Quem tomará conta da Faixa de Gaza se o Hamas e Israel concluírem um acordo de cessar fogo? Já existe uma resposta, acordada pelos dois inimigos. Uma força de 2.500 palestinos, que aceitam a Autoridade Palestina (AP) em Ramallah, na Cisjordânia, e treinada pelos EUA, com apoio de países árabes moderados, assumiria o controle.
Mas, importante, nem Israel, nem o Hamas, confirmaram oficialmente esta informação. Para os EUA, ambos indicaram que aceitam um plano de governança provisório.
Segundo o jornal Washington Post desta quinta-feira, esses soldados palestinos da trégua podem ser recrutados mesmo em Gaza, e muitos deles já teriam até passado pelos exames de segurança de Israel.
Em Doha, no Catar, os negociadores estão discutindo agora como tirar esta força militar do papel para as ruas de Gaza, essencial para o desdobramento do acordo. Um precedente fracassado é levado em conta: em 2007, o Hamas expulsou a Autoridade Palestina (AP) de seu território, em um golpe sangrento.
Desde então são considerados rivais: o líder da AP, Mahmoud Abbas, sucessor de Yasser Arafat, do Fatah, é a favor de um estado palestino independente ao lado de Israel, e o líder do Hamas, Yahya Sinwar, o rejeita, favorável a um estado palestino no lugar de Israel, e crescendo como um califado pelo Oriente Médio.
A força palestina deve entrar em ação na segunda das três fases do acordo, que voltou na semana passada à mesa de negociações, depois de um longo período paralisado por impasses. Na primeira fase do acordo, com trégua de seis semanas, o Hamas libertará 33 reféns, ou todas as prisioneiras, todos os homens com mais de 50 anos e todos os feridos. Em troca, Israel entrega centenas de prisioneiros de segurança palestinos, e retira suas tropas das áreas densamente populadas de Gaza.
O que travava essa primeira fase do acordo tripartite era o temor do Hamas de que Israel voltaria a atacar, passadas as seis semanas previstas de trégua. Isso foi contornado com a garantia de que o cessar-fogo vai durar o tempo que durarem as negociações. Na segunda fase, o Hamas deve libertar os soldados israelenses reféns, e Israel, mais prisioneiros palestinos, enquanto um acordo para o fim permanente dos combates e a retirada total das tropas israelenses continuará a ser negociado. A terceira fase trata, principalmente, da reconstrução de Gaza e da troca de corpos pelos dois inimigos.
Uma fonte norte-americana revelou ao Post que o anúncio do cessar-fogo talvez já inclua o anúncio da normalização de relações entre Arábia Saudita e Israel, se no horizonte estiver delineado o estabelecimento de um estado palestino.
O Egito se comprometeu a impedir o contrabando de armas sob sua fronteira, através de túneis, 25 dos quais foram destruídos desde maio. Essa é a condição para que as tropas israelenses se retirem do Corredor Filadélfia, repetida ao enviado da Casa Branca ao Oriente Médio, Brett McGurk, nesta semana, pelo ministro da Defesa Yoav Gallant.
O cessar-fogo em Gaza será replicado na fronteira entre o Líbano e Israel, como declarou o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah. Mais de 120 mil civis dos dois lados da fronteira estão deslocados, fugindo aos tiroteios de artilharia e de mísseis. A finalização do acordo tripartite ainda levará algum tempo porque existem divergências entre Israel e Hamas.
Mas o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu está sob forte pressão dos familiares dos reféns, apoiados pela maioria dos israelenses em protestos diários, e do presidente Joe Biden, que precisa de uma vitória nesta guerra em que se envolveu para sustentar sua candidatura à reeleição, muito contestada em seu próprio partido Democrata.