Como não diria Donald Trump, mas ele o disse, por mais contraditório que possa ser com o que ele defende: “Você se forma em uma faculdade, e deveria obter, automaticamente, como parte de seu diploma, um visto de residência permanente nos Estados Unidos (um green card)” A revista global The Economist usa a frase de Trump para concluir que, “mesmo um político nativista compreende, em algum nível, que estrangeiros altamente qualificados podem ser úteis”. Daí a sua capa desta semana sobre a competição de países pelo talento de estrangeiros.
Quarto de empregada, o passado
racista do Brasil, no New York Times
[13:22, 15/08/2024] Moisés Rabinovici: Uma longa reportagem no jornal New York Times aborda o passado racista do Brasil a partir dos pequenos quartos de empregada, atrás da cozinha de um apartamento à beira-mar no Rio de Janeiro (as fotos são de prédios em Copacabana e muitas das personagens, cariocas).
Escreve a repórter Ana Ionova: “Os quartos das empregadas domésticas têm sido uma presença constante nas casas do Brasil por gerações, um vestígio de sua longa história de escravidão e um marcador tangível de desigualdade em um país onde, após a abolição, muitas famílias ricas dependiam de trabalhadores domésticos de baixa remuneração, em sua maioria negros, para limpar, cozinhar e cuidar das crianças.”
Num quarto de empregada muitas vezes dormiam mãe e mais de um filho, entre estoque de produtos de limpeza e aparelhos domésticos quebrados. Hoje, com 49 anos, professora de geografia, Ana Beatriz da Silva morou com irmão e a mãe num desses quartinhos até os 6 anos: “O quarto de empregada é nossa herança colonial” — ela diz.
A repórter Ianova observa: “O Brasil está passando por um acerto de contas com seu legado de escravização e com a forma como este passado doloroso moldou tudo, desde a economia à arquitetura. O debate estendeu-se ao quarto da empregada, que muitos consideram uma relíquia racista e classista, sem lugar nas casas modernas”.
A professora Ana Beatriz da Silva “vê o desaparecimento do quarto de empregada como uma prova de que o Brasil está lidando com seu passado doloroso”. Quando ela deu a entrada de sua primeira casa este ano, ficou feliz ao descobrir que não havia quarto de empregada. “É libertador não ter essa história pesada”, disse ela. “Em vez disso, terei uma cozinha muito grande”.
A “última chance” para Gaza ganha mais um dia no Catar
A negociação da “última chance” para um cessar-fogo em Gaza, com a libertação de mais de 100 reféns em troca de centenas de prisioneiros palestinos, teve “um começo promissor” nesta quinta-feira, segundo os EUA, e deverá prosseguir mais um dia no Catar.
À margem do encontro em Doha, porém, as notícias não são “promissoras”: (1) o número de mortos nos 315 dias de guerra já ultrapassou os 40 mil, no balanço do Ministério da Saúde do Hamas, enquanto morreram mais de 600 soldados israelenses, além de 1.200 civis, desde o ataque a Israel em 7 de outubro de 2023. (2) colonos judeus mascarados atacaram a cidade de Jit, na Cisjordânia ocupada, e deixaram um morto e casas e carros queimando; e (3) o Ministério da Defesa controlado pelo ministro de extrema direita Bezalel Smotrich anunciou uma nova colônia a sudoeste de Jerusalém, numa área designada Patrimônio Mundial da UNESCO.
A pressão é grande sobre os negociadores no Catar. Familiares dos reféns avisaram aos enviados israelenses que não voltem se não alcançarem um acordo. As ameaças de retaliação do Irã e do Hezbollah pairam no ar, ameaçando uma guerra regional, se as conversações da “última chance” fracassarem. O porta-voz da Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, explicou em Washington que ainda há muito trabalho a fazer depois do “começo promissor” em que “algumas lacunas foram preenchidas”. Otimista, ele acrescentou: “Os obstáculos restantes podem ser superados e devemos encerrar este processo”.
O Hamas não participou da reunião, mas ele nunca participou das reuniões desde a primeira delas. Sua delegação, permanente em Doha, é informada depois de cada sessão pelo Egito ou Catar, e atualiza a liderança em Gaza. O acordo, em três fases, é o mesmo desde abril. Iniciado por Israel, anunciado pela Casa Branca, foi emendado e aceito pelo Hamas, mas Israel recusou as emendas. Os dois impasses principais estão no corredor de Gaza que faz fronteira com o Egito, que Israel quer controlar para impedir contrabando de armamento, e na volta para o norte dos palestinos deslocados para o sul, que os israelenses querem revistar para que não levem armas.
O Hamas disse que se engajará nas negociações se Israel fizer uma proposta “séria” em linha com as exigências anteriores do grupo. E Israel o contradiz, afirmando que não acrescentou nenhuma nova exigência ao rascunho do acordo em discussão.
Os participantes das negociações são quase todos espiões: pelos EUA, o diretor da CIA, Bill Burns; pelo Egito, o chefe de sua inteligência, Abbas Kamel; por Israel, o chefe do Mossad, David Barnea, o chefe do Shin Bet, Ronen Bar, o major-general da reserva Nitzan Alon e o principal conselheiro do primeiro-ministro Netanyahu, Ophir Falk. O Catar é representado pelo seu primeiro-ministro, sheik Mohammed bin Abdulrahman Al Thani.