Bombardeios aéreos sobre as ruínas de Gaza, multidão em Tel-Aviv gritando por “revolta cívica” para derrubar o governo — e no Catar mais uma proposta de cessar-fogo, neste sábado: libertação de dez reféns em troca prisioneiros palestinos e cessar-fogo de um a dois meses.
Os números definitivos de prisioneiros e dos dias de trégua ainda estão indefinidos. A base da proposta é a mesma já apresentada algumas vezes por Israel, mas rejeitada pelo Hamas por não incluir o fim da guerra, em seu 19º mês e 53 mil mortos, nem a retirada das tropas israelenses, que agora estão invadindo Gaza, para ficar.
Outra proposta existente implicaria na rendição e no desarmamento do Hamas, libertação dos 58 reféns vivos (20) e mortos (38), fim da guerra, administração de Gaza por tecnocratas árabes e sua reconstrução segundo um plano egípcio já apresentado, que seria financiado pela Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
A rede NBC de TV noticiou ontem, sexta-feira, que o governo Trump teria um projeto de transferir 1 milhão de gazenses para a Líbia, que os aceitaria em troca de bilhões de dólares congelados pelos EUA há mais de uma década, data do linchamento até a morte do líder líbio Muammar Kadafi, em 2011. A Casa Branca desmentiu a notícia.
A escalada militar em Gaza, por terra, não foi observada, ainda, porque talvez esteja à espera da reunião entre catarianos, egípcios, americanos, líderes do Hamas e israelenses em Doha, no Catar. Os últimos três dias com mais de 250 mortos, o mais letal desde o rompimento do cessar-fogo de dois meses em março, foi explicado, em Israel, como pressão para o Hamas voltar à mesa de negociações.
O ex-primeiro-ministro israelense Ehud Barak liderou a grande manifestação deste sábado por “revolta civil”, em Tel-Aviv. Para ele, Netanyahu tem “agido impulsivamente como um animal enjaulado”. E acrescentou: “Uma bandeira negra de ilegitimidade voa sobre cada uma de suas ações, e é nosso dever cívico agir de todas as maneiras possíveis para sua queda, antes que ele (Netanyahu) nos leve ao abismo”.
Foi Ehud Barak quem, em 2000, quando era primeiro-ministro, ofereceu ao líder palestino Yasser Arafat, em Camp David, nos EUA, a solução de dois estados, Israel e Palestina, para pôr fim ao histórico conflito entre os dois povos. Recusada, a proposta hoje ainda é considerada como viável, embora a Cisjordânia esteja cada vez mais colonizada por religiosos judeus ultranacionalistas, e sob ameaça de anexação, e Gaza, o porto, em ruínas.
Se sair um acordo parcial em Doha, Israel e Hamas deverão continuar negociando o fim da guerra durante o cessar-fogo. O jornal israelense Yedioth Ahronoth, em sua edição de fim de semana, escreveu que “Israel está se aproximando do dia em que não poderá dizer ‘não’ aos Estados Unidos”. A viagem do presidente Trump à Arábia Saudita, Catar e Emirados, nesta semana, foi mais que uma advertência a Netanyahu, excluído de encontros com potencial de definir uma nova geopolítica para o Oriente Médio”.