O presidente Donald Trump está fazendo com seu amigo e primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, o que fez com o presidente da Ucrânia, Volodymir Zelensky: começou a negociar diretamente com o inimigo israelense, o Hamas.
Na quarta-feira à noite, o enviado de Trump ao Oriente Médio, Steve Witkoff, sentou-se à mesa de negociações com líderes do Hamas e mediadores do Egito e do Catar, em Doha. E o resultado foi considerado “positivo”.
Netanyahu não ficou satisfeito ao saber do contato direto entre EUA-Hamas, proibido por décadas: os diplomatas estadunidenses, até agora, não podiam se encontrar com quem está em sua lista do terror global— sejam organizações ou pessoas. “Israel expressou aos Estados Unidos sua posição em relação às negociações diretas com o Hamas” — foi o comunicado divulgado pelo gabinete do primeiro-ministro.
Pelas informações vazadas, as negociações abordaram até mesmo quem vai governar Gaza quando e se a guerra acabar. Mais: teria sido aberto o caminho para uma segunda fase do acordo de cessar-fogo com o Hamas, emperrado por posições inconciliáveis.
Faz uma semana que o cessar-fogo terminou. Israel propôs uma extensão, com parte dos 59 reféns ainda em Gaza, 35 dos quais mortos, devolvidos no início do novo acordo, e o restante no final. Esse período cobriria o mês sagrado do Ramadã, para os muçulmanos, e o Pessach, a Páscoa, para os judeus. O Hamas o rejeitou, porque não contém o que considera fundamental: o fim da guerra. Na primeira fase do acordo, foram libertados 30 reféns vivos, dos quais 20 civis israelenses, cinco soldados e cinco cidadãos tailandeses, além dos corpos de oito sequestrados mortos em cativeiro.

Trump voltou a falar em abrir as portas do inferno em Gaza, recebeu reféns libertados na Casa Branca, enviou bombas de alto calibre para “Israel terminar o trabalho com o Hamas”, mas, ao mesmo tempo, iniciou contatos diretos com a liderança do Hamas, sem Netanyahu, como o fez ao negociar a paz na Ucrânia com o presidente Vladimir Putin, sem incluir o presidente Zelensky e os aliados europeus.
O jornal Times of Israel publicou nesta quinta-feira que “as negociações — de natureza sem precedentes — foram amplamente focadas na libertação do refém americano-israelense Edan Alexander, e a devolução dos corpos de Itay Chen, Omer Neutra, Gad Haggai e Judi Weinstein”, que têm dupla nacionalidade.
Os encontros no Catar começaram com o enviado da Casa Branca para assuntos de reféns, Adam Boehler, e agora estão com Steve Witkoff, que também operou nas negociações para a paz na Ucrânia. Segundo a Sky News Arabic há um projeto de cessar-fogo de 60 dias em que dez dos reféns israelenses seriam libertados.
O Hamas não gostou dos ultimatos de Trump à margem dos primeiros contatos diretos: o seu porta-voz, Abdel-Latif al-Qanua, comparou-os às tentativas de Netanyahu de evitar um novo acordo de cessar-fogo.
Por uma sondagem de opinião pública feita pelo Canal 12 israelense, o ex-primeiro-ministro Naftali Bennet, com 36% de votos, venceria o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, com 34%, se as eleições fossem hoje. Mas nenhum dos dois conseguiria formar um governo. Outro resultado: 60% do público quer a renúncia de Netanyahu, contra 31% que o apoiam no cargo, e 9% que não sabem. Entre os eleitores da coligação do governo, 24% querem que renuncie, e entre os da oposição, 94%.