No passado, as mulheres incluíam a gestação em um roteiro natural da vida e seguiam, de certa forma, uma sequência: casamento, filhos, carreira. A gravidez acontecia cedo, na faixa dos 20 a 30 anos, e a grande preocupação mundial era com as gestações indesejadas que ocorriam na adolescência.
Hoje, estamos vivendo uma verdadeira mudança histórica. Não há mais um roteiro lógico, e as prioridades, os sonhos e os desafios estão levando a grandes alterações nos formatos familiares e no momento em que as mulheres estão escolhendo ter filhos.
Uma inversão histórica nos padrões de natalidade
Recentemente, foi registrado nos Estados Unidos que, pela primeira vez, o número de bebês nascidos de mulheres com 40 anos ou mais superou o de nascimentos entre adolescentes. O dado foi divulgado em março de 2025 pelo Centro Nacional de Estatísticas de Saúde (NCHS), ligado aos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
Entre 1990 e 2023, a taxa de natalidade entre mulheres com 40 anos ou mais cresceu 193%, enquanto a taxa entre adolescentes caiu 73%. Em 2023, as mulheres com mais de 30 anos responderam por mais da metade (51,4%) de todos os nascimentos no país.
No Brasil, o cenário é semelhante. Dados do IBGE mostram que, entre 2000 e 2022, o número de mulheres que se tornaram mães entre 35 e 39 anos aumentou mais de 70%. Já o grupo com 40 anos ou mais quase triplicou nesse período.
Desafios e oportunidades de uma gravidez tardia
Essas mudanças são preocupantes sob alguns aspectos. Por um lado, há uma grande preocupação epidemiológica: o número de nascimentos tem diminuído, e a escolha por engravidar mais tarde também reduz o número de filhos que essa família pode e planeja ter. Isso repercute diretamente no crescimento populacional e nas políticas públicas de envelhecimento da população.
Por outro lado, a escolha de uma gestação tardia deve ser monitorada e planejada porque, enquanto a mulher está conquistando espaço, estabilidade financeira e realização profissional, o corpo segue seu próprio cronograma, e os óvulos não acompanham essa decisão de postergar, surgindo outros desafios: o tempo, a fertilidade e a autonomia reprodutiva.
A boa notícia é que a medicina também avançou com as mudanças das últimas décadas. O planejamento reprodutivo é divulgado e estimulado na mídia, nas empresas e até em algumas escolas. Escolher o melhor momento para engravidar é possível, e ter 40 anos não significa incapacidade para engravidar.
O congelamento de óvulos tornou a gravidez tardia uma possibilidade real e segura. Os cuidados com a alimentação, atividade física e saúde geral durante a juventude e idade adulta permitem gestações saudáveis após os 40 anos. E o acesso a informações de qualidade oferece subsídios para que a escolha seja consciente, planejada e segura.
Ser mãe após os 40 anos já não é exceção: é parte de uma realidade cada vez mais comum. É possível.
Profa. Dra. Fabia Vilarino – CRM 105.234 | RQE: 72263 / 722631 / 722632
Ginecologista especialista em Reprodução Humana e Cirurgia Ginecológica Endoscópica e membro da Brazil Health