Joelho inchado sem dor: quando se preocupar e o que fazer

Cartilagem que cicatriza pouco e falhas no amortecimento podem gerar inchaço e dor, especialmente em atletas

A cartilagem do joelho é um dos tecidos mais importantes para o desempenho esportivo: é uma camada que recobre os ossos para reduzir o atrito entre eles e permitir um deslizamento suave. Diferentemente de músculos, tendões e ligamentos, a cartilagem não tem vasos sanguíneos nem nervos — isso significa que sua capacidade de cicatrização é extremamente limitada, e a dor pode aparecer apenas quando a lesão é mais extensa e profunda, comprometendo o osso. Dessa forma, muitos atletas têm lesões de cartilagem silenciosas até que se tornem sintomáticas, decorrentes de traumas de repetição ou após cirurgias no joelho, como reconstruções ligamentares ou meniscais. Aproximadamente 20% a 30% dos atletas submetidos a procedimentos no joelho, mesmo uma simples artroscopia, apresentam lesões na cartilagem articular, passíveis de progressão e dor.

Por que a dor persiste após a cirurgia?

Mesmo quando o procedimento inicial é bem-sucedido, a cartilagem pode permanecer danificada. Uma pequena falha no revestimento articular já é suficiente para provocar atrito anormal e inflamação. Em atletas, esse impacto é ainda maior, porque a demanda mecânica é intensa: saltos, mudanças bruscas de direção e velocidade exigem um joelho com absorção de impacto perfeita. Quando essa superfície não está íntegra, a articulação responde com dor, inchaço e episódios de travamento.

Outro ponto importante é que lesões ligamentares — como a ruptura do LCA — costumam vir acompanhadas de danos na cartilagem, mesmo que pequenos. Durante a reabilitação, a sobrecarga precoce, a perda de força do quadríceps e o déficit de controle neuromuscular podem perpetuar o estresse sobre áreas já fragilizadas, dificultando a cicatrização.

Além disso, lesões de cartilagem têm grande chance de progressão e devem ser acompanhadas de perto.

Quando é necessário investigar novamente

A dor após a cirurgia pode não significar falha do procedimento. Alguns sinais sugerem que algo não está evoluindo como deveria:

  • persistência de dor nas atividades do dia a dia
  • aumento do inchaço após treinos leves
  • sensação de “areia” ou atrito dentro do joelho
  • “travamentos” ou estalos dolorosos
  • perda de força ou dificuldade para flexionar completamente

Nesses casos, o ortopedista costuma solicitar uma ressonância magnética específica para cartilagem ou exames complementares que avaliem a qualidade da superfície articular. Em alguns atletas, para entender melhor a lesão, a artroscopia diagnóstica pode estar bem indicada.

Dependendo dos achados, podem ser necessárias intervenções para reparo da lesão, desde um simples desbridamento até a implantação de membranas ou enxertos de cartilagem. A escolha depende do tamanho e da profundidade da lesão.

Como o atleta pode proteger o joelho no retorno ao esporte

A reabilitação adequada é tão importante quanto a cirurgia e deve ser individualizada, dependendo do local da lesão e da técnica cirúrgica. Para que o joelho volte a funcionar com eficiência, três pilares precisam estar bem ajustados: força, alinhamento e controle neuromuscular. Isso significa:

  • fortalecimento específico do quadríceps e glúteos
  • correção de desalinhamentos, como valgo dinâmico
  • trabalho de propriocepção e estabilidade
  • progressão gradual de impacto e carga
  • ajuste de calçados e terreno de treino

A dor persistente não deve ser ignorada. Ela é um alerta para investigação, pode indicar comprometimento da cartilagem e evoluir para um desgaste maior, reduzindo a vida útil da articulação. Com diagnóstico preciso e tratamento adequado, é possível preservar o joelho e permitir que o atleta continue no esporte com segurança, desempenho e longevidade.

Dra. Camila Cohen Kaleka – CRM/SP 127.292 RQE 57.765

Ortopedista

Mestrado na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

Doutorado no Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein

Membro da Brazil Health

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