trump é considerado um teste para a nova fase das relações bilaterais.
Laura Basílio sob supervisão de Denise Bonfim.