A guerra mais longa e mortífera de Israel, 600 dias e 54 mil palestinos mortos, pode estar no fim se se confirmar o “pressentimento muito positivo” transmitido à imprensa, na Casa Branca, pelo enviado especial do presidente Trump ao Oriente Médio, Steve Witkoff.
As chances para alcançar um cessar-fogo são grandes, previu Witkoff, ao lado do presidente Trump, no Salão Oval. O Hamas enviou um rascunho do último plano proposto, já revisto pelo ministro de Assuntos Estratégicos de Israel, Ron Dermer, que está em Washington, e ele agora será devolvido ao Hamas para aprovação definitiva. Com o fuso horário entre EUA e Oriente Médio, uma resposta é esperada a partir desta quinta-feira.
“Israel vai concordar com um cessar-fogo temporário, receberá a metade dos reféns vivos e mortos, e participará de negociações para um cessar-fogo permanente, que eu aceitei presidir”, explicou Witkoff. Algumas informações foram omitidas: quantos prisioneiros palestinos serão libertados em troca de 10 reféns vivos e 19 mortos? O Hamas aceitou a presença de tropas israelenses em Gaza? A trégua será de quantos dias? Quando começarão as negociações para um cessar-fogo permanente?
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu está isolado pela condenação mundial de países aliados contra a escalada da guerra, suspensa a pedido do presidente Trump. Uma nova rodada de cartas abertas de militares e de vários outros setores da sociedade israelense, contra a guerra, está recolhendo assinaturas. As famílias de reféns, apoiadas por grande parte de população, promoveram uma grande manifestação hoje, com cartazes que criticam: “Seiscentos dias desde o fracasso (a invasão do Hamas que surpreendeu Israel), e outros 600 dias de fracasso (para a libertação dos reféns, ao todo 250). ” Um orador acrescentou, falando à multidão: “Seiscentos dias de abandono, de espoliação pública, de encobrimento da investigação do maior fracasso da nossa história”.
A guerra dos 600 dias contrasta com a Guerra dos Seis Dias, que completará 58 anos na semana que vem. Em 1967, Israel enfrentou o Egito, a Síria e a Jordânia, entre os dias 5 e 10 de junho. O mundo elogiou o desempenho e a estratégia israelenses. Há 600 dias, o mundo também apoiava Israel, quando o Hamas massacrou 1.200 israelenses, entre mulheres, grávidas, crianças e jovens que participavam de um festival de música no deserto do Neguev. Os terroristas tiravam selfies com corpos de mortos e telefonavam para parentes e familiares em Gaza, alegres, orgulhosos da vingança que explodiu, reprimida por vários anos.
A solidariedade internacional foi diminuindo com a brutalidade da represália, ampliada para o Hezbollah, no Líbano; para o Irã, com o primeiro tiroteio direto com mísseis, e para os Houthis, no Iêmen. O primeiro-ministro Netanyahu, condenado à prisão pelo Tribunal Penal de Haia, por crimes de guerra, ocupou a tribuna no Parlamento, em Jerusalém, nesta quarta-feira, e declarou, vitorioso: “Nós mudamos a face do Oriente Médio, estabelecemos o status de Israel como um poder regional – o oposto a um fracasso”. E ele ainda reafirmou seu compromisso em continuar a guerra até a vitória total, com todos os reféns de volta, o Hamas destruído, seus líderes exilados e Gaza desmilitarizada. “Vamos conseguir a vitória total” – concluiu.
Foi no Parlamento, ainda, que Netanyahu confirmou o assassinato do líder do Hamas, Mohammad Sinwar, no bombardeio recente à vizinhança de um hospital em Gaza. Voltando-se para a bancada da oposição, ele provocou: “A razão pela qual conseguimos essas vitórias foi porque não os ouvimos”.