Toda Gente

A Baleia, o cinema e a gordofobia

Juliano Dip estreia coluna no site do Bandnews TV

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Juliano Dip

09/03/2023 08:55

A baleia

Fonte: Reprodução

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Não é preciso ver o filme A Baleia para não gostar do título. A imagem de um homem com excesso de peso associada ao nome de um animal frequentemente utilizado para ridicularizar pessoas gordas é o suficiente para gerar aversão ao filme e ao nome. Além disso, trouxe gatilhos de ansiedade e pânico em pessoas que sofrem ou já sofreram gordofobia. Ainda assim fui ver o filme e entrevistar críticos de cinema e pessoas ligadas a militância gorda.



Não há dúvidas sobre a excelente interpretação de Brendan Fraser, que, talvez, salve o filme de críticas ainda mais duras. “A compulsão alimentar é retratada de forma muito inconveniente”, afirma Filipe Rodrigues, jornalista convidado desta semana do podcast Toda Gente. “É imediata a associação da obesidade à sujeira. Quem conhece pessoas com compulsão alimentar sabe que não é bem assim, já que o comportamento compulsivo claramente pode se manifestar de forma menos animalesca”, conclui.


Trouxe também para essa conversa Alexandra Gurgel, do Movimento Corpo Livre, para quem gordofobia não é novidade, como ela deixa claro já na primeira fala do podcast “com nove anos de idade eu fui ao médico e o médico virou pra mim falou que ninguém a me querer porque eu era gorda”. Com o tempo ela passou a acredita naquela informação. “Eu entendi, olhando ao meu redor, no entretenimento, na televisão, em todos os lugares, que o médico estava certo mesmo, porque em nenhum lugar a gente via as pessoas gordas fora do estereótipo da gorda que é uma coitada, a gorda que ninguém quer, a gorda relaxada, a gorda fracassada, a gorda que é virgem e tem que fazer muito esforço pra alguém querer fazer uma caridade pra ficar com a pessoa”.


No filme de Darren Aronofsky o personagem de 270 quilos tem vergonha até de abrir a câmera do computador e mostrar o rosto para seus alunos. Esconder o corpo é mais comum do que se imagina. Alexandra está divulgando uma pesquisa que revela que 20% das pessoas gordas não vão à praia por simplesmente não caberem nas cadeiras de praia; 50% das pessoas com deficiência não vão por falta de estrutura. Além disso, cerca de 69% dos PCDs e 45% das pessoas gordas relataram já terem sofrido algum tipo de preconceito na praia. Sobre o acesso ao mar, 50% das pessoas com mobilidade reduzida não vão por não terem acesso a rampas à areia e à água, e 18% das pessoas obesas alegam a mesma dificuldade. Diante do cenário, o acesso aos banheiros públicos também se torna um desafio para esses perfis – para 48% das pessoas com deficiência e 24% de perfis obesos, os locais não são seguros e nem inclusivos.


Ao trazer um protagonista que enfrenta problemas de saúde agravados pelo excesso de peso A Baleia não ajuda em nada pessoas que passam pela mesma situação. Não humaniza, não atrai empatia. Além disso, o filme perde a oportunidade de explorar outro preconceito que percorre e estraga a vida do protagonista, a homofobia.


O debate é longo e segue no podcast Toda Gente, um podcast sobre nós, uma sociedade mais justa, sem preconceito.


*Texto do repórter e apresentador Juliano Dip, que assina coluna no site do BandNews TV

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