Moisés Rabinovici: Oposição quer renúncia de Netanyahu

Primeiro-ministro enfrenta pressão crescente após críticas sobre resposta ao ataque do Hamas em outubro de 2023

Os líderes da oposição em Israel pediram ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu para renunciar, seguindo o exemplo do chefe do Estado Maior das forças armadas, general Herzi Halevi, que anunciou sua renúncia nesta terça-feira, válida a partir de 6 de março, por se sentir responsável pelo fracasso que permitiu a invasão do Hamas, em 7 de outubro de 2023.

Halevi foi acompanhado na renúncia pelo chefe do Comando Sul, general Yaron Finkelman. Os dois comandaram a reação ao ataque sofrido, o maior de Israel desde o Holocausto nazista, com 1.200 mortos num único dia, e ainda vão esperar a conclusão da primeira fase do acordo de cessar-fogo, que prevê a volta de 33 reféns.

“Na manhã de 7 de outubro, sob meu comando, as IDF (Forças de Defesa de Israel, na sigla em inglês) falharam em sua missão de proteger os cidadãos de Israel. Minha responsabilidade por esse terrível fracasso permanece comigo todos os dias, a cada hora, e permanecerá comigo pelo resto da minha vida” — escreveu o general Halevi na carta-renúncia ao ministro da Defesa, Israel Katz.

“As IDF foram capazes de se levantar de um ponto de partida extremamente difícil e travar uma campanha intensa por mais de um ano e três meses em sete frentes diferentes. As conquistas militares das IDF alteraram o Oriente Médio”, ele acrescentou. “Essas conquistas, em primeiro lugar, pertencem aos comandantes e soldados das IDF — meus subordinados.”

E concluiu: “Em reconhecimento à minha responsabilidade pelo fracasso das IDF em 7 de outubro, e em um momento em que as IDF registraram conquistas extraordinárias e restauraram a dissuasão e a força de Israel, peço para encerrar meu mandato em 6 de março de 2025. Esta decisão foi tomada há muito tempo. Agora, com o IDF mantendo a vantagem em todos os teatros de combate e com outro acordo de retorno de reféns em andamento, chegou a hora”.

O general Halevi vai entregar, no dia da renúncia, as conclusões de uma investigação sobre o fracasso em prever ou impedir a invasão do Hamas, no âmbito militar. Para abrir o inquérito à área política, ele sugeriu uma comissão independente. E aí entra o coro da oposição, que já sugeriu que o primeiro-ministro Netanyahu renuncie. Ele seria responsável por ter dividido os israelenses nos primeiros meses de seu governo, ao iniciar uma reforma judicial pela qual a Suprema Corte de Justiça teria suas decisões submetidas ao Parlamento. Para muitos, o equivalente a um golpe de estado.
Na semana passada, para evitar a renúncia de seu ministro Itamar Ben Gvir, contra o acordo de cessar-fogo em Gaza, Netanyahu lhe ofereceu o crédito pela demissão de Halevi, demissionário havia meses. Ben Gvir saiu no domingo, com a implementação do acordo, e levou seis votos da coligação do governo, agora com 62 no Parlamento de 120.

O ex-ministro Ben Gvir saudou a renúncia de Halevi. Ele disse esperar que um militar mais agressivo seja nomeado para o seu lugar. Outro ministro da extrema-direita, o de Finanças, Bezalel Smotrich, pode renunciar se a guerra não recomeçar até a segunda fase do acordo de cessar fogo, que será negociada a partir de 2 de fevereiro. Ele, porém, elogiou o general Halevi “por suas décadas de serviço”, inclusive “as grandes conquistas militares em todas as frentes”. Mesmo o fracasso inicial de impedir a invasão do Hamas “não diminui a grande dívida de gratidão que lhe devemos por todo o seu trabalho e contribuições ao longo dos anos, e por suas conquistas”.

O líder da oposição, Yair Lapid, publicou uma mensagem na plataforma X: “Agora deixemos o primeiro-ministro e todo o seu governo desastroso assumir a responsabilidade e renunciar”. O presidente do partido Yisrael Beytenu, Avigdor Liberman, também instou o primeiro-ministro e seu gabinete “que assumam a responsabilidade e o seguissem (Halevi) para casa”. Outros dois militares, ex-chefes da Inteligência Militar e da Divisão de Gaza, já renunciaram há meses reconhecendo que alguma culpa pela invasão do Hamas.

O presidente de Israel, Isaac Herzog, elogiou Halevi por sua liderança nos combates dos últimos 15 meses e reiterou que o governo deve criar uma comissão de inquérito, fora a militar, em andamento, “para apurar lições, assumir responsabilidade, tirar conclusões e construir confiança entre os cidadãos e seu estado”.