Regulamentada em 2015 pela Agência Nacional de Saúde (Anvisa) para uso medicinal, a cannabis tem ganhado destaque para os tratamentos médicos no Brasil. Segundo o Anuário da Cannabis Medicinal de 2023, a busca pelo uso de cannabis para fins medicinais cresceu 130% em apenas um ano no país. Ao menos 430 mil pacientes foram receitados ou optaram pelo uso da planta em seus tratamentos.
Com a demanda, o mercado de cannabis no Brasil se desenvolveu ao menos 127% em relação à 2023 só no ramo medicinal. Entretanto, os benefícios da planta abrangem outros setores além da saúde, incluindo a indústria têxtil, alimentícia, agropecuária e até mesmo o biodiesel à base de cannabis.
Além da medicina
Atualmente, no Brasil, mais de 600 marcas comercializam produtos que usam a cannabis como matéria prima. No mesmo período do ano passado, a importação de flores secas aumentou 35%, demonstrando o crescimento do mercado. Apesar do potencial da planta para diversos setores, ainda existe um significativo preconceito em relação ao seu uso, muitas vezes associado apenas ao consumo recreativo.
Em exclusiva à BandNews TV, a Cônsul-Geral do Uruguai em São Paulo, Marta Echarte Baraibar explicou os principais desafios de introduzir o assunto para o desenvolvimento do mercado no país: “Como muitas coisas na vida são fundamentais, a educação também é. A desinformação sobre a planta normalmente leva as pessoas a pensarem em um só ponto. Existe uma desinformação geral de tudo que a planta pode ser, seja em assuntos como o meio ambiente, nas vestimentas, ou até no setor automobilístico”. A cônsul-geral também explicou os desafios de superar a opinião popular, que muitas vezes acredita que a cannabis é usada apenas para fins recreativos. “A cannabis é industrial e tem um futuro promissor para qualquer país no mundo”, explicou.
O Uruguai, pioneiro na regulamentação do uso da cannabis há 10 anos, exporta produtos para o Brasil e mantém uma das mais significativas relações dentro do mercado de cannabis. “O Uruguai é um país pequeno, que precisa desses benefícios do produto. Por outro lado, o Brasil é um país grande, por isso temos que favorecer o comércio de cannabis não só medicinal, mas para todas os outros setores também, como roupas”, explicou Marta sobre o potencial econômico do mercado brasileiro. Ela ainda mencionou que “a Anvisa está começando a se interessar e a colaborar, sobretudo para que a importação do Uruguai seja mais efetiva.”
O mercado de cannabis no Brasil também envolve a indústria agropecuária, isso porque atualmente a planta não pode ser cultivada em solo nacional. Mesmo assim, a cannabis se destaca por se adaptar às mudanças climáticas, não exaurir o solo naturalmente e não exigir altos custos de investimento. Para a Cofundadora da Latinnabis e ExpoCannabis Uruguay, Mercedes Ponce de León, “o que custa mais é mudar a cabeça das pessoas, mas depois que esse processo acontecer, não será um investimento caro”, referindo-se à transformação tecnológica necessária. Ela ainda afirmou que “pior que a droga, é a ignorância”, destacando a importância da educação e do conhecimento sobre o tema.
Atualmente, 1540 municípios brasileiros têm ao menos um usuário do cannabis medicinal, com uma idade média em torno de 41 anos, ou seja, a procura pelo uso da planta tem como público-alvo a geração “millennials”. De acordo com um estudo feito pela Deloitte, ao menos 50% da geração millennials sofre com o esgotamento. 4 em cada 10 millennials, equivalente à 39% da pesquisa, lutam contra a ansiedade, uma das principais doenças que o uso medicinal atende.
