A Polícia Federal achou no celular do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) um rascunho de carta pedindo asilo político ao presidente da Argentina, Javier Milei. O documento aparece no indiciamento do ex-mandatário por coação no curso do processo e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
O arquivo, em formato .docx, foi salvo em 10 de fevereiro de 2024 e modificado dois dias depois. O texto mostra Bolsonaro se descrevendo como perseguido político no Brasil para justificar o pedido de refúgio.
A mesma data coincide com a visita dele à embaixada da Hungria em Brasília, onde passou duas noites. A ida ocorreu quatro dias após a apreensão do passaporte do ex-presidente durante a Operação Tempus Veritatis, que investiga a trama golpista.
Os metadados do arquivo apontam a autoria para um usuário chamado “Fernanda”. A PF considera provável que seja Fernanda Antunes Figueira Bolsonaro, nora do ex-presidente e esposa do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Para os investigadores, mesmo sem assinatura ou data oficial, o documento mostra que Bolsonaro planejava deixar o país para escapar de punições na Justiça.
O rascunho tem 33 páginas. Logo na introdução, Bolsonaro afirma sofrer perseguição política e cita artigos do Código Penal sobre crimes contra o Estado Democrático de Direito como base do pedido de asilo.
Em 5 de dezembro de 2023, Bolsonaro comunicou ao ministro Alexandre de Moraes que viajaria para a Argentina entre os dias 7 e 11. Durante esse período, ele participou da posse de Milei, acompanhado do filho Eduardo Bolsonaro e de aliados políticos.
Segundo a PF, as informações reunidas reforçam que o ex-presidente mantinha uma estratégia para deixar o Brasil e evitar o cumprimento da lei.
Laura Basílio sob supervisão de Thiago San.