Com a proximidade do final do ano e a tradição em nossa cultura de reencontro com amigos e parentes nessa época, podem surgir situações e contextos sociais nos quais estaremos diante de alguém que nos causou ressentimento.
Escrever sobre esse sentimento provoca reflexões sobre possíveis mágoas e vivências do passado que me fazem sentir ressentimento também. Afinal, quem nunca se deparou com esse sentimento, até mesmo em idade muito precoce?
O ressentimento é uma emoção complexa que geralmente surge quando uma pessoa percebe que foi tratada de forma injusta ou desrespeitosa. Trata-se de uma mistura de raiva, tristeza e decepção.
A origem desse sentimento pode estar em expectativas não atendidas, que criamos em relação a algumas pessoas ou instituições. Sentir essa emoção pode ser uma forma de desenvolver resiliência e educação emocional. Por exemplo, quando uma criança percebe que os pais não são super-heróis e que não podem dar tudo o que ela quer, ou quando se compara com os pares, a frustração e o ressentimento podem surgir.
Nesse caso, os pais devem abrir um espaço de diálogo em que a criança manifeste o que está sentindo, aproveitando o momento para ensinar sobre expectativas e a importância de lidar com a frustração e o ressentimento que surgem quando essas não são atendidas.
O ressentimento, na dose certa, contribui para o processo de amadurecimento e educação emocional.
Dificuldade em lidar com o ressentimento
Entretanto, algumas pessoas, desde a infância, têm dificuldade de lidar com frustrações e ressentimentos. Reagem de forma desproporcional e possuem dificuldade significativa para refletir e aceitar essas emoções negativas. Características de temperamento, possíveis transtornos associados e contextos de educação familiar podem influenciar na capacidade de lidar com o ressentimento.
Mesmo na fase adulta, por que algumas pessoas tendem a sentir mais ressentimento do que outras?
- Vivências do passado: contextos em que a pessoa se sentia inferiorizada podem influenciar suas crenças e formas de se relacionar, prejudicando relacionamentos pessoais e sociais.
- Transtornos mentais: condições como transtorno depressivo podem favorecer pensamentos ruminantes e obsessivos, que são alimentados pelo ressentimento em relação a alguém ou a algum fato.
Por que é importante lidar com o ressentimento?
Além de prejudicar relações pessoais e profissionais, a ciência já demonstra que pensamentos negativos podem favorecer o envelhecimento precoce e o desenvolvimento de doenças.
A pesquisadora Elisabeth Blackburn e sua equipe, vencedores do Prêmio Nobel em Fisiologia e Medicina, demonstraram que pensamentos negativos podem encurtar os telômeros – estruturas presentes nas pontas dos cromossomos, que protegem nosso DNA e impedem o envelhecimento e o surgimento de doenças crônicas.
Para preservar os telômeros, é importante cultivar boas relações, manter pensamentos positivos, cuidar do sono, da alimentação, praticar atividade física e, se necessário, usar suplementos.
Como lidar com o ressentimento?
- Autorreflexão: identifique as verdadeiras causas do ressentimento e considere se são baseadas em percepções precisas ou distorcidas.
- Comunicação aberta: expressar sentimentos e preocupações de forma clara e respeitosa pode ajudar a resolver conflitos subjacentes. Quando não for possível se comunicar diretamente com a pessoa que causou o ressentimento, escrever e desabafar consigo mesmo pode ser útil.
- Prática do perdão: embora desafiador, o perdão é uma ferramenta poderosa para liberar o ressentimento e promover a cura emocional.
- Mudança de perspectiva: tente ver a situação de diferentes ângulos para reduzir a intensidade do ressentimento.
Se você está lidando com ressentimento, buscar apoio emocional ou conversar com um profissional pode ajudar a explorar e resolver esses sentimentos de maneira saudável.
Dra. Gianna Guiotti Testa – CRM DF 15231 RQE 13093
Psiquiatra