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“A gente quer viver”, afirma Valenttino, a primeira travesti a vencer o prêmio Shell de melhor atriz

“Tem que parar de falsamente incluir (...) quantas travestis você tem como amiga, sabe, quantas travestis almoçam com você?"

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Juliano Dip

26/04/2023 20:02

Verônica

Fonte: Alexia Marilia

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“Travestis vivas”, bradou Verônica Vallentino, ao receber o prêmio Shell. Foi a primeira vez que uma mulher trans venceu na categoria ‘melhor atriz’. O fato já seria revolucionário pelo seu ineditismo, ainda que tardio, mas o discurso de Valenttino, a força dessa mulher reforçou não só a representatividade de uma travesti que desafiou as estatísticas e superou a expectativa de vida das mulheres trans no Brasil, mortas em média aos 35 anos de idade, mas também a luta da protagonista que ela representa nos palcos, a ativista Brenda Lee.


Convidada desta semana do podcast Toda Gente, a atriz e cantora contou os desafios que enfrentou na vida para construir uma carreira sólida no teatro e na música, bem como a saga do musical que a acompanha desde os tempos da pandemia, época de apresentações exclusivamente on-line, quando estreou Brenda Lee e o palácio das princesas, até hoje em cartaz.


“Esse musical fala de uma ‘transcestral’ nossa e ganhar todos os prêmios de 2022 e 2023 é surreal”, afirma Valenttino, que usa o neologismo “transcestral” para se referir a Brenda e a todas as mulheres trans que vieram antes dela, que abriram caminho para sua existência.


Ao longo dos anos a casa de Brenda Lee passou a recebe inúmeras travestis e homens gays que transformaram o local no primeiro centro de apoio e acolhimento a pessoas com HIV/Aids no Brasil. Através de seu espaço, batizado de Palácio das Princesas, Brenda firmou convênios com a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo e com o Hospital Emílio Ribas, abrindo caminho para o aprimoramento no atendimento a pacientes soropositivos, independente de gênero, sexo, orientação sexual e etnia.


A peça aborda a vida de Brenda e das muitas “princesas” que por ali passaram até o ano de 1996 quando ela foi assassinada brutalmente, aos 48 anos de idade. De lá para cá pouca coisa mudou, a maioria das travestis brasileiras ainda cresce e morre vítima de violência. Verônica Valenttino afirma que por mais que ela e outras mulheres trans passem a ocupar outros espaços o preconceito ainda predomina.


“Eu fui convidada para cantar em um bloco aqui em São Paulo e a primeira pergunta que eu fiz foi quantas travestis tinham no bloco, aí foi um gelo porque não tinha travesti nenhuma”, exemplifica. “Tem que parar de falsamente incluir, como é que você vai fazer uma música sobre isso no bloco se você não tem essa proximidade, quantas travestis frequentam a sua casa, quantas travestis você tem como amiga, sabe, quantas travestis almoçam com você? Não vai mudar se nós não desmistificarmos essa imagem marginalizada do nosso corpo”, conclui.


Em seu trabalho atual a inclusão se faz presente. Brenda Lee e o palácio das princesas traz em cena seis as atrizes transvestigêneres, Verónica Valenttino, Olivia Lopes, Tyller Antunes, Andrea Rosa Sá, Rafaela Bebiano e Leona Jhovs, além do ator cisgênero Fabio Redkowicz. Para conferir a montagem basta acompanhar o @nucleoexp, o musical segue em cartaz no Núcleo Experimental, coletivo teatral criado em 2005 e pretende viajar o país.


A entrevista completa da @valenttino você confere no podcast Toda Gente. Vem ouvir que ela tem muito a dizer. “Chega de nos matar, chega de sobrevivermos, a gente fez um pacto e esse pacto é de vida”, finaliza a atriz.






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