O presidente Donald Trump quer “salvar” o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de seu julgamento por corrupção. Ele escreveu aos israelenses: “Acabei de saber que Bibi (o apelido de Netanyahu) foi intimado a comparecer ao tribunal para dar continuidade ao processo em andamento (…) Tal caça às bruxas contra um homem que doou tanto, é simplesmente incompreensível para mim (…) O julgamento deve ser anulado imediatamente, ou ele deve receber anistia — para um verdadeiro herói que contribui tanto para o país”.
Trump concluiu: “Os Estados Unidos salvaram Israel e agora salvarão Bibi Netanyahu”. Na mensagem, postada na sua rede Truth Social, ele ainda diz que seu amigo “é, talvez, o maior guerreiro da história israelense”, e conta que “passamos pelo inferno juntos, lutando contra um velho, duro e brilhante inimigo de Israel — o Irã”.
A vida voltava ao normal na segunda-feira (23), em Israel. Não mais corrida aos bunkers. Não mais caças israelenses nos céus do Irã. O primeiro-ministro Netanyahu pediu duas semanas de folga das audiências à Corte Distrital de Jerusalém sobre seus três processos por fraude, quebra de confiança e suborno. Mas, de repente, o alívio popular e a vitória celebrada pelo governo ao final de 12 dias de duelos aéreos foram ofuscados por uma explosão que matou sete soldados israelenses em Khan Yunis, ao sul da Gaza — eles morreram ao entrar num antigo veículo blindado em que o Hamas havia plantado uma bomba.
A oposição voltou a questionar, o país de volta ao luto: o que Israel está fazendo em Gaza, depois de 20 meses? O front gazense, provisoriamente secundário, tornou-se de novo prioritário. Há 20 reféns vivos com o Hamas. O presidente Trump está prometendo obter um cessar-fogo rápido. Ele, que obrigou a aviação israelense a dar meia-volta quando iria bombardear o Irã, violando o cessar-fogo, sente-se à vontade para dar ordens ao governo e ao judiciário em Israel.
O jornal Haaretz desta quinta-feira (26) começou a publicar uma história de 28 das 17 mil crianças mortas em Gaza. O Ministério da Saúde do Hamas conta cerca de 60 mil palestinos mortos, sem diferenciar civis de combatentes (talvez 20 mil). E Israel está chegando aos dois mil mortos, incluindo os 1.200 do massacre de terroristas em outubro de 2023.
Com o fim das restrições às reuniões impostas pelo Front Interno, as famílias dos reféns vivos e mortos estão voltando as ruas para pressionar o governo. Levam cartazes que apelam diretamente a Trump: “Você acabou com a guerra no Irã, acabe agora com a de Gaza”.
A expectativa é a de que Netanyahu, livre de sua obsessão de décadas com a ameaça nuclear do Irã, e vitorioso, teria mais poder sobre sua coalizão para tomar medidas que a desagradem e que o tornem minoritário do Parlamento. Mas não: o ministro das Finanças da extrema-direita, Bezalel Smotrich, exigiu, e conseguiu, a suspensão da ajuda humanitária ao norte de Gaza, expropriada pelo Hamas, segundo filmes postados no YouTube. Não fosse atendido, ele ameaçava deixar o governo.
A média de 56 caminhões de ajuda humanitária está entrando todos os dias para os palestinos do sul de Gaza, aos quais foram distribuídos hoje 38.880 caixas de comida, suficientes para 3,5 dias para uma família de 5,5 pessoas.
O Hamas informou que 56 palestinos foram mortos nesta quinta-feira (26) em ataques israelenses, entre eles seis que esperavam caixas de comida, em dois centros de distribuição.
Netanyahu agradeceu a defesa que lhe fez Trump. Ele disse que é possível acabar com a guerra em Gaza em duas semanas, desde que quatro países árabes, entre eles os Emirados Árabes e o Egito, assumam o lugar do Hamas, cujos líderes partiriam para o exílio. Aqui, o problema é a inclusão da Autoridade Palestina, de Ramallah, que o governo israelense não aceita.
O prêmio para Israel será a ampliação dos Acordos de Abraão, que já incluem os Emirados Árabes, Bahrein, Marrocos e Sudão, e poderão atrair a Arábia Saudita, que, em troca, quer um futuro para o povo palestino.