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Como as big techs estão moldando o futuro das startups no Brasil

O papel transformador do Google no ecossistema de startups brasileiras

Em um momento em que o mundo gira em torno da inteligência artificial e da transformação digital, as big techs assumem um papel cada vez mais estratégico no fortalecimento do ecossistema de inovação. Para entender melhor essa dinâmica, o Trilha da Inovação conversou com André Barrence, Head do Google for Startups para a América Latina. Com mais de duas décadas de experiência na construção de políticas públicas e no apoio ao empreendedorismo, Barrence é uma das vozes mais influentes do setor no Brasil.

Durante a conversa, ele traçou um panorama preciso sobre os caminhos que startups e investidores estão percorrendo, os desafios e oportunidades que a IA traz para o mercado e o papel decisivo que empresas como o Google assumem no fomento a novas soluções e modelos de negócio.

De políticas públicas a startups: uma trajetória de impacto

Barrence iniciou sua jornada profissional no setor público, com foco na criação de estruturas para inovação, como parques tecnológicos, incubadoras e programas de fomento em Minas Gerais. A experiência internacional em Londres — onde fez mestrado na London School of Economics e fundou uma startup — consolidou sua visão sistêmica sobre como se constrói um ecossistema vibrante e sustentável. “A inovação leva a desenvolvimento econômico e prosperidade. Foi isso que me motivou a continuar nesse caminho”, conta.

De volta ao Brasil, ele cofundou uma das primeiras aceleradoras do país, o Seed (em Belo Horizonte), e em 2015 recebeu o convite do Google para liderar o Google for Startups na América Latina, que começava sua operação local com a inauguração do Campus em São Paulo. Hoje, a iniciativa já acelerou mais de 470 startups.

A força das big techs como vetores de inovação

Ao longo da entrevista, Barrence destacou o papel das big techs como catalisadoras da inovação — não apenas por suas tecnologias, mas pela capacidade de conectar talentos, distribuir conhecimento e criar redes globais de apoio ao empreendedorismo.

“Empresas como o Google têm o privilégio e a responsabilidade de estar presentes desde o ‘dia zero’ da startup. Desde o momento em que um fundador compra um domínio e cria um e-mail no Gmail, estamos lá”, afirma.

Para ele, esse envolvimento vai além do suporte técnico: trata-se de oferecer ferramentas, mentorias e até capital para fomentar novas soluções, ao mesmo tempo em que se democratiza o acesso à tecnologia.

“Hoje é possível construir um MVP em poucos dias usando apenas ferramentas de IA. Fundadores que não são técnicos conseguem criar protótipos funcionais que, há alguns anos, exigiriam equipes inteiras. Isso muda tudo”, completa.

AI Academy: Brasil lidera novo programa global do Google

Como parte dessa estratégia de apoio à inovação, o Google for Startups anunciou o lançamento do AI Academy, um programa de aceleração voltado a startups brasileiras que utilizam inteligência artificial em suas soluções. O Brasil é o primeiro país do mundo a receber essa iniciativa.

Com duração de 10 semanas, o programa oferece acesso a ferramentas do Google Cloud, mentorias com especialistas em IA, machine learning, segurança e modernização de aplicativos, além de oportunidades de networking com outras startups e a comunidade alumni do Google for Startups. A proposta é clara: aumentar a capacidade das startups brasileiras de desenvolver tecnologias avançadas e consolidar o Brasil como referência em inovação com IA.

“A ideia é colocar esse superpoder — a inteligência artificial — na mão de mais empreendedores. Queremos formar uma nova geração de startups que nascerão preparadas para o futuro”, diz Barrence.

Startups AI-first e a reinvenção dos modelos de negócio

Ao ser questionado sobre o impacto da IA no mercado, Barrence destacou uma mudança profunda nos fundamentos do empreendedorismo. Segundo ele, há dois grandes grupos de startups: as que usam IA para ganhar eficiência e as que já nascem como AI-first, com produtos construídos do zero sobre modelos fundacionais como o Gemini, do próprio Google.

“Essas startups estão reinventando a maneira como produtos são concebidos, entregues e monetizados. Elas não estão apenas competindo, estão criando novas categorias”, explica.

Além disso, ele destaca que o maior potencial de inovação no Brasil está na camada de aplicações — ou seja, no uso inteligente e localizado de tecnologias já desenvolvidas por big techs, personalizadas com dados proprietários. “Os dados são ouro. A startup que souber usá-los bem pode criar soluções que resolvam problemas específicos de maneira única.”

O ecossistema brasileiro e a nova fase do venture capital

A entrevista também abordou a oscilação do mercado de venture capital nos últimos anos: o boom entre 2020 e 2021, a retração subsequente e os sinais de retomada. Barrence observa que, embora grandes rodadas estejam menos frequentes, o estágio inicial (early stage) continua promissor.

“O capital está mais seletivo, mas as boas ideias com bons fundadores continuam atraindo investidores. E com as ferramentas atuais, é possível fazer muito com pouco. Isso torna o early stage ainda mais interessante”, afirma.

Ele também aponta o crescimento das operações de M&A e do interesse de fundos corporativos (CVCs), sinalizando uma maturidade crescente do ecossistema brasileiro.

O futuro é agora — e ele será imersivo

Para Barrence, o futuro das startups passa por uma transformação não apenas tecnológica, mas experiencial. Durante o Google I/O, ele destacou o lançamento do Project Astra, ferramenta que utiliza a câmera do celular e IA multimodal para interações em tempo real com o ambiente — sem necessidade de novos dispositivos. “Você aponta a câmera para algo e o assistente te orienta em tempo real. É como ter um especialista sempre com você. Essa é a nova fronteira da interação homem-máquina. ”

Empreender com propósito em tempos exponenciais

Finalizando nossa conversa, André Barrence compartilhou um conselho simples e poderoso para quem deseja tirar sua ideia do papel:

“Escolha um problema que você realmente se importa. Empreender é acordar todos os dias com entusiasmo para resolver esse problema. Combine isso com curiosidade, velocidade de execução e clareza de propósito. E lembre-se: você não precisa saber tudo, só precisa saber o suficiente para começar. ”

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