Organizador de mais de 500 desfiles de marcas renomadas internacionalmente, como Gucci, Saint Laurent, Chanel, Versace, Dolce & Gabbana,Ferragamo, Valentino e Giorgio Armani, Francesco Dessì tem outros talentos além da dinâmica dos vestuários. É um ótimo historiador.
Francesco iniciou sua carreira em Paris, colaborando com a prestigiosa casa de moda Saint Laurent e tendo a oportunidade de conhecer pessoalmente a lendária estilista Coco Chanel. Desde então, o artista se tornou um verdadeiro pioneiro no mercado e especialista na evolução da moda. Junto ao Circolo Italiano e o Instituto Europeo di Design (IED), Dessì comemorou os 150 anos da imigração italiana no Brasil com a palestra “A genialidade da moda italiana”. O artista tornou-se pioneiro no mercado, integrando a moda ao patrimônio cultural italiano.
Quando teve contato com outros estilistas, Francesco chegou à conclusão de que moda, muito mais do que uma simples escolha de vestuário, é uma expressão cultural e histórica que reflete os valores e as transformações da sociedade ao longo dos séculos. Desde as civilizações antigas até o contemporâneo, os tecidos, os cortes e os estilos narram uma tapeçaria de evolução.
Toda a trajetória da evolução da moda contribuiu para o que temos hoje. A linha do tempo não apenas influencia as tendências, mas também reflete mudanças sociais profundas, estabelecendo um diálogo contínuo entre moda e identidade.
A linha do tempo do glamour
Na antiguidade, civilizações como a chinesa e a egípcia já demonstravam uma preocupação significativa com a moda e a estética. “As princesas chinesas usavam colares de jade para armazenar perfumes e disfarçar odores, já que o acesso à água para banhos era limitado”, explica Francesco. No Egito, a cosmética e a higiene eram fundamentais. “Os egípcios se depilavam completamente e utilizavam ingredientes naturais para cuidados com a pele”, acrescenta.
Revolução do Século XX
Com a chegada do século XX, a moda passou por uma revolução. Dessì lembra da chegada de Coco Chanel e Christian Dior, que tornaram-se ícones ao redefinirem a silhueta feminina. Dior, com sua coleção New Look, trouxe um retorno ao glamour, após o final da 2ª Guerra Mundial, trazendo cortes com marcações que ressaltavam a silhueta feminina, em especial, a cintura.
A Rebeldia dos Anos 60/70 e a inovação dos anos 80
Os anos 60 foram marcados pela libertação feminina e a ousadia estilística. A designer Mary Quant, mencionada por Francesco, ao criar a minissaia, proclamou: “A mulher não precisa ser formosa, mas deve ser livre e autêntica.” Esse período também foi palco do movimento hippie, que desafiou normas com seu estilo casual e descontraído.
“Ela defendia que a mulher não deveria ser apenas formosa, mas também magra”, comentou Dessì. O movimento hippie, por sua vez, trouxe uma nova abordagem ao vestuário, com os “filhos das flores” celebrando a liberdade e a autenticidade: “Quanto mais descabelados, mais filhos das flores”.
Nos anos 80, a Itália começou a se reinventar na moda. Nos anos 90, o país se consolida como o grande palco desse universo mundo à fora. “Foram anos difíceis, onde todos queriam aparecer, mas ninguém se destacava”, recordou Dessì. Ele menciona a vontade incontrolável de criar dos estilistas italianos, que culminou no reconhecimento da qualidade dos tecidos italianos na década de 90. Grandes nomes como Giorgio Armani, Dolce & Gabbana e Gianni Versace emergiram nesse cenário, trazendo inovações que moldaram a indústria.
Autoexpressão e Individualidade
“Ninguém pode dizer ‘sou bonito ou sou feio’. Depende do que queremos fazer de nós mesmos”, foi assim que o artista entendeu a importância da autoexpressão e da individualidade na escolha de roupas. Na moda contemporânea, cada vez mais as escolhas pessoais se tornam fundamentais para expressar individualidade e estilo.
Dessì observa que a era pós-moderna valoriza a diversidade e a autoexpressão, afirmando que “a beleza é aquilo que libertamos a partir do nosso corpo”. Ele enfatiza a importância de desafiar padrões tradicionais, promovendo a inclusão de modelos plus size e mais velhos, como Carmen Dell’Orefice, que aos 92 anos ainda brilha nas passarelas.
“Não é o corpo que deve se adaptar à roupa, é a roupa que deve se adaptar ao corpo”, defende o estilista, destacando uma mudança de paradigma na moda contemporânea. Tradicionalmente, a indústria da moda impôs padrões rígidos de beleza e silhuetas que frequentemente marginalizavam aqueles que não se encaixavam nos moldes.
Junto a essa revolução que a moda italiana trouxe, vivenciamos hoje um retorno a elementos clássicos e ousados. O uso de acessórios em ouro, brincos grandes e impactantes, e as pérolas, que ressurgem como símbolo de elegância, permitem que cada mulher se destaque de maneira única. A transformação se estende também aos cabelos, com cortes baixos e práticos, além de penteados presos, tornando-se as escolhas preferidas.