Dois meses após a execução de Vinícius Gritzbach no Aeroporto Internacional de Guarulhos, tivemos acesso a um relatório importante da Polícia Federal. O documento revela uma conversa em que o empresário foi ameaçado antes de ser morto. Um homem identificado como “Tacitus” afirmou a Gritzbach: “Você será decretado, ou seja, condenado à morte, por escolhas erradas.” O homem não identificado também fez ameaças à família do advogado.
Segundo o texto de “Tacitus”, a sentença de morte foi motivada pela delação de Vinícius, que ajudou a polícia a localizar as “casas-cofre do PCC” na zona leste de São Paulo. Esses imóveis eram utilizados para esconder dinheiro, armas e drogas da facção. Tacitus menciona duas casas-cofre de onde, supostamente, foram roubados seis milhões de reais por dois investigadores que estão presos desde setembro do ano passado. Conforme apurado pela PF, o delator foi ameaçado por dois policiais civis e acabou revelando a localização de 15 esconderijos do PCC, resultando em um prejuízo estimado em R$ 90 milhões para a facção.
A polícia ainda não conseguiu identificar a pessoa que se apresenta como Tacitus, mas suspeita que ele seja integrante do PCC e tenha ligação com o assassinato do empresário. O material está sendo analisado com cautela; enquanto algumas mensagens geram dúvidas, outras detalham a atuação de Gritzbach e o envolvimento de policiais civis da capital paulista.
Em um e-mail, Tacitus se dirige a uma delegada do DHPP e questiona a atuação dos dois investigadores que, supostamente, invadiram as casas-cofre sem mandado judicial. O remetente misterioso também critica o corporativismo, sugerindo que ele seja deixado de lado.
O relatório, com mais de 680 páginas, inclui ainda uma análise sobre o vazamento de informações policiais referentes à identificação dos suspeitos de participação na execução no aeroporto. Para a PF, o vazamento pode ter sido uma tentativa de desviar o foco das investigações.
No último dia 17 de dezembro, uma operação da PF resultou na prisão de cinco policiais civis e três integrantes do PCC. Entre os detidos estão os investigadores Rogério Almeida Felício, conhecido como Rogerinho, Eduardo Monteiro, e o delegado Fabio Baena, que comandava a 2ª divisão de homicídios do DHPP na época em que se iniciou a apuração da morte do líder do PCC, Anselmo Santa Fausta, conhecido como “Cara Preta”. O grupo é acusado de extorquir Vinícius Gritzbach em troca de livrá-lo de um inquérito.
Os agentes presos prestam depoimento à Polícia Federal nesta terça-feira (7). A expectativa é de que o conteúdo das oitivas traga mais embasamento às investigações. A Secretaria de Segurança Pública informou que colabora com os trabalhos da PF e que uma força-tarefa está dedicada ao caso.