Moisés Rabinovici: O “inferno” de Trump desabou sobre Netanyahu

A intervenção decisiva do empresário americano Steven Witkoff no Catar força Israel a aprovar acordo para troca de reféns e cessar-fogo em Gaza.

O mesmo rascunho de um acordo rejeitado várias vezes pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu foi aceito por ele no fim de semana. O responsável pela reviravolta foi Steven Witkoff, enviado especial do presidente eleito Donald Trump às negociações sobre Gaza no Catar. Ele não é diplomata, mas um agressivo empresário no setor de imóveis. E assustou a diplomacia israelense.

Na sexta-feira passada, Witkoff ligou do Catar avisando que estaria em Jerusalém na tarde do sábado. Explicaram-lhe que Netanyahu poderia se encontrar com ele só a noite, ao final do shabath. A reação dele foi inesperada: respondeu que, para ele, não havia shabath. E os dois se reuniram, sob alta tensão, e depois Witkoff voltou para Doha.

A imprensa israelense soube só na terça-feira que Witkoff forçou Netanyahu a aceitar os termos de um acordo, rejeitado durante seis meses. Ao mesmo tempo, segundo o jornal Haaretz, deu-lhe a desculpa de que não teve alternativa que não ceder à pressão. O inferno que desabaria em Gaza, prometido por Trump, desabou em Jerusalém. Aliados de Netanyahu torceram para que o Hamas rejeitasse o acordo, mas ele foi aceito.

As lamentações não foram dirigidas ao Muro das Lamentações. Foram repetidas entre aliados do governo e entre as famílias dos reféns, que esperavam que o acordo abrangesse todos os 94 reféns e não 33, numa troca única com prisioneiros e cessar-fogo. Os ministros da extrema-direita da coligação governamental talvez votem contra o acordo no Parlamento. Mas eles não têm mais os votos suficientes para derrubar Netanyahu, pois um dos partidos na oposição aliou-se ao governo e os líderes oposicionistas prometeram barrar qualquer iniciativa de agendar um voto de desconfiança.

Uma multidão reuniu-se na noite de terça-feira em Tel Aviv para apoiar o governo na conclusão do acordo. O Hamas não conseguiu, nas negociações, que o corpo de seu líder, Yahya Sinwar, fosse entregue para enterro e homenagens, e nem que Marwan Bargouthi fosse incluído na lista de prisioneiros que serão trocados pelos reféns. Ele é considerado “o” líder pelos palestinos com a mesma estatura de Yasser Arafat, e está condenado à prisão perpétua.

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Hospitais em Israel se preparam para receber 33 reféns em troca de 1.600 prisioneiros palestinos

Hospitais em Israel já se preparam para receber 33 reféns que serão trocados por cerca de 1.600 prisioneiros palestinos, nesta terça-feira, depois que o Hamas respondeu, sem acréscimos, ao rascunho do acordo finalizado pelo Catar, Egito e Estados Unidos.

O primeiro-ministro Netanyahu marcou encontro esta tarde com familiares de reféns. E a extrema-direita israelense reafirma que vai abandonar a coligação governamental. O shekel, a moeda local, teve um ganho de 1,2% sobre o dólar, negociado a 3,63, e o índice TA-Technology aumentou 0,9%, e os índices TA-125 e TA-35, de empresas blue chip, 0,6%.

Os reféns não serão libertados de uma vez, mas durante seis semanas. Para cada uma das cinco soldadas no grupo de 33 reféns, serão libertados 50 prisioneiros palestinos, entre eles 30 condenados à prisão perpétua. Ao mesmo tempo, as tropas israelenses começarão a se retirar dos centros populacionais de Gaza, e os palestinos do norte, que foram deslocados, poderão voltar às suas casas. O acordo prevê a entrada diária de 600 caminhões de ajuda humanitária em Gaza.

Mais: Israel sairá do Corredor Netzarim, que corta Gaza ao meio, mas se manterá no Corredor Philadelphi, ao longo da fronteira com o Egito, até uma das duas próximas fases do acordo. Restarão cerca de 60 reféns, entre eles soldados, que só serão libertados, segundo o Hamas, com a retirada completa de Israel e o fim da guerra. A terceira fase inclui os corpos de reféns mortos em troca de um plano de reconstrução de três a cinco anos, sob supervisão internacional.

O porta-voz do Ministério do Exterior do Catar, Majed al-Ansari, advertiu que “até que haja um anúncio… não devemos ficar muito animados. Acreditamos que estamos nos estágios finais, e certamente esperamos que isso leve muito em breve a um acordo”.

A imprensa israelense publica nesta terça-feira a informação de que um encontro, no sábado, entre Netanyahu e Steve Witkoff, o enviado especial de Donald Trump que atuou ao lado de Brett McGurk, o representante de Joe Biden, foi muito tenso mas também decisivo. Witkoff ficou na ponte-aérea Doha-Tel Aviv, aparando as divergências finais.