O repórter perguntou ao presidente Donald Trump se ele acha o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu capaz de assinar um acordo que liberte os reféns e cesse o fogo na guerra de 588 dias e 53 mil palestinos mortos em Gaza – e mais outros 120 nos bombardeios desta sexta-feira. Estavam no Air Force One, voando para os EUA, depois de um tour de quatro dias pelo Golfo Pérsico.
“Não sei”, respondeu Trump. “Vamos saber muito em breve. Eles (os reféns) não estão em bom estado. Mas estamos trabalhando para recuperá-los”.
Trump volta para a Casa Branca com uma visão árabe do Oriente Médio e sem paciência para Netanyahu. Mudou em relação aos palestinos de Gaza, que antes propunha deslocar para outros países vizinhos como primeira providência para criar uma Riviera no Oriente Médio. Recebeu um refém israelense com cidadania americana por um gesto de boa vontade do Hamas. Ordenou um cessar-fogo unilateral com os Houthis, no Iêmen. Estabeleceu relações com a nova Síria, governada por um antigo jihadista da Al Qaeda. E está negociando a desnuclearização do Irã via diplomacia e não militarmente, como ainda sugere o governo israelense. Trump nem propôs a normalização de relações entre Arábia Saudita e Israel, como tinha prometido, percebendo a grande antipatia do rei e seus súditos por causa da guerra em Gaza.
O distanciamento dos EUA provoca consternação em Israel. “Perdemos uma histórica oportunidade para trazer os reféns de volta para casa”, disseram familiares dos reféns numa declaração divulgada nesta sexta-feira. “Um imenso fracasso que será lembrado como infâmia para sempre”. Especialistas publicam na imprensa artigos de análise sobre o que acontecerá se o suprimento de aviões e munições norte-americanos for interrompido. As redes sociais estão carregadas de protestos. Muita postagem critica Netanyahu por manter a guerra por “problemas pessoais”, para se manter no poder, e não por estratégia nacional.
Netanyahu violou o primeiro acordo de três fases com o Hamas antes do início da sua segunda fase, que determinava a retirada de Israel de Gaza e o fim da guerra, com a libertação de reféns em troca de prisioneiros palestinos. Ainda agora, Netanyahu se recusa a um cessar-fogo que não seja parcial, e ameaça uma escalada da guerra que já atingiu um nível insuportável para os 2.2 milhões de gazenses famintos e sem medicamentos, por bloqueio da entrada de ajuda humanitária no terceiro mês. Um dos bombardeios desta sexta-feira matou 14 pessoas de uma mesma família, todas civis.
As negociações em Doha, no Catar, mantiveram-se em impasse nas rodadas desta semana, mesmo sob forte pressão de Trump. Devem continuar durante o fim de semana, mesmo que a delegação israelense tenha comunicado que voltaria para Jerusalém, e depois o desmentiu. Ontem, o líder da oposição, Yair Lapid, mostrou-se esperançoso com um acordo, ao ser atualizado por Netanyahu, no Ministério da Defesa, em Tel-Aviv. Disse à imprensa: “Estamos a uma reunião do gabinete para um acordo”.
Perto do que deverá acontecer nos próximos dias, a escalada militar dos últimos dias “é um preâmbulo”, previu uma fonte israelense à CNN. Nesta sexta-feira, tanques de Israel avançaram no Norte de Gaza para Jabalya e Beit Lahiya, e ao Sul entre Khan Yunis e Deir al-Balah, no centro. A aviação israelense bombardeou 150 alvos por toda a Faixa de Gaza. No começo da tarde, o Ministério da Saúde do Hamas contava 120 mortos, sem distinguir civis de combatentes.
Trump prometeu combater a fome em Gaza. “Muita gente está faminta. Muita gente. Tem muita coisa ruim ocorrendo”. Até o fim de maio deverá ser reiniciada a ajuda humanitária para os palestinos. Uma fundação criada pelos Estados Unidos assumirá o controle da distribuição de mantimentos e medicamentos, com soldados israelenses responsáveis pela segurança.