O mercado de tokenização de ativos do mundo real (Real-World Assets, RWA) está emergindo como um dos principais pilares da transformação da economia global. Utilizando tecnologias avançadas, como blockchain e contratos inteligentes, a tokenização traz maior segurança, transparência e eficiência para o mercado financeiro, ao mesmo tempo em que democratiza o acesso a investimentos antes restritos a grandes players. Isso ocorre graças à capacidade de fracionar ativos, permitindo que investidores ao redor do mundo adquiram pequenas partes de grandes investimentos.
Hoje, estima-se que o mercado de tokenização de ativos atinja a marca de US$ 300 bilhões, e esse número pode saltar para trilhões de dólares até 2030, segundo relatórios de instituições como JP Morgan, CitiBank e Boston Consulting Group. Esse crescimento reflete a confiança de investidores e empresas na tecnologia, que já está revolucionando setores como o imobiliário, obras de arte, mercado de capitais e crédito.
Como a internet fez com a informação, a blockchain está transformando o mundo financeiro. A tecnologia permite que dados sobre transações e ativos sejam registrados de forma imutável e acessível, garantindo total transparência e reduzindo riscos de fraudes ou discrepâncias. Um exemplo prático é o uso de notas comerciais tokenizadas, onde todas as partes envolvidas podem acessar as informações registradas na blockchain, sem divergências ou inconsistências, aumentando a confiança e a segurança no processo.
A Revolução da Tokenização: como a BlockBR está liderando o futuro dos ativos digitais
A tokenização de ativos financeiros ainda pode parecer um conceito distante para muitos, principalmente em empresas mais tradicionais. No entanto, líderes visionários como Cassio Krupinsk, CEO da BlockBR, estão na vanguarda dessa revolução. Em uma entrevista exclusiva ao programa Trilha da Inovação, Krupinsk destacou como a BlockBR está ajudando a moldar o futuro digital dos ativos financeiros, enfrentando desafios e explorando as oportunidades oferecidas pela tokenização, tanto no Brasil quanto no mercado global.
Uma jornada marcada pela curiosidade e inovação
Cássio Krupinski começou sua trajetória profissional ainda muito jovem, trabalhando no tradicional Banco Safra. No entanto, desde o início, ele soube que seu caminho seria diferente. “Eu nunca quis ser diretor ou olhar para salários. Quando entrei no Safra e olhei para aquele edifício de 23 andares, me perguntei: como aquele senhorzinho conseguiu construir tudo isso? Foi aí que percebi que qualquer um pode chegar lá, desde que tenha a determinação para passar pelos percalços que o empreendedorismo exige”, contou Cássio, ressaltando que, para ele, empreender é algo que nasce com a pessoa.
Sua carreira no banco foi breve, e logo ele buscou novas oportunidades fora do Brasil. Ao retornar, encontrou no surf uma terapia e uma nova perspectiva de vida. “Fiquei um tempo fora, e quando voltei, mandei mensagem para duas revistas de surf. Uma delas me chamou para um estágio, e foi aí que entrei no mercado de venda de anúncios”, relembra. Mas, mesmo com as dificuldades iniciais, como seis meses sem conseguir vender nada, Cássio transformou seus desafios em aprendizado. “Acho que o verdadeiro empreendedor passa por, pelo menos, duas tentativas frustradas antes de conseguir algo significativo”, afirmou.
Empreendedorismo digital e a criação da BlockBR
Cássio se considera um empreendedor serial e sempre teve uma visão de futuro provocativa e inovadora. Sua visão de longo prazo o levou, em 2011, a adquirir seus primeiros Bitcoins, muito antes da criptomoeda se popularizar. “Comprei 7 Bitcoins por cerca de 28 dólares cada e vendi em 2017, quando o valor chegou a R$14.800,00. Foi um ótimo investimento, mas nunca vi o Bitcoin como algo maravilhoso. Sempre soube que seria necessário cautela, porque uma disrupção como essa sempre traz volatilidade”, afirma.
