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Em acareação, Mauro Cid confirma delação premiada que incrimina Braga Netto

Questionados por Alexandre de Moraes, ambos mantiveram suas versões inalteradas
Foto: Rosinei Coutinho/STF/Reprodução

O tenente-coronel Mauro Cid confirmou nesta terça-feira (24) tudo o que disse na delação premiada sobre a tentativa de golpe de Estado. Em acareação conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal sobre a trama golpista, Cid e o general Braga Netto ficaram frente a frente por mais de 1h30 nesta manhã. 

O procedimento, que buscou esclarecer contradições entre as versões apresentadas nos depoimentos dos réus, foi realizado a pedido da defesa do ex-ministro da Defesa e da Casa Civil do governo de Jair Bolsonaro. Braga Netto acusa o antigo ajudante de ordens do ex-presidente de mentir em suas declarações. 

No Supremo Tribunal Federal (STF), Mauro Cid reafirmou que recebeu do general uma sacola com dinheiro em espécie no Palácio da Alvorada, em Brasília (DF). Segundo o tenente-coronel, o dinheiro estava em uma embalagem de vinho lacrada. Cid disse ter presumido que havia uma grande quantia pelo peso do pacote, já que não viu o conteúdo. 

O militar alegou que não mencionou o episódio em seu primeiro depoimento porque estava abalado com a prisão de colegas. Ele também afirmou que não se lembra do local exato dentro do Palácio onde recebeu a embalagem, mas citou três possibilidades: a garagem privativa, a sala da ajudância de ordens ou o estacionamento ao lado da piscina. 

Braga Netto negou que tenha feito qualquer entrega de valores. Segundo o general, em conversa com Cid no Alvorada, o tenente-coronel mencionou a necessidade de obter recursos junto ao Partido Liberal (PL). O ex-ministro disse que apenas encaminhou a solicitação ao partido, mas que o pedido foi recusado. 

A contradição entre os dois réus permanece, tendo em vista que Cid reafirmou que Braga Netto lhe disse que conseguiria a quantia por meios alternativos e que, posteriormente, entregou o dinheiro na residência presidencial. 

Em outro momento de seus depoimentos à Polícia Federal (PF), Mauro Cid disse que um plano para monitorar e assassinar autoridades, denominado “Punhal Verde e Amarelo”, foi discutido na casa do general. Braga Netto nega as acusações e diz que o encontro foi inesperado e nenhum tipo de ruptura foi discutido. 

Apesar da audiência ter sido fechada, por determinação de Moraes, o STF publicou a ata da acareação. Puderam acompanhar a audiência os advogados dos depoentes, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, autor da denúncia sobre a tentativa de golpe, o ministro Luiz Fux, como integrante da Primeira Turma, e a defesa de outros seis réus, entre eles a do ex-presidente Jair Bolsonaro. 

Durante o procedimento, a defesa de Braga Netto solicitou que a acareação fosse gravada, mas o ministro Alexandre de Moraes vetou o pedido. O relator afirmou que a providência visou evitar pressões indevidas e vazamentos de informações que possam comprometer a ação penal. 

Braga Netto está preso desde dezembro do ano passado sob a acusação de obstruir a investigação sobre a tentativa de golpe de Estado e tentar obter detalhes dos depoimentos da delação de Cid. 

Logo em seguida à acareação de Mauro Cid e Braga Netto, ocorreu uma segunda, entre o ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro, Anderson Torres, e o então comandante do Exército, general Freire Gomes. O primeiro faz parte do chamado “núcleo crucial”, apontado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), e o segundo é uma das principais testemunhas do processo. 

A defesa de Torres solicitou a acareação sob a justificativa de esclarecer pontos apontados como essenciais do depoimento de Freire Gomes. A audiência durou cerca de uma hora.

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