O mercado de e-commerce brasileiro está em constante transformação, impulsionado por inovações tecnológicas, mudanças no comportamento do consumidor e a necessidade de se adaptar a um cenário global cada vez mais competitivo. Durante o Fórum E-Commerce Brasil 2024, os principais players do setor se reuniram para discutir as tendências que estão moldando o futuro do varejo digital no país. Este evento, realizado no Distrito Anhembi, em São Paulo, atraiu mais de 25 mil participantes e contou com a participação de 350 palestrantes e 270 expositores, gerando mais de R$ 1 bilhão em negócios.
Panorama do Varejo Digital Brasileiro
A apresentação de Zia Wigder, CCO da eMarketer, foi um dos destaques do evento, oferecendo um panorama abrangente sobre o estado atual do e-commerce no Brasil. Segundo Wigder, o Brasil possui uma penetração de e-commerce de 12,1%, uma taxa superior à de muitos países europeus. Esse crescimento é impulsionado, em parte, pela expansão da categoria de supermercados online, que desempenha um papel crucial na expectativa de que o e-commerce brasileiro possa superar 20% das vendas totais do varejo nos próximos anos.
No entanto, Wigder destacou que o mercado brasileiro ainda está em um estágio inicial na diversificação de categorias. O setor de computadores e eletrônicos, por exemplo, representa 33,3% das compras online, uma cifra que contrasta com a distribuição de categorias em mercados digitais mais maduros. Isso sugere que há um grande potencial para a expansão de outras categorias de produtos no ambiente online brasileiro.
Outro ponto importante abordado foi o papel das redes sociais na descoberta de produtos. O Brasil, sendo o país que mais tempo passa nas redes sociais, também se destaca pelo uso dessas plataformas como ferramenta de pesquisa de produtos, com 39,2% dos usuários utilizando-as para esse fim. Esse fenômeno é observado tanto entre as gerações mais jovens quanto entre os consumidores acima de 55 anos, mostrando a abrangência do impacto das redes sociais no e-commerce.
O mercado de retail media, que envolve a publicidade dentro de plataformas de e-commerce, também está em alta no Brasil. As plataformas de varejistas nacionais estão entre as que mais crescem globalmente, rivalizando com o tráfego de grandes redes sociais. Por outro lado, o varejo físico também tem mostrado um crescimento significativo, com a exposição de produtos nas lojas físicas desempenhando um papel crucial na descoberta de novos produtos pelos consumidores.
Chat Commerce: O Futuro do Atendimento ao Cliente
O comércio conversacional, ou chat commerce, foi outro tema de grande relevância discutido no evento. Com a integração de ferramentas de CRM ao WhatsApp, as empresas estão cada vez mais utilizando essa plataforma para influenciar as vendas online. De acordo com o Chat Commerce Report, divulgado pela Omnichat, o WhatsApp influencia cerca de 9% das vendas no e-commerce, uma cifra que pode ser ainda maior dependendo do segmento e da estratégia utilizada.
No painel que contou com a participação de marcas como Swarovski, Hering e L’Oréal, foi discutido como essas empresas estão utilizando o WhatsApp para oferecer um atendimento personalizado aos clientes. A L’Oréal, por exemplo, implementou uma estratégia que combina autosserviço por meio de bots com o atendimento humano de suas beauty advisors, criando uma conexão mais profunda com os clientes. Como resultado, 25% das vendas diretas ao consumidor (D2C) da marca passam atualmente pelo WhatsApp.
Essa abordagem destaca a importância de uma estratégia de atendimento que vá além da simples transação comercial, oferecendo aos clientes uma experiência de compra mais envolvente e personalizada.
Economia de Criação: O Poder do Conteúdo
Com o crescente papel das redes sociais nos hábitos de consumo dos brasileiros, a criação de conteúdo tornou-se uma estratégia essencial para as marcas que desejam se conectar com seu público e impulsionar as vendas. Marina Landherr, Creative Lead do TikTok, apresentou no evento as melhores práticas para produção de conteúdo na plataforma, destacando a necessidade de falar a mesma língua do público e aproveitar os recursos nativos do TikTok, como o foco no áudio, para se destacar.
Landherr enfatizou a importância de construir narrativas que não apenas capturam a atenção dos usuários, mas também geram conexões reais com a audiência. Criar como um creator, ou seja, utilizando criatividade e autenticidade para entreter a comunidade, é a chave para o sucesso na plataforma. Essa abordagem não só aumenta o engajamento, mas também pode levar a um aumento nas vendas, à medida que os consumidores se sentem mais conectados e envolvidos com a marca.
Para enriquecer a análise sobre as tendências que estão moldando o e-commerce no Brasil e no mundo, é essencial destacar o papel crescente do live e video commerce. Essa modalidade, que combina transmissão ao vivo e vendas, vem ganhando força como uma ferramenta poderosa para engajar consumidores e impulsionar as vendas online.
Live e Video Commerce: A Revolução no E-Commerce
Com a evolução das tecnologias de streaming e o aumento da conectividade, o live e video commerce tende a se tornar uma prática cada vez mais comum no e-commerce global e brasileiro. As marcas que souberem explorar essa tendência terão a oportunidade de não apenas aumentar suas vendas, mas também de fortalecer sua presença no mercado e criar comunidades de clientes engajados e fiéis.
O Fórum E-Commerce Brasil 2024 reforçou a importância dessa tendência, com diversas palestras e painéis dedicados ao tema. Especialistas do setor apontaram que, para ter sucesso no live commerce, é crucial que as marcas invistam em tecnologia, capacitação e, sobretudo, em entender profundamente seu público-alvo.