De acordo com Maria Eugenia Riscala CEO & CofundadoraKaya Mind, empresa especializada em estudos de mercado de cannabis, a demanda ainda se expande para pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista), problemas com o sono e doenças inflamatórias. O medicamento consiste no canabidiol, frequentemente abreviado como CBD, que é um dos muitos compostos químicos encontrados na planta de cannabis. Ele é um dos principais canabinoides da planta, junto com o THC (tetrahidrocanabinol), além de outros canabinoides, como o canabidiol (CBD), canabinol (CBN) e tetrahidrocanabivarin (THCV). O CDB é conhecido por não ter efeitos psicoativos, o que acontece justamente pelo CBD não se ligar aos receptores CB1 no cérebro da mesma forma que o THC, responsável pelos efeitos de “alta”.
Movimento no mercado
Segundo um levantamento feito pela Kaya Mind, com o investimento no ramo, o mercado poderia movimentar R$26 bilhões no Brasil, com uma arrecadação de impostos de R$8 bilhões ao ano. O valor pode gerar em média 328 mil empregos, com uma estatística semelhante à categoria de detergentes no Brasil, por exemplo. A empresa projeta um crescimento anual de ao menos 30% nos próximos cinco anos. “Todos nós temos alguma condição médica, sono, ansiedade, que vai cair em algo que a cannabis pode tratar. Não significa que a cannabis é boa para todos nós, mas ela tem potencial para cada uma dessas questões”, explicou Maria Eugenia. O potencial é de 6,9 milhões de brasileiros fazendo o uso de cannabis até maio, caso haja alteração na presente regulamentação.
Debatendo o uso de cannabis no Brasil
Para promover discussões e debates sobre os diversos usos e benefícios da cannabis, a ExpoCannabis Brasil será realizada nos dias 15, 16 e 17 de novembro de 2024, no São Paulo Expo. O evento se propõe a ser uma plataforma de informação e educação, além de mostrar o potencial econômico e industrial da planta. A feira contará com conferências, palestras, oficinas e mesas de debate com especialistas e políticos do Brasil e do mundo.
Larissa Uchida, CEO da ExpoCannabis Brasil, que estuda há 12 anos o mercado de cannabis no país, explicou que o projeto consiste “em uma feira que foca em informação e educação para que as pessoas consigam perceber todo o potencial do setor da cannabis.” A feira busca desmistificar a cannabis, apresentando o seu uso para fins industriais, como matéria-prima para diversas empresas. Esse ano, com o tema “normalizando os múltiplos usos da planta”, a ExpoCannabis irá mostrar todas as vertentes de uso, “seja para compras médicas, como alimento, papel, tecido, materiais de construção civil, solventes na tinta, a ideia é mostrar e normalizar os usos da cannabis”, explicou Larissa.
A 2ª edição também apresentará uma passarela “fashionweed”, mostrando roupas feitas com materiais derivados da cannabis, e discutirá o uso medicinal da planta, que é uma grande área de interesse para muitos participantes. Segundo Larissa Uchida, a mensagem é de que “a informação e a educação vão transformar essa mudança que estamos esperando no Brasil e vão eliminar qualquer resquício de tabu relacionado à cannabis no Brasil, pode ser o principal país produtor de cannabis no mundo inteiro. Hoje em dia quando a gente fala de cannabis no Brasil, as pessoas associam ou a remédio ou ao uso lícito. Já nós, vamos falar de negócios”, referindo-se ao potencial do país de se tornar um dos maiores produtores.
A ExpoCannabis Brasil não promove o consumo recreativo de cannabis, sendo destinada exclusivamente a maiores de 18 anos e com foco na disseminação de conhecimento e informação. A feira irá trabalhar o que é permitido dentro da regulamentação atual e trará uma grande novidade que abrange o setor medicinal, equivalente a 32% do público que comparece ao evento. A ExpoCannabis Brasil já se consolidou como uma importante plataforma para discutir e educar o público sobre os diversos aspectos da cannabis, desde seus usos industriais até suas aplicações medicinais. A ExpoCannabis será a primeira empresa de cannabis a divulgar e compensar as emissões de CO2 do evento.