Os quatro caixões estavam num palco em Khan Yunis, atrás de uma cortina. Tocava uma marcha festiva e dezenas de crianças cantavam à frente de um pôster de vampiro com as feições do primeiro-ministro Netanyahu.
À chegada da Cruz Vermelha, a cortina foi aberta, e os caixões pretos, entregues. Homens armados do Hamas controlavam a multidão, onde se destacavam ex-prisioneiros recentemente trocados por reféns. A mídia israelense boicotou a transmissão de Khan Yunis, por antecipá-la macabra, mas a Al Jazeera a exibiu. No posto da fronteira de Israel, sapadores examinaram os caixões em busca de explosivos.
Enrolados em bandeiras israelenses, os caixões foram levados para ambulâncias, depois que o rabino-chefe do Exército recitou o Salmo 83. O cortejo fúnebre seguiu para Tel-Aviv. Nas estradas e ruas de cidades, as pessoas agitavam bandeiras israelenses com fitas amarelas na estrela de Davi, e balões amarelos para as duas crianças mortas com a mãe, uma de 4 anos e outra de 9 meses — a família Bibas, que se tornou o símbolo de todos os 250 reféns capturados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023.
Os pais de Shiri, a mãe das duas crianças ruivas, foram assassinados durante o ataque. O marido, Yarden, saiu da casa em que se encontravam, no kibutz Nir-Oz, para distrair os terroristas. Foi levado para Gaza, a cabeça sangrando, e trocado por prisioneiros palestinos no último 1º de fevereiro, sem saber o que tinha acontecido à mulher e filhos. No quarto caixão, o único que teve a identidade confirmada hoje pelos exames no Centro Nacional de Medicina Forense: o jornalista Oded Lifshitz, 85 anos, ativista da paz que trazia doentes de Gaza para tratamento em Israel. Ele e a esposa, a ex-refém Yocheved, eram dois dos fundadores do kibutz Nir-Oz, onde cerca de 400 membros foram assassinados.
O primeiro-ministro Netanyahu reiterou que se vingará do Hamas pelo espetáculo com os quatro caixões. O presidente Isaac Herzog escreveu nas mídias sociais: “Nossos corações — os corações de uma nação inteira — estão despedaçados. Em nome do Estado de Israel, curvo a cabeça e peço perdão. Perdão por não os proteger naquele dia terrível. Perdão por não os trazer para casa em segurança.”
Mais quatro caixões e seis reféns devem ser libertados, encerrando a primeira fase do cessar-fogo. Pelos mortos, Israel vai libertar, no sábado, mulheres e crianças detidas durante a guerra de 504 dias. Um acordo para a segunda fase, que prevê a retirada de Israel de Gaza e a libertação de todos os reféns, está paralisada por um impasse: Netanyahu quer a deportação dos líderes do Hamas e o desarmamento de seus combatentes.
Ao final do dia de luto, três ônibus vazios na garagem de Bat Yam, perto de Tel-Aviv, explodiram. E bombas foram encontradas em outros dois ônibus. O “Batalhão de Tulkarem”, do Hamas, na Cisjordânia, assumiu o atentado, postando uma declaração no Telegram: “A vingança dos mártires não será esquecida enquanto o ocupante estiver presente em nossa terra… Esta é uma jihad de vitória ou martírio.”
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da BandNews TV