Moisés Rabinovici: O futuro do Oriente Médio na Casa Branca

Donald Trump mantém plano de transferir palestinos, enquanto Israel e Hamas divergem sobre fim da guerra
Reprodução: Jornal da Band

Antes de se encontrar, amanhã, com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, o presidente Donald Trump anunciou “progressos” nas negociações para o futuro do Oriente Médio. Daqui a uma semana, o convidado da Casa Branca será o rei Abdullah, da Jordânia.

Trump não revelou quais “progressos” foram alcançados. Se foi uma referência ao seu plano de transferir civis palestinos de Gaza para o Egito e a Jordânia, ele não está acreditando na oposição unânime já produzida.

A segunda fase do acordo de Gaza começará a ser tocada hoje, 16º dia da primeira fase, como estava previsto, mas não em Doha, e nem com os negociadores de Israel, Egito, EUA e Catar. Será uma reunião entre o novo enviado da Casa Branca ao Oriente Médio, Steve Witkoff, e Netanyahu, em Washington. A reunião é considerada mais uma preliminar para o encontro com Trump.

Ao partir de Israel, Netanyahu declarou à imprensa: “As decisões que tomamos na guerra já mudaram a face do Oriente Médio. Acredito que podemos fortalecer a segurança, ampliar o círculo da paz e alcançar uma era notável de paz através da força”. Os israelenses duvidam desse “pacífico” primeiro-ministro, para eles “belicoso”. A segunda fase do acordo implica na retirada total das tropas israelenses de Gaza, algo que Netanyahu repudia enquanto não cumprir sua promessa de destruir o Hamas, cada vez mais presente nas tumultuadas entregas de reféns em troca de prisioneiros palestinos.

Para Netanyahu, porém, ainda pesa um perigo político: se ele concordar com o fim da guerra, o último ministro de extrema-direita de sua coligação vai renunciar, e ele ficará dependente da oposição para permanecer no poder. Se for para continuar com o acordo, o líder oposicionista, Yair Lapid, promete que o ampara. E mais: Netanyahu está sendo julgado por três casos de corrupção. Sua esposa, Sara, acusada de intimidar uma testemunha, passou a ser alvo de uma investigação criminal.

Com o fardo desse contexto, Netanyahu tem a honra de ser o primeiro líder estrangeiro recebido por Trump, nessa sua nova gestão. Gaza, para Trump, é só um ítem de um plano maior para o Oriente Médio, que inclui, principalmente, a Arábia Saudita, que poderá normalizar suas relações com Israel, dependendo de algumas condições, entre elas um futuro estado palestino. O Hamas está tomando precauções para o que poderá sair deste e do encontro da semana que vem com o rei da Jordânia. Uma delegação do Hamas chegou hoje a Moscou, liderada por Mousa Abu Marzouk, para conversas no Ministério das Relações Exteriores. A Rússia tem relações com Israel, Irã, Líbano e a Autoridade Palestina.

O Hamas quer terminar a guerra; Israel, continuar; Trump planeja “esvaziar” Gaza e é contra o Hamas; a Jordânia já se recusou a receber civis palestinos de Gaza; e no próximo dia 18 o sul do Líbano deve estar sem soldados israelenses e militantes do Hezbollah. Todos esperam a reunião de Trump e Netanyahu e Abdullah.

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Panamá cede aos EUA, mas Canal continua ameaçado.

Uma das exigências de Donald Trump ao Panamá foi conquistada: o presidente panamenho José Raúl Mulino anunciou que vai abandonar o memorando de entendimento “A Rota da Seda” com a China, assinado em novembro de 2017.

Um dos argumentos de Trump para retomar o Canal do Panamá para os EUA era a crescente influência chinesa, refletida nos cartazes em chinês para guiar os navios do Atlântico ao Pacífico. O recuo panamenho não satisfez inteiramente o secretário de Estado Marco Rubio em sua primeira viagem pela América Latina.

O presidente Mulina concordou com Rubio em agendar uma série de reuniões técnicas entre a Autoridade do Canal do Panamá e funcionários dos EUA para “conversar” e “esclarecer todas as dúvidas”, como apurou o jornal panamenho La Estrella de Panamá.

Houve protestos nas ruas, com queima da bandeira dos EUA, enquanto os encontros de Rubio se sucediam no Palacio de Las Garzas. Ele deixou o presidente Mulina o esperando por meia hora, no domingo, enquanto participava da missa na igreja de Nuestra Señora de la Merced.

O jornal La Estrella de Panamá revelou nesta segunda-feira que Rubio se encontrou com o opositor venezuelano Edmundo Gonzáles, em um hotel de San Felipe, depois que um emissário de Trump esteve com o presidente Nicolás Maduro, em Caracas.

O presidente Mulino declarou, após encontrar-se com Rubio, que “não vê alguma ameaça, neste momento, contra o Tratado de Neutralidade (com os EUA), e muito menos para o uso de força militar para a tomada do Canal do Panamá”.

Para o Departamento de Estado, em Washington, a visita de Rubio ao Panamá não ocorreu com tanta “cordialidade” como descrita aos panamenhos pelo presidente Mulino: “O secretário Rubio deixou claro que o status quo é inaceitável e que, na ausência de mudanças imediatas, os EUA tomarão as medidas necessárias para proteger seus direitos previstos no Tratado de Neutralidade”