Os israelenses já estão se preparando para eleições antecipadas. Basta entrar nas redes sociais para constatar. Um dos maiores grupos no X e no WhatsApp, liderado pelo empresário de tecnologia e escritor Ami Dror, anunciou nesta sexta-feira (18): “Boa notícia! O governo está se desintegrando, tornou-se minoritário. Os partidos religiosos entraram em colapso. O acordo dos reféns (o cessar-fogo em Gaza) é iminente. O fim da guerra está próximo!”
Ami Dror, autor do livro “Lutando pela Democracia em Israel”, mudou o nome de seu grupo para “Preparando-se para a Eleição”. Pode ser excesso de otimismo, mas ele está se baseando na nova realidade que resulta das pressões do presidente Donald Trump ao premiê Benjamin Netanyahu; da maioria de um voto a que ficou reduzida a coligação no Parlamento, ameaçada de se tornar minoritária depois do recesso parlamentar de três meses; e das grandes manifestações pela libertação dos 21 reféns vivos e 35 mortos em Gaza, acrescidos do isolamento internacional em que se encontra Israel, por causa de sua pesada retaliação à invasão do Hamas em outubro de 2023 e do bloqueio da ajuda humanitária aos 2,2 milhões de palestinos entre 2 de março e 19 de maio.
Nesta sexta-feira (18), ao lamentar ao Papa Leão XIV as três mortes, feridos e destruição causados por fragmentos de um obus que atingiram a igreja da Sagrada Família em Gaza, “a igreja do Papa Francisco”, Netanyahu ouviu mais um apelo por um cessar-fogo. Logo depois, o apelo foi repetido pelo chanceler alemão Friedrich Merz, que lhe pediu a urgente entrada de mais ajuda humanitária aos palestinos, além de adverti-lo contra a anexação da Cisjordânia, forçada pelos ministros religiosos da direita radical de seu governo, Bezalel Smotrich e Ben Gvir.
Pelos novos mapas apresentados aos negociadores no Catar e no Cairo, Israel acedeu à concessões capazes de desbloquear as negociações, segundo um diplomata árabe. As novas posições das tropas israelenses, durante os 60 dias iniciais de trégua, inviabilizam o plano da polêmica “Cidade Humanitária” que abrigaria 600 mil palestinos candidatos ao exílio em países vizinhos, chamada de “campo de concentração”. O perímetro de Israel em Gaza ficou reduzido a um quilômetro de largura, quando antes era de três.
Com a retirada israelense das regiões central e sul de Gaza, a controvertida Fundação Humanitária (FHG), criada por Israel e Estados Unidos para impedir o acesso do Hamas aos caminhões com mantimentos, e onde muitos palestinos morreram em filas de espera, está com os dias contados. A ONU voltará a ser responsável pela distribuição da ajuda humanitária.
Sinal de progresso, os negociadores do Hamas e de Israel já estão discutindo o câmbio de reféns vivos e mortos por prisioneiros palestinos. Pela última proposta, 125 prisioneiros condenados à prisão perpétua, e 1.111 que foram detidos durante os 26 meses de guerra, seriam trocados pelos 55 reféns vivos ou mortos, dos quais 10 vivos e 18 mortos estão previstos para a primeira troca do acordo. A liderança do Hamas pede a libertação de Marwan Barghouti, a quem entregaria a liderança da Autoridade Palestina, e de Ahmad Saadat, líder de 72 anos da Frente Popular de Libertação da Palestina. É pouco provável que Israel os liberte, pelo menos nessa fase de cessar-fogo parcial, deixando-os para o fim, ou um acordo de paz permanente.
O primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, partiu de um jantar na Casa Branca, com o presidente Trump, para Doha, onde, neste sábado (19), vai receber a delegação do Hamas nas negociações. Falta agora o compromisso palestino para o final. Durante a trégua de 60 dias, Israel e Hamas começarão a negociar o cessar-fogo permanente. O otimismo da oposição israelense com as eleições antecipadas não requer a conclusão do acordo. O que está em jogo é o próprio premiê Netanyahu que, no entanto, é conhecido como “o sobrevivente”, por ter vencido várias crises em seus 15 anos no poder.