Durante a pandemia, Cássio passou um tempo em Dubai, onde se associou ao Crypto Valley, da Suíça, e se aprofundou no mercado de criptomoedas. Essa experiência foi fundamental para a criação da BlockBR, sua empresa atual, especializada em infraestrutura de tokenização. “A BlockBR representa uma mudança de mindset, de cultura e de tecnologia. Nós criamos infraestrutura para que agentes regulados possam se conectar a nossa plataforma e emitir tokens que representam ativos reais”, explica.
A jornada da BlockBR
Krupinsk descreveu como o início da BlockBR foi um verdadeiro deserto: “Até novembro do ano passado, ninguém acreditava no que estávamos desenvolvendo.” Esse período foi marcado por ceticismo, já que a empresa atua em um segmento ainda pouco compreendido, especialmente por grandes companhias e fundos de investimentos. O foco da BlockBR está em contratos de grandes valores: “A gente não tem contratos menores que 100 milhões, sabe? Nosso principal cliente são fundos, gestoras e assessores de investimento.”
A relação com esses clientes, segundo Krupinsk, é construída ao longo do tempo. Ele comentou sobre o primeiro cliente da empresa, conquistado apenas em agosto de 2022, com o contrato finalizado em julho de 2023, destacando o longo ciclo de aquisição. A BlockBR atualmente possui 16 clientes, 62 colaboradores e está expandindo suas operações para os Estados Unidos, país que, segundo o CEO, tem uma visão regulatória mais favorável.
A inovação na tokenização
A BlockBR desenvolve uma infraestrutura robusta para tokenização de ativos, permitindo maior agilidade e autonomia para seus clientes. “Nosso objetivo é resolver a vida do nosso cliente, tanto na via de funding, com dinheiro mais barato, quanto na via dos instrumentos de token, que trazem uma agilidade muito maior”, explicou Krupinsk.
Um dos exemplos tangíveis desse impacto é um escritório de agentes autônomos que, antes, dependia de intermediários para estruturar operações de crédito. Com a BlockBR, eles passaram a tokenizar seus próprios contratos, ganhando autonomia no processo. “Estou dando autonomia. O fundo de investimento pode fazer papéis que hoje ele não faz. O próprio token faz o papel do fundo”, ressaltou.
Desafios e o futuro do mercado
Apesar do sucesso, Krupinsk enfatiza os desafios enfrentados no mercado. Ele mencionou que, muitas vezes, fintechs que se aliam a grandes bancos perdem sua autonomia: “Quando você se vende para um banco, você vira um garçom. Muitas vezes você acha que o banco vai te ajudar com distribuição, mas ele vai vender os produtos dele primeiro.”
O CEO também falou sobre a importância de estar preparado para o futuro: “Tudo vai ser tokenizado, mas nem tudo vale a pena ser tokenizado. A tokenização desburocratiza todo um sistema e permite um melhor gerenciamento de dados.” Para ele, a evolução será semelhante à transição dos celulares antigos para smartphones: “Daqui a pouco ninguém vai falar em token, porque vai ser um processo tão natural quanto o uso de Wi-Fi.”
O papel da tecnologia e da IA
Krupinsk mencionou que a BlockBR já está implementando inteligência artificial (IA) em seus processos, visando otimizar ainda mais a tokenização de ativos. A IA permitirá uma análise mais eficiente dos dados gerados pelos tokens, contribuindo para um sistema financeiro mais transparente e eficiente.
Ele também destacou a importância de contar com um suporte jurídico robusto, mencionando que a empresa trabalha com diversos escritórios de advocacia, como Pinheiro Neto e VBSO, para garantir a conformidade regulatória em um mercado altamente dinâmico.
A BlockBR está posicionada para liderar a transformação digital no mercado financeiro, utilizando a tokenização para oferecer soluções inovadoras e ágeis. Apesar dos desafios, Krupinsk e sua equipe estão otimistas com o futuro, confiantes de que o mercado compreenderá o valor da tecnologia que estão trazendo. “A tokenização é o futuro, mas exige paciência, dedicação e muito esforço para que o mercado amadureça”, concluiu Krupinsk.