Por ser uma das fundadoras de uma empresa de vídeo commerce, a LiveIN Shop, eu fui convidada para falar no evento sobre esse mercado no Brasil e no mundo e fiquei impressionada com o interesse do público.
O live e video commerce é uma tendência que teve início na Ásia, especialmente na China, e rapidamente se espalhou pelo mundo. Em 2023, o mercado de live commerce na China movimentou mais de US$ 400 bilhões, consolidando-se como uma das principais formas de comércio eletrônico no país.
Nos Estados Unidos e na Europa, o live commerce também tem ganhado tração, embora ainda esteja em fases menos avançadas em comparação com o mercado asiático. Grandes varejistas, como Amazon e Walmart, já estão experimentando com transmissões ao vivo, enquanto plataformas de redes sociais, como Instagram e Facebook, incorporaram funcionalidades de live shopping em suas interfaces.
No Brasil, o live e video commerce ainda está em fase de crescimento, mas já mostra um enorme potencial. Com a popularidade das redes sociais e o aumento do consumo de vídeos online, as marcas brasileiras começaram a explorar essa modalidade como uma maneira de se conectar diretamente com seus consumidores.
O cenário brasileiro é promissor. Em 2023, o país registrou um crescimento significativo na adoção de estratégias de live commerce, com marcas como Magazine Luiza, Renner e Natura liderando o movimento. Essas empresas não apenas realizam transmissões ao vivo para vender produtos, mas também criam eventos interativos que aumentam o engajamento e a lealdade dos clientes.
A conexão de marca gerada pelo live commerce vai além da simples transação comercial. Ao criar uma experiência envolvente e interativa, as marcas conseguem estabelecer uma relação mais próxima com seus clientes, transformando uma simples venda em um evento memorável. Isso é especialmente relevante em um mercado competitivo, onde a lealdade do consumidor pode ser um diferencial crítico para o sucesso.
O live e video commerce representa uma evolução significativa no modo como as vendas online são realizadas, colocando a interação, a autenticidade e a conexão de marca no centro das estratégias de e-commerce. À medida que essa tendência continua a crescer, ela tem o potencial de redefinir o futuro do varejo digital, tanto no Brasil quanto no mundo.
Inteligência Artificial: Transformando o E-Commerce
A inteligência artificial (IA) tem sido um dos tópicos mais discutidos nos fóruns de e-commerce nos últimos anos, e o Fórum E-Commerce Brasil 2024 não foi diferente. Gleidys Salvanha, Diretora de Negócios para o Varejo e Tecnologia do Google, destacou que 2024 marca um ponto de inflexão no uso da IA no setor. Segundo Salvanha, as empresas precisam ir além das discussões teóricas e começar a implementar a IA em suas operações diárias para obter resultados tangíveis.
Entre os exemplos de recursos desenvolvidos pelo Google que utilizam IA, foram apresentados o Google Lens, que permite buscas de imagem, e o Search Labs, que gera resultados de pesquisa compilados por IA, com links para as fontes. Essas tecnologias têm o potencial de revolucionar a maneira como os consumidores interagem com o e-commerce, oferecendo experiências mais personalizadas e eficientes.
No evento, também foi discutido o papel da IA na logística do e-commerce, com foco em soluções que integram IA para definir rotas mais viáveis, reduzir custos e aumentar a velocidade de entrega. A utilização da IA como catalisadora de negócios foi outro ponto de destaque, com ênfase em como a tecnologia pode otimizar operações comerciais, personalizar a jornada de compra e melhorar a experiência do consumidor.
Experiências Transformadoras: O Varejo do Futuro
O varejo de experiência está se consolidando como uma das principais tendências para o futuro do comércio, e esse tema foi amplamente discutido durante o evento. De acordo com a WGSN, 52% dos consumidores brasileiros estão priorizando gastos em experiências em vez de produtos. Essa mudança de comportamento está levando as empresas a investir em experiências transformadoras que integram as marcas na vida dos consumidores.
Um exemplo disso é a NBA Brasil, que investiu na criação de experiências imersivas em suas lojas físicas, incluindo elementos como quadras de basquete, troféus e tênis autografados, proporcionando aos fãs uma conexão mais profunda com a marca. A Beats, por sua vez, identificou ocasiões de consumo relevantes, como o carnaval, para manter a frequência de vendas ao longo do ano, investindo em eventos, ativações e parcerias com celebridades.
Essas iniciativas mostram como o varejo está evoluindo para atender às expectativas dos consumidores modernos, que buscam não apenas produtos, mas também experiências que agreguem valor às suas vidas.
Conclusão: O Futuro do E-Commerce no Brasil
O Fórum E-Commerce Brasil 2024 destacou a importância de estar atento às tendências e inovações que estão moldando o futuro do e-commerce no Brasil. Com a crescente penetração do comércio eletrônico, o uso de redes sociais na descoberta de produtos e a integração de tecnologias como a IA e o chat commerce, as empresas têm à sua disposição uma variedade de ferramentas para se destacar em um mercado cada vez mais competitivo.
No entanto, o sucesso no e-commerce não depende apenas da adoção dessas tecnologias. Como ressaltado durante o evento, é crucial entender as necessidades e expectativas dos consumidores e colocar o cliente no centro de todas as decisões de negócio. Somente assim as empresas poderão criar experiências de compra verdadeiramente transformadoras e construir relacionamentos duradouros com seus clientes.
O futuro do e-commerce no Brasil é promissor, e eventos como o Fórum E-Commerce Brasil desempenham um papel fundamental ao reunir profissionais do setor para compartilhar conhecimentos, desenvolver novas estratégias e enfrentar os desafios do mercado. À medida que o mercado digital continua a evoluir, aqueles que estiverem dispostos a inovar e se adaptar às mudanças estarão bem posicionados para liderar o caminho.