Premiê do Canadá pede desculpas a Trump por propaganda anti-tarifas

Mark Carney afirmou que desaprovava o anúncio veiculado pela província de Ontário, que usou um discurso de Ronald Reagan para criticar tarifas comerciais e levou Donald Trump a suspender negociações com o Canadá.
Reprodução / BandNews TV

O primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, pediu desculpas ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, após a veiculação de uma propaganda televisiva contra tarifas americanas que provocou tensões bilaterais entre os dois países. A declaração foi feita neste sábado (1º), durante uma entrevista coletiva em Gyeongju, na Coreia do Sul, onde Carney participa da cúpula do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec). O anúncio, financiado pela província de Ontário, utilizava trechos de um discurso do ex-presidente americano Ronald Reagan, proferido na década de 1980, para criticar políticas tarifárias.

Carney afirmou que o episódio gerou desconforto diplomático e que o governo canadense não teve envolvimento direto na produção da peça publicitária. “Pedi desculpas ao presidente. Ele se sentiu ofendido com o anúncio, e não é algo que eu teria feito”, declarou o premiê. O vídeo provocou a reação imediata de Trump, que anunciou a suspensão das negociações comerciais com Ottawa e impôs um aumento adicional de 10% sobre as tarifas de produtos canadenses. O primeiro-ministro acrescentou que o Canadá está disposto a retomar o diálogo “quando os americanos estiverem prontos”.

A propaganda, exibida dentro dos Estados Unidos, foi encomendada pelo governador de Ontário, Doug Ford, e trazia a voz de Reagan criticando a imposição de tarifas comerciais. O trecho selecionado fazia parte de um discurso de 1987, quando o então presidente republicano argumentava que medidas protecionistas poderiam gerar guerras comerciais e desastres econômicos. Trump considerou o uso do áudio uma provocação e classificou a atitude do governo provincial canadense como um “jogo sujo”. Após as críticas do presidente americano, o anúncio foi retirado do ar.

Segundo Carney, ele havia revisado o material antes da exibição e se manifestado contra sua divulgação. “Eu disse a Ford que não queria prosseguir com o anúncio”, reiterou o premiê. A declaração de Carney veio após Trump confirmar publicamente, na sexta-feira (31), que havia recebido um pedido de desculpas do canadense durante um jantar oferecido pelo presidente sul-coreano. Embora o republicano tenha afirmado manter uma boa relação com o primeiro-ministro, reforçou que as negociações comerciais entre os dois países permaneceriam suspensas.

As relações entre Washington e Ottawa já vinham enfrentando tensões desde que o governo Trump impôs tarifas de 25% sobre o aço, o alumínio e outros produtos canadenses em março deste ano. O Canadá, por sua vez, tenta reduzir sua dependência econômica dos Estados Unidos, destino de cerca de 75% de suas exportações, e busca fortalecer laços comerciais com outros parceiros, como a China. Na sexta-feira, Carney se reuniu com o presidente chinês, Xi Jinping, à margem da cúpula da Apec, em uma tentativa de ampliar o diálogo econômico entre os dois países.

Apesar da crise diplomática, Carney tentou adotar um tom conciliador ao comentar o episódio. “O Canadá está comprometido em manter relações construtivas com seus parceiros, mesmo em momentos de divergência”, afirmou. O primeiro-ministro reconheceu que o incidente expôs a fragilidade das relações bilaterais sob o governo Trump, mas reforçou que pretende seguir buscando soluções diplomáticas. Enquanto isso, o governo canadense monitora os impactos das novas tarifas impostas pelos Estados Unidos, que afetam especialmente os setores de aço, alumínio e indústria automotiva, pilares da economia do país.

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