Moisés Rabinovici: Até Trump duvida do acordo de Gaza

Segunda fase do cessar-fogo entra em discussão no Cairo
Reprodução X @TeamTrump

A segunda fase do acordo de cessar-fogo em Gaza, sobre a qual o presidente Donald Trump disse que “não estava confiante” de que se manteria, começou a ser discutida entre egípcios e israelenses, no Cairo, embora as negociações estivessem marcadas para o início de fevereiro.
A mesma dúvida de Trump ocorreu ao primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, que se disse pronto para mediar as novas negociações o mais rápido possível. Ele é o anfitrião dos mediadores que se reúnem em Doha e tem canais de comunicação com a liderança do Hamas.

Este sábado, a segunda troca de quatro reféns israelenses, todas mulheres, por centenas de prisioneiros palestinos, será feita, aos moldes da primeira, no domingo passado. No dia seguinte, domingo, vencerá o prazo para as Forças de Israel se retirarem do sul do Líbano, embora haja um pedido de uma extensão de 30 dias. A justificativa israelense é a de que os seus soldados ainda estão descobrindo muito armamento e munição deixados escondidos pelo Hezbollah. Pelo acordo, o exército libanês e as forças de paz da ONU, a UNIFIL, deverão ocupar as posições na fronteira de Israel.
A primeira fase do acordo de cessar-fogo prevê a troca de 33 reféns israelenses por cerca de mil prisioneiros palestinos. A duração prevista de seis semanas de cessar-fogo poderá ser estendida por mais seis semanas, se aprovada a segunda fase, ao fim da qual não haverá mais reféns e nem soldados israelenses em Gaza, encerrando a guerra iniciada em 7 de outubro de 2023, quando o Hamas invadiu Israel e matou 1.200 pessoas e sequestrou 254 reféns.

Da parte de Israel, a segunda fase corre sérios riscos. Se aprovada, mais um ministro da extrema-direita, o de Finanças, Bezalel Smotrich, prometeu renunciar, deixando a coligação governamental com a maioria mínima no Parlamento. O próprio primeiro-ministro Benjamin Netanyahu já indicou várias vezes que gostaria, ao contrário, de recomeçar a guerra, para uma “vitória total” sobre o Hamas e a reconquista dos seis votos perdidos com a renúncia do ex-ministro Ben Gvir, em protesto pelo início da execução da primeira fase do acordo. A extrema direita israelense é contra a libertação de prisioneiros por crimes de sangue e tem planos para colonizar Gaza, como a Cisjordânia.

Familiares dos reféns deixados para a segunda-fase do acordo não concluído temem que os interesses políticos de Netanyahu voltem a prevalecer nas negociações. O acordo da primeira fase levou seis meses de negociações para ser aprovado, afinal, com poucas alterações.

Foi o presidente Trump, antes de tomar posse, quem forçou Netanyahu a finalizar o acordo, quando ele já o adiava mais uma vez por não ter recebido os nomes das primeiras três reféns que seriam libertadas. Os chefes dos serviços secretos interno e externo de Israel estão no Cairo discutindo quantos prisioneiros serão libertados para cada refém, talvez cerca de 60, incluindo quase a metade de mortos. O enviado de Trump ao Oriente Médio, Steve Witkoff, anunciou que visitará Gaza brevemente para examinar se as cláusulas do acordo estão sendo cumpridas. Nesta quarta-feira Israel tirou suas tropas do campo de refugiados de Jabalia e matou um homem armado identificado como Akram Zanoun, da Jihad Islâmica Palestina. Tiros para o alto foram disparados para alertar um grupo mascarado a não se aproximar de uma posição israelense.

O cessar-fogo no Líbano e em Gaza permitiu que Israel iniciasse uma operação antiterror em Jenin, na Cisjordânia, desde segunda-feira. O Ministério da Saúde da Autoridade Palestina informou a morte de 10 palestinos e a prisão de pelo menos 25. A operação não tem data para acabar e poderá se estender às cidades vizinhas. Um americano com descendência marroquina, Kaddi Abdelaziz, detido no aeroporto Ben Gurion, mas liberado depois para entrar em Israel, esfaqueou cinco pessoas em Tel Aviv, na terça-feira, e foi morto.

 

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Rei? Ditador? Eleito por Deus? Volta ao mundo em torno de Trump.

A manchete do jornal alemão “taz” resume a inquietação mundial com Donald Trump: “apenas mais 3 anos e 364 dias”. O rosto que aparece na foto é a da primeira-dama Melania com seu chapéu de Zorro que impediu que o marido a beijasse.

O jornal dinamarquês Ekstra Bladet mostra na foto e no texto da manchete o “Punho de Trump”, e pergunta: “Como isso vai afetar você?” Para o francês Libération é “A ruptura do século”, que tem também o sentido de “assalto”, e exemplifica com a saudação nazista de Elon Musk, a enxurrada de decretos anti-imigrantes e anti-transgênero, o perdão aos condenados pela invasão do Capitólio e a saída dos acordos de Paris.

“Novo Moisés”, batizou Donald Trump o ator Mel Gibson. “Eleito por deus”, crê o próprio Trump. “Ditador por um dia”, ele prometeu para o primeiro dia no poder. “Rei”, concluiu a plataforma Axios, nesta quarta-feira. “O senhor das mentiras”, chamou-o a revista The Economist.
Corajoso o jornal cubano Granm.

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