Excesso de peso aumenta risco de câncer em mulheres: saiba como se proteger

Excesso de gordura corporal altera hormônios, inflama o corpo e eleva o risco de tumores de mama, endométrio e ovário

Por muito tempo, a obesidade foi vista apenas como questão estética ou de estilo de vida. Hoje, a ciência reconhece que se trata de uma doença crônica, multifatorial e com consequências graves, incluindo o aumento do risco de vários tipos de câncer. Entre as mulheres, o impacto é ainda mais preocupante: o excesso de gordura corporal está diretamente ligado a maior incidência de tumores de mama, endométrio e ovário, três dos principais cânceres femininos.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que mais de 60% das mulheres brasileiras estão acima do peso e cerca de 30% já são obesas. O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que o excesso de peso responda por até 16% dos casos de câncer de mama após a menopausa. Isso significa que, ao lado do tabagismo e do sedentarismo, a obesidade é um dos fatores de risco mais relevantes, e também um dos mais evitáveis, para prevenir o câncer feminino.

Como o excesso de gordura influencia o desenvolvimento do câncer

A explicação envolve uma combinação de fatores hormonais e inflamatórios. O tecido adiposo, além de armazenar energia, é metabolicamente ativo: produz hormônios e substâncias inflamatórias que afetam o equilíbrio do corpo. Nas mulheres, o excesso de gordura aumenta a conversão de andrógenos em estrogênio, o principal hormônio feminino. Em níveis elevados e mantidos por longos períodos, esse hormônio estimula o crescimento anormal de células em tecidos sensíveis, como mamas e endométrio, favorecendo o surgimento de tumores.

Além disso, a obesidade promove um estado de inflamação crônica de baixo grau. As células adiposas liberam citocinas inflamatórias, como a interleucina 6 (IL-6) e o fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa), que alteram o sistema imunológico e reduzem sua capacidade de eliminar células defeituosas. Também há maior resistência à insulina e aumento da glicose no sangue, um ambiente propício ao crescimento tumoral. Em conjunto, esses mecanismos criam um cenário biológico que favorece o aparecimento e a progressão de diferentes tipos de câncer.

O papel da prevenção e da mudança de hábitos

A boa notícia é que pequenas mudanças no estilo de vida já reduzem significativamente esse risco. Estudos mostram que perder apenas 5% a 10% do peso corporal melhora o equilíbrio hormonal, diminui a inflamação e ajuda a normalizar os níveis de insulina. A prática regular de atividade física, mesmo em intensidade leve a moderada, reduz o risco de câncer de mama e de endométrio, especialmente após a menopausa.

A alimentação também exerce papel fundamental. Dietas ricas em frutas, legumes, verduras, fibras e gorduras boas ajudam a modular a inflamação e equilibrar o metabolismo. Reduzir o consumo de ultraprocessados, açúcares e álcool é essencial para manter o peso adequado e preservar a saúde das células.

O combate à obesidade deve ser visto não como uma questão de estética, e sim como uma estratégia de prevenção de doenças graves, incluindo o câncer. Isso exige informação, acompanhamento médico e políticas públicas que incentivem a alimentação saudável e a prática de atividades físicas.

Cuidar do peso é cuidar do corpo como um todo: do coração, do cérebro e, especialmente, das células que garantem a vida. No caso da mulher, também é uma forma de preservar o equilíbrio hormonal e reduzir as chances de enfrentar um diagnóstico que poderia ter sido evitado.

Dra. Larissa Müller Gomes – CRM/SP 180158 | RQE 78497

Oncologista clínica

Membro Brazil Health

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