Mesmo com a escalada de tensão no Oriente Médio, o preço do petróleo surpreendeu o mercado ao cair mais de 5% após o ataque iraniano a bases norte-americanas no Catar e no Iraque. A expectativa era de alta nos preços diante do conflito, mas a reação do mercado financeiro foi de cautela, sinalizando que os investidores aguardam desdobramentos mais concretos antes de reajustar suas apostas.
O recuo da commodity acontece dias após os Estados Unidos bombardearem três instalações nucleares iranianas. A resposta do Irã reacendeu alertas sobre uma possível crise energética global. No entanto, segundo especialistas, ainda não há sinais claros de uma escalada militar que afete diretamente a oferta global de petróleo, o que ajuda a conter os preços, por ora.
O professor Ildo Sauer, titular de energia do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo, explica que a atual produção mundial de petróleo está em patamar superior à demanda prevista, o que ajuda a segurar os preços. Ele lembra que os países da OPEP+ vêm mantendo acordos para ampliar a produção, o que também contribui para essa estabilidade momentânea.
Leonardo Santana, sócio da casa de análise Top Gain, avalia que o mercado está mais maduro e resistente a reações impulsivas. Segundo ele, o comportamento mais racional se deve ao fato de que, apesar das ameaças, ainda não houve um agravamento concreto da guerra que justifique um salto no preço do barril. “O mercado quer previsibilidade, e, por enquanto, não vê sinais de escalada real”, disse.
No Brasil, a queda no preço do petróleo pode ter efeitos mistos. Por ser um grande exportador da commodity, o país tende a perder receita com a baixa nos preços. Por outro lado, como também importa grande volume de derivados, devido à limitação do parque de refino, uma retração nos preços internacionais pode aliviar pressões inflacionárias internas, especialmente nos combustíveis.
Além disso, a cotação do dólar segue estável no país, o que também ajuda a conter possíveis impactos negativos. A entrada de capital estrangeiro, atraído pelos juros altos no Brasil, tem mantido o real relativamente valorizado. Isso ameniza os efeitos do câmbio sobre itens importados, como os combustíveis e fertilizantes, que influenciam diretamente o custo de vida do consumidor brasileiro.
Ainda assim, o risco de um agravamento no conflito persiste. O Parlamento iraniano aprovou a possibilidade de bloqueio do Estreito de Ormuz, rota por onde passa cerca de 20% de todo o petróleo mundial. A medida ainda precisa ser validada pelo Conselho Supremo de Segurança Nacional do país, mas a simples ameaça já causa apreensão entre analistas.
Se efetivado, o bloqueio do Estreito de Ormuz poderia causar uma ruptura no abastecimento global de petróleo, com impacto direto nos preços. A alta nos custos de transporte, somada à restrição da oferta, poderia reverter rapidamente o cenário de queda nos preços, afetando tanto países importadores quanto exportadores, como o Brasil. Por enquanto, o mercado aguarda. Mas qualquer movimento concreto na região pode mudar radicalmente o rumo da curva do petróleo.