Médicos de Israel exigem investigação sobre socorristas assassinados em Gaza

As ambulâncias do Crescente Vermelho e do Ministério da Saúde de Gaza foram atacadas a tiros, embora estivessem com os faróis acesos, e suas equipes vestidas com coletes fluorescentes.
Reprodução: BandNews TV

Uma carta de 360 profissionais israelenses da área de saúde, metade deles médicos, divulgada nesta quarta-feira, 9, exige que o assassinato de 15 médicos e socorristas em Gaza, há duas semanas, seja investigado, completa e imparcialmente. “Estamos chocados. O assassinato do pessoal de resgate e de médicos plantonistas é uma violação flagrante das leis internacionais de guerra, uma ação contrária à moralidade humana” – escreveram.

As ambulâncias do Crescente Vermelho e do Ministério da Saúde de Gaza foram atacadas a tiros, embora estivessem com os faróis acesos, e suas equipes vestidas com coletes fluorescentes. O porta-voz militar de Israel foi admitindo, aos poucos, a conclusão a que por fim chegou, confrontado com um vídeo obtido pelo jornal New York Times: as tropas israelenses foram responsáveis pelos tiros, e depois enterraram os mortos numa vala comum.

“É inconcebível que um acontecimento tão grave não seja investigado, chegando a conclusões práticas”, acrescentou a carta de 360 subscritores. “Estamos comprometidos com a ética médica e acreditamos na santidade da vida para todas as pessoas como um valor supremo, tanto na paz quanto na guerra. ”

Desde o início da guerra, há 551 dias, várias denúncias de violação de leis durante combates foram recebidas pelo exército israelense, mas não há notícias de que algum soldado ou oficial tenha sido preso.

Mas a guerra continua. Só nesta quarta-feira, a aviação atingiu um prédio residencial de quatro andares em Shejaiya, ao norte de Gaza, para matar um “terrorista sênior”, não identificado. O resultado: 29 mortos, entre eles oito crianças. Um sobrevivente, Ayub Salim, contou, à agência de notícias France Presse, que a área estava superlotada de tendas com pessoas deslocadas de suas casas já várias vezes.

“Um massacre horrível”, acrescentou. Os socorristas não tinham equipamentos pesados para mover os escombros e retirar quem ainda estivesse vivo.

Desde que Israel rompeu o cessar-fogo, em 18 de março, porque não quis cumprir a sua segunda e terceira partes, que o obrigavam a se retirar totalmente de Gaza, e ao Hamas, libertar todos os reféns, 1.482 palestinos foram acrescentados aos 50.846 mortos desde o início da guerra. Para Israel, pelo menos 20 mil dessa lista são combatentes que o Ministério da Saúde palestino não distingue dos civis, mulheres e crianças. Dos que atacaram Israel em outubro de 2023, matando 1.200 pessoas, 1.482 não voltaram para Gaza, mortos no contra-ataque israelense.

Os combates homem a homem em Gaza quase não ocorrem mais, com a frequência inicial, segundo Israel. Mas a aviação está ativa: na terça-feira, os bombardeios mataram 45 pessoas. E até o meio-dia, hoje, mais 29, pelos números fornecidos até o começo da tarde.

O porta-voz militar israelense diz que as tropas tomam “inúmeras medidas” para minimizar danos civis, como vigilância aérea, armas precisas e outros recursos de “inteligência”. Também pedem que saíam quem estiver num de seus alvos. O jornal New York Times revelou que “os militares israelenses relaxaram as regras que limitam quantos civis podem pôr em risco em cada ataque aéreo”. E cita especialistas em direito internacional que lembram que “Israel tem obrigação de proteger civis”.

O presidente Donald Trump parou de falar sobre seu plano de tornar Gaza uma Riviera do Oriente Médio, esvaziada de seus 2 milhões de habitantes. O primeiro-ministro Netanyahu, no entanto, continua a contemplar a ideia, que diz ser “boa”. E tem mandado emissários sondar países africanos que topariam receber os refugiados palestinos. Enquanto isso, ele explica, pressiona o Hamas, com bombardeios, para resgatar 59 reféns ainda em Gaza, dos quais 24 estariam vivos, e ampliar a zona tampão, ao longo da fronteira. “Grandes conquistas”, comentou hoje o ministro da Defesa, Israel Katz. As negociações em Doha e no Cairo estão paralisadas, em impasse.

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