O refém americano-israelense Edan Alexander saiu do cativeiro de 584 dias em Gaza, hoje, depois de negociações do Hamas com os Estados Unidos que surpreenderam Israel, comunicado só no domingo, quando finalizado o acordo.
O Hamas explicou a libertação de Alexander, 21, como um gesto de boa vontade para o fim da guerra de 18 meses e mais de 52 mil mortos que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu está prometendo expandir logo que o presidente Donald Trump encerre sua visita ao Oriente Médio, nesta sexta-feira, 16.
O embaixador americano em Jerusalém, Mike Huckabee, postou na plataforma X a sua esperança de que a libertação de Edan Alexander “marque o começo do fim desta terrível guerra”. A última pesquisa de opinião pública em Israel, feita na semana passada, revela que 70% da população são favoráveis a um cessar fogo que liberte todos os 58 reféns, entre eles 20 vivos, mesmo que prolongada e signifique a retirada das tropas israelenses de Gaza.
Um israelense também postou no X: “Netanyahu, provavelmente, tem agora duas opções: concordar com os americanos e desmantelar o seu governo, ou não concordar e desmantelar o país”. A libertação de Alexander foi a última demonstração da perda de paciência dos Estados Unidos com Israel. Antes, houve outras demonstrações claras do distanciamento do presidente Trump do governo israelense, como o acordo que encerrou os bombardeios americanos contra os Houthis, no Iêmen, e a decisão de negociar com o Irã um acordo nuclear – ambos contra a estratégia belicosa de Netanyahu.
Eldan Alexander, de Tenafly, em New Jersey, veio para Israel servir o exército, aos 18 anos. Escolheu a Brigada Golani, que cuida do norte israelense. Mas no dia 7 de outubro de 2023, quando o Hamas invadiu Israel, ele estava em serviço voluntário na base militar de Reím, ao lado de Gaza, onde milhares de jovens participavam de um festival de música. Foi sequestrado, com outros 250. Libertado por ser americano, além de israelense, familiares de reféns questionam se outros reféns devem ter dupla nacionalidade? Havia pelo menos um refém russo-israelense, livre depois que o presidente Putin negociou com o Hamas. E alguns tailandeses. Mas ainda há alguns estrangeiros cativos em Gaza.
Os EUA não trocaram Alexander por um cessar-fogo, nem por prisioneiros palestinos em Israel. O que o Hamas pode ter ganhado é a promessa de que Donald Trump vai insistir pelo fim da guerra, que ele considera “um esforço inútil”, e o reinício da ajuda humanitária aos 2,2 milhões de palestinos em Gaza, bloqueada há mais de dois meses por Israel. O primeiro-ministro Netanyahu disse, publicamente, que Alexander foi libertado graças à pressão militar israelense. E ele acha que, com mais pressão, libertará os que faltam, ao contrário do que pensam os familiares dos reféns, para os quais, na verdade, eles poderão ser mortos nos ataques, ou assassinados.
Netanyahu e Trump se conhecem bem, são parecidos. Os dois têm egos gigantes. Netanyahu não admite que Trump o deixou para trás no Iêmen, no Irã e, agora, com o Hamas e com sua viagem a Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos, que não faz escala em Tel-Aviv, e nem mais pretende a normalização das relações sauditas-israelenses. Por outro lado, Trump não esquece que Netanyahu cumprimentou Joe Biden na vitória da eleição que ele considerou fraudada.
Netanyahu reforçou, ontem, que ele e Trump “são ótimos amigos”. Só que, hoje, estão com objetivos opostos. Enquanto se prepara a uma escalada na guerra em Gaza, ele aceitou enviar uma delegação de negociadores a Doha, no Catar, amanhã, para examinar um projeto de troca de um cessar-fogo pela metade dos reféns, sugerido pelo enviado dos EUA no Oriente Médio, Steve Witkoff. Não é o momento para um confronto com os EUA. Assistentes próximos a Trump explicam o pacifismo dele em todas as frentes como um esforço para ganhar o Prêmio Nobel da Paz, que ele persegue obsessivamente. Um deles disse ao New York Times: “O Nobel da Paz será um prêmio ilegítimo até ser concedido a Trump, o presidente da paz”.