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Moises Rabinovici: A cuidadosa retaliação do Irã à base dos EUA no Catar

Com aviso prévio e alvos calculados, Teerã reage aos bombardeios nas usinas nucleares sem escalar o conflito regional
Reprodução: BandNews TV

O Irã não quer ampliar a guerra para seus vizinhos que abrigam as bases dos 40 mil soldados estadunidenses no Oriente Médio. Mas ele tinha que reagir ao bombardeio dos caças B2 às suas três principais usinas nucleares. A retaliação foi planejada para minimizar vítimas, com aviso prévio ao Catar, sede da Base Aérea Al Udeid, o quartel-general do Comando Central dos Estados Unidos, que já estava em alto alerta, com antimísseis prontos para se defender dos mísseis iranianos. E assim ficou aberta uma porta para uma saída pacífica dos participantes — o atacante, o atacado e os países que fecharam seu espaço aéreo, como os Emirados Árabes Unidos e Bahrein.

A Arábia Saudita protestou, “nos mais pesados termos”, a “flagrante violação da lei internacional”. O Catar se reservou o direito de “responder diretamente, e de forma equivalente, a essa descarada agressão”. O presidente Donald Trump ameaçou “uma tragédia” para o Irã, se retaliasse, até dizendo saber onde está escondido, a prova de mísseis, o líder supremo aiatolá Ali Khamenei. A aviação israelense continuou disparando contra alvos iranianos, como a estrada que leva à usina nuclear de Fordo, o quartel dos paramilitares que vigiam a moral, os costumes e as vestimentas das mulheres do Irã, e um presídio.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, criticado por não saber sair de guerras, repetiu duas vezes que está “muito, muito perto” para sua aviação aterrissar num cessar-fogo. Ele pretendia destruir a capacidade nuclear do Irã. Até envolveu os EUA com suas bombas de 13 toneladas, únicas capazes de explodir nas profundezas da usina de Fordo. Mas será que o estoque de urânio foi vaporizado? Há rumores de que 400 quilos de urânio refinado foram retirados a tempo e podem virar 10 bombas atômicas.

O presidente Trump não gostou nada das dúvidas que estão surgindo sobre a eficiência dos bombardeios às usinas nucleares de Fordo, Natanz e Esfahan. E retaliou pela Truth Social, a sua rede na internet: “Os locais que atingimos no Irã foram totalmente destruídos, e todos sabem disso. Apenas as Notícias Falsas diriam algo diferente para tentar humilhar, o máximo possível — E até eles dizem que foram ‘muito bem destruídos!’”

O presidente francês Emmanuel Macron expressou sua “solidariedade” ao Catar e pediu uma desescalada e a volta às negociações. Outros líderes europeus fizeram coro. Em Moscou, o chanceler iraniano Abbas Araghchi se encontrou com o presidente Vladimir Putin, depois de reuniões com a França, Alemanha e Reino Unido, em Genebra, e com o presidente turco Erdogan, em Istambul. Putin não quis agravar tensões. Apenas comentou que o Irã sofreu “uma agressão absolutamente não provocada” — o mesmo caso, aliás, da invasão à Ucrânia. A Rússia em guerra, armada com drones e mísseis iranianos, não pode ajudar seu parceiro, a não ser politicamente.

Havia prontidão contra a retaliação do Irã também entre as forças americanas estacionadas na Síria e no Iraque, mas o alerta foi reduzido. O Bahrain, porto da quinta frota dos EUA, tocou a sirene, mas para alertar o fim do perigo.

O Irã diz que sua retaliação não acabou, vai continuar até “punir o agressor”, e só então poderá aceitar o caminho da diplomacia. Uma fonte do governo no Catar equiparou a retaliação de agora à de 2020, quando o Irã disparou uma rodada de mísseis balísticos contra uma base dos EUA no Iraque, vingando-se pelo assassinato do general Qasem Soleimani, ordenado pelo presidente Trump em sua primeira gestão, em 2020.

O Irã está muito enfraquecido com os nove dias de ataques aéreos israelenses, seu sistema de defesa aérea destruído e o estoque de mísseis reduzido. O aiatolá Khamenei, 86, perdeu toda a sua cúpula militar, o Hezbollah, o apoio sírio de Al-Assad, o Hamas, e só lhe restam os Houthis, no Iêmen. Ele reapareceu hoje na plataforma X, onde postou: “O Irã não foi quem iniciou este conflito e não aceitará ser alvo de ninguém, em nenhuma circunstância. Não nos submeteremos ao assédio de ninguém. Esta é a lógica por trás da nação iraniana”.

O representante da Casa Branca para as negociações de cessar-fogo nas guerras na Ucrânia, em Gaza e, agora, no Irã, Steve Witkoff, tentou incentivar seus parceiros iranianos para uma rodada de conversa em Omã ou na Itália, mas não conseguiu, porque o aiatolá Khamenei é quem deve autorizá-la, e ele não tem saído de seu abrigo blindado.

 